O empreendedor Alexandre Messina fundou a startup Pedala, em 2015, com o objetivo de fazer entregas rápidas de forma sustentável. Mas foi só quatro anos depois que ele conseguiu um grande contrato com a Americanas, que permitiu triplicar as entregas diárias.
A parceria foi o primeiro passo para que a Americanas comprasse a Pedala em dezembro de 2019. Agora, do outro do lado do balcão, Messina é o responsável pelo primeiro fundo de corporate venture capital (CVC) que a Americanas está anunciando ao mercado nesta sexta-feira, 1º de abril, com a meta de investir em até 20 startups neste ano.
“O objetivo é encontrar, investir, acelerar e conectar as principais startups do Brasil ao Universo Americanas”, disse Messina, com exclusividade ao NeoFeed.
O fundo será gerido pela IF, o braço de inovação da Americanas, que criou a fintech Ame Digital e é responsável por todas as operações de M&A da varejista. Atualmente avaliada em R$ 30,2 bilhões, a companhia acabou de unificar as operações digitais (Submarino, Americanas.com e Shoptime) com as lojas físicas.
A Americanas não divulga o valor que terá reservado ao fundo de CVC. Mas o objetivo é investir em startups em rodadas pré-seed, seed e até mesmo, em alguns casos, série A. Em 2021, esses estágios tiveram captações média de US$ 221 mil, US$ 359 mil e US$ 1,6 milhão no Brasil, respectivamente, segundo dados do Distrito, ecossistema independente de startups.
A varejista se diz agnóstica nos setores que vai investir, mas busca startups que tenham alguma conexão com a Americanas nas lojas físicas e no digital e em áreas como fintechs, advertising e logística. Elas devem faturar ao menos R$ 10 mil por mês e já ter um produto testado.
O objetivo é que possam prestar serviços à Americanas, escalando seus negócios. “Em dois anos, queremos multiplicar por 10 vezes o faturamento da startup”, diz Messina, que é head de operações da IF.
A onda dos CVCs
A Americanas é a mais recente companhia a anunciar o seu corporate venture capital, passando a fazer parte de uma lista de empresas que não para de crescer. Os nomes incluem Ambev, Itaú, Multilaser, Dexco, Arezzo, Renner e Eurofarma, entre muitas outras que querem se aproximar de startups.
Fundos especializados atraem também empresas interessadas em suas teses. A Terracota Ventures, focada em proptechs e construtechs, tem como cotista Gerdau, Cyrela e Vedacit. A MSW Capital gere o fundo de R$ 200 milhões do Banco do Brasil, além de administrar o BR Startups, que tem BV, Algar, Microsoft e BB Seguros como investidores.
“As empresas estão enxergando cada vez mais a importância de uma estratégia de equity bem feita para trazer inovação em diferentes estágios dentro da companhia”, diz Diego Ranciaro, sócio do Distrito. “Isso é extremamente eficiente e gera resultados.”
Apesar disso, o corporate venture capital só agora começa a escalar no Brasil. No ano passado, os aportes de CVC somaram US$ 622 milhões, o triplo de 2020, de acordo com o Distrito. Foram 162 rodadas de investimentos (212, contando aquelas que não tiveram os seus valores divulgados). No mundo, o CVC movimentou US$ 78,7 bilhões em 2099 aportes, segundo a consultoria americana CB Insights.
Esse avanço no Brasil está relacionado com a pandemia do novo coronavírus, que acelerou as iniciativas digitais das empresas. Ao realizar investimentos em startups, as corporações se aproximam das principais inovações do setor. “Quando as empresas olham para o CVC, elas pensam em testar, experimentar e estar à frente de novas tecnologia do mercado”, afirma Ranciaro.
Outra razão para investir em startups através de CVCs é a atração de talentos, aproximando-se de jovens empreendedores que estão inovando em seus mercados. E, por fim, como se trata de um investimento, um dos objetivos é obter um retorno financeiro – muitas vezes, essas startups acabam sendo compradas pelas próprias empresas.
O funil da Americanas
Esses motivos fazem parte do combo pelo qual a Americanas resolveu criar o seu próprio CVC. Agora, a companhia começa a correr atrás das startups – o processo envolve busca ativa e passiva (o site da IF terá um link para as empresas que queiram se inscrever).
A seleção contará com um algoritmo que fará análise quantitativa e qualitativa. Ao passar por esse funil, uma equipe da área de corporate venture capital da Americanas entra em ação para conhecer mais o negócio.
Por fim, as empresas escolhidas vão para um pitch day com o C-Level da Americanas – o primeiro deve acontecer em abril. Se passarem por esta última “prova” ganham o aporte, que pode ser feito em conjunto com outros fundos de venture capital do mercado brasileiro.
Com o fundo de corporate venture capital, a IF (sigla que significa Inovação e Futuro) adiciona mais uma tarefa à sua missão. Criado em 2018, o braço de inovação da Americanas nasceu para incentivar o uso de novas tecnologias.
Para cumprir essa missão, a IF vai desde criar negócios do zero, no estilo de uma venture builder, até comprar outras empresas. No primeiro caso, o exemplo mais emblemático (citado no começo essa reportagem) é a fintech Ame Digital, que atingiu R$ 26 bilhões em TPV (sigla para ‘volume total de pagamentos’) e superou a marca de 1,3 milhão de cartões de crédito emitidos em 2021.
Em relação aos M&As, a IF esteve envolvida em 10 transações entre 2020 e 2021. São desde negócios gigantes, como a compra do grupo Uni.co, dono das redes Imaginarium e Puket, até o Hortifruti Natural da Terra, por R$ 2,1 bilhões.
Mas a IF também fez diversas compras de startups, como o Supermercado Now, a plataforma de open banking Bit Capital, o serviço de banking as a service Parati, a startup de delivery Shipp e a empresa que fornece crédito P2P Nexoos.
Agora, além de criar empresas e comprar, a IF vai ser sócia minoritária das startups. Se tudo der certo, o final da história pode ser parecido com o da Pedala, de Messina, e terminar em um M&A.