Há exatamente uma semana, quando superou a marca de 200 mil alunos, a Ser Educacional divulgou um plano de investimentos de R$ 150 milhões em educação digital para 2021. Dentro desse montante, a empresa destacou que R$ 100 milhões seriam destinados a aquisições de edtechs.

Sete dias depois, o grupo pernambucano, avaliado em R$ 2,06 bilhões e dono de marcas como Uninassau, Univeritas e Uninabuco, está iniciando esse movimento com a compra da Beduka. Fundada em 2017, a startup mineira auxilia alunos na escolha dos cursos e instituições de ensino superior.

A edtech criou uma plataforma que reúne testes vocacionais, conteúdos, planos de estudo e simulados do ENEM. Além de um buscador que permite pesquisar cursos e instituições, públicas e particulares, por meio de filtros como valor da mensalidade, bolsas disponíveis, nota do MEC e opiniões de estudantes.

“O que pesou muito na decisão foi o fato de ser um portal com mais de 1 milhão de usuários únicos mensais”, diz Jânyo Diniz, CEO da Ser Educacional, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “E a empresa chegou a esse volume com um crescimento orgânico, sem gastar praticamente nenhum centavo.”

Como parte do acordo, cujos termos financeiros não foram revelados, a dupla de fundadores por trás da Beduka, formada por Willian Waladão e Julian Anderson, seguirá na operação. “Agora, com a força que teremos inseridos na Ser, podemos ir ainda mais longe do que planejamos”, afirma Waladão.

A aquisição chega pouco mais de um mês depois de a Ser ver sua oferta inicial de R$ 4 bilhões pelos ativos locais da americana Laureate ser superada por uma proposta da Ânima. Com a transação, a rede pernambucana se tornaria o quarto maior grupo de ensino superior do País, com 450 mil alunos.

No fim de outubro, a Ser desistiu da disputa e chegou a um acordo em que poderá receber uma multa de R$ 180 milhões, prevista caso a Laureate desistisse do negócio, ou comprar, pelo mesmo valor, a Faculdade Internacional da Paraíba (FPB) e o Centro Universitário Guararapes.

Os termos preveem ainda a preferência na compra de outras três instituições da Laureate: a UniRitter e a Fadergs, de Porto Alegre, e o IBMR, do Rio de Janeiro. A opção pode ser exercida até o fim do mês, com uma janela de prorrogação de 15 dias. “Devemos caminhar para alguns desses ativos”, diz Diniz.

Esse não é, porém, o único caminho da Ser para encorpar sua base de alunos. Outra via é um projeto que vem sendo arquitetado há dois anos e cujo objetivo é construir um ecossistema digital de ofertas educacionais, que reúne desde cursos regulados, de graduação e pós-graduação, até cursos livres.

“A Beduka vai ser plugada nesse ecossistema”, conta Diniz. “E com sua capacidade de gerar tráfego, a ideia é atrair clientes para os nossos outros produtos.” É o caso do GoKursos, marketplace lançado pela Ser em abril e que reúne mais de mil cursos online de educação continuada produzidos pelo grupo.

Como parte dessa conexão, a plataforma da startup também será turbinada por iniciativas da Ser. Além de cursos e conteúdos, a Beduka irá incorporar recursos como o Super Bolsas, programa que oferece descontos e bolsas de estudo em diversas instituições, incluindo as que não integram a rede da Ser.

A Beduka irá incorporar recursos como o Super Bolsas, programa que oferece descontos e bolsas de estudo em diversas instituições

Ao ampliar o potencial de atração tanto dessa ferramenta como de outros componentes desse ecossistema, a Ser também já prepara a abertura para a oferta de conteúdos de terceiros no GoKursos. Além de outras empresas, essa equação passa por materiais produzidos por professores da rede.

Joaldo Diniz, diretor de inovação e serviços da Ser, destaca que a Beduka é o ponto de partida para uma agenda de aquisições. “Estamos olhando desde startups e empresas com tecnologias que agreguem o digital e o presencial até produtos e conteúdos pré-formatados, com uma boa base de usuários.”

Transição dolorosa

Os pilares da guinada digital da Ser incluem ainda iniciativas como a Overdrives, aceleradora do grupo instalada em Recife (PE) e que está com seu quarto ciclo de aceleração em andamento. Esse processo poderá incluir desde investimentos até parcerias com as cinco novatas selecionadas.

“Aquele mundo do campus físico, da sala de aula, da carteira e do concreto não vai funcionar mais”, diz Carlos Monteiro, sócio da consultoria de educação CM. Ele ressalta que todos os grandes grupos do setor estão buscando a aproximação com startups para se adaptarem a essa nova realidade.

“Mas essa transição é dolorosa. A Kroton foi uma das primeiras a seguir essa trilha e está penando na pandemia”, afirma. Monteiro. “O fato é que todos estão tateando, mas ninguém descobriu a pólvora. Até mesmo porque ninguém sabe qual será o novo normal na educação.”

Na busca por essas respostas, a Ser já tomou uma decisão. “A partir de 2021, não teremos mais produtos puramente presenciais”, afirma Jânyo Diniz. “Vamos entregar ofertas híbridas, mas o ensino a distância tem um potencial de crescimento muito maior.”

O resultado da Ser no terceiro trimestre traz um retrato dessa tendência. O grupo fechou o período com a captação de 41,1 mil alunos, alta de 12% na comparação anual. O destaque ficou com o salto de 52% no segmento de EAD, responsável pelas matrículas de 28,4 mil estudantes.

No terceiro trimestre, a Ser captou 28,4 mil alunos no EAD, alta de 52% sobre um ano antes

O balanço refletiu, no entanto, o impacto da Covid-19. A Ser apurou um prejuízo de R$ 27,9 milhões, contra o lucro de R$ 23,8 milhões, um ano antes. A receita líquida caiu 6,7%, para R$ 269,5 milhões. Da mesma forma, as ações da empresa acumulam uma queda próxima de 42% no ano.

Em 2021, a companhia planeja abrir 50 polos de EAD. O que não significa que o investimento em unidades que vão além desse modelo está fora do escopo. Para o ano, a projeção é inaugurar, a princípio, quatro campi.

“Serão unidades menores, para atender o híbrido e o EAD”, diz Diniz. Ele ressalta que a Ser segue avaliando reduções em sua rede, um processo iniciado em 2018 e que encontra paralelos em iniciativas recentes da Kroton, maior grupo do setor. “Não acreditamos mais em campi para 40 mil alunos.”

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