O risco de sangria desatada nos mercados pela perspectiva de atuação mais pesada dos bancos centrais na calibragem dos juros, ante à inflação renitente mundo afora, não se confirma.

O Banco Central Europeu (BCE) quebrou o jejum de mais de uma década e, na semana passada, subiu sua taxa acima do esperado renovando sua determinação em combater a inflação.

O Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, não cedeu à sinalização de analistas de que poderia elevar o juro em 1 ponto percentual e anunciou, nesta quarta-feira, 27 de julho, o segundo aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual, elevando o intervalo de sua taxa básica para 2,25%-2,50%.

Na semana que vem é a vez do Banco Central do Brasil. Analistas esperam alta de 0,50 ponto na Selic, para 13,75%. Não há consenso sobre a interrupção do processo. Mas o aperto monetário pode subir no telhado com a redução dos preços de combustíveis e energia que puxa a inflação para baixo.

A redução de ICMS sobre os combustíveis e energia levou o Itaú Unibanco a projetar deflação de - 0,67% em julho e - 0,25 em agosto. Para setembro, a estimativa é de variação positiva de 0,49%. Para 2022, o Itaú prevê IPCA de 7,2%.

“A decisão do Fed trouxe alívio aos mercados, inclusive, porque o comunicado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, da sigla em inglês) afirmou que os indicadores recentes de gastos e produção têm suavizado”, afirmou ao NeoFeed, Roberto Attuch Jr, CEO da Ohmresearch, marketplace de análise de investimentos independente com analistas baseados nos EUA, Europa, China, Singapura e México.

Attuch diz que o mercado também gostou de o Fed ter sinalizado alta menor do juro para a próxima reunião de política monetária, em setembro. E relata que após a decisão desta quarta, o mercado tenta identificar na fala de Jerome Powell, presidente do Fed, alguma indicação de que a inflação já chegou ao pico. A inflação anualizada em junho atingiu 9,1%.

“Mas Powell afirmou que a instituição vai esperar nova leva de indicadores para ver o que fazer. O dólar rapidamente caiu após a decisão do Fed e o movimento é muito bem-vindo”, afirma Attuch.

O economista lembra que sendo o dólar a moeda do mundo, através da qual se faz todas as transações, é positivo que enfraqueça em relação às demais moedas. “Dólar forte pode provocar crises de balanço de pagamentos em países emergentes”, pondera.

Quanto à perspectiva para juro americano no fim do atual ciclo de alta, Attuch considera que pode rondar 3,25% e vislumbra reduções da taxa em 2023.

O Fed promoveu o quarto aumento seguido do juro neste ano. Este último ajuste ocorre na véspera da divulgação da estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no 2º trimestre. O dado sai nesta quinta-feira, 28 de julho, e deve ser negativo. No 1º trimestre, a economia americana recuou -1,6%. Se confirmado o segundo trimestre negativo, os EUA estão em recessão técnica.

Attuch pondera que a recessão observada no 1º trimestre foi uma “tecnicalidade” porque o consumo estava forte e a queda no resultado refletiu o desempenho das importações. De todo modo, o PIB para baixo no 2º trimestre poderá reforçar a ideia de que o Fed não vai pesar a mão nos próximos ajustes da taxa de juro, contribuindo para uma aterrissagem suave da atividade.

Os principais índices acionários americanos saltaram após a reunião do Fed. A caminho do fechamento, o S&P 500 avançava 2,7%, o Dow Jones 1,42% e o Nasdaq mais de 4%.