Em junho do ano passado, a MadeiraMadeira abriu sua temporada de aquisições ao comprar a iTrack Brasil, desenvolvedora de um software para rastreamento e roteirização de entregas.

Agora, o plano da varejista de móveis e artigos de decoração quer olhar mais de perto o que acontece quando o produto não está mais em rota de entrega, mas efetivamente chegando a casa do consumidor.

Nesta terça-feira, 12 de abril, a MadeiraMadeira anunciou sua segunda aquisição com a compra da operação brasileira da IguanaFix, startup que oferece uma plataforma para a contratação de profissionais autônomos que realizam serviços para casa, como reformas, pinturas e, principalmente, montagem de móveis. Em troca, fica com um percentual do serviço.

“O mercado de móveis é muito fragmentado e funciona de forma quase rudimentar, com as lojas indicando profissionais para a montagem dos móveis”, diz Carlos Eduardo Baron, CFO da MadeiraMadeira ao NeoFeed. De acordo com ele, a busca por uma solução que mudasse este modelo começou ainda no ano passado.

Fundada em 2013 na Argentina por Andres Bernasconi e Matias Recchia, a startup tem operações no México, além do Brasil. A principal rival é a GetNinjas, que abriu capital ano passado e vale pouco mais de R$ 203 milhões.

Em pouco menos de uma década de operação, a startup já captou mais de US$ 20 milhões em aportes de investidores como Qualcomm Ventures e Temasek Holdings.

Em 2019, a startup argentina teve parte de sua operação comprada pela Stanley Black & Decker, companhia americana que fabrica ferramentas industriais e domésticas. Os valores da transação não foram revelados.

Com valor mantido em sigilo, o negócio com a MadeiraMadeira envolve a compra apenas da operação brasileira da IguanaFix. Por aqui são cerca de 30 mil profissionais cadastrados e uma média de 40 mil atendimentos realizados por mês. A tendência, no entanto, é de que este número diminua.

Isso deve acontecer porque a IguanaFix vai operar de forma exclusiva para os clientes da MadeiraMadeira. A principal mudança é que agora não será mais possível contratar encanadores e eletricistas, por exemplo, tornando a operação restrita aos serviços de montagem de móveis comprados exclusivamente na MadeiraMadeira.

Ainda não está claro como o serviço vai funcionar dentro da varejista. Sabe-se que será possível realizar a contratação de montadores em qualquer momento após a compra – desde que o consumidor não tenha tentado montar o móvel por conta própria antes de buscar um profissional.

Antes de realizar a aquisição a MadeiraMadeira trabalhou em conjunto com a IguanaFix em um projeto-piloto com duração de três meses. Durante este tempo, a solução foi ofertada em 12 lojas físicas da varejista. Foram cerca de mil montagens realizadas no período.

Inicialmente o serviço passa a ser realizado somente em São Paulo e deve ser expandido aos poucos para a região metropolitana do estado e, posteriormente, para outras regiões do País. “Em até dois anos, a gente deve conseguir cobrir a maior parte do Brasil”, diz Baron.

Além do e-commerce

A MadeiraMadeira faz parte do grupo de empresas que, durante a pandemia, aumentou consideravelmente seus negócios. Não apenas pela explosão do e-commerce, o principal veículo de vendas da startup de móveis, mas também pelo direcionamento dos gastos dos consumidores para móveis e artigos de decoração.

O problema é que o setor vive um desaquecimento do consumo nos últimos meses. Dados do IBGE apontaram queda de 19,4% nas vendas de móveis durante o segundo semestre de 2021. "O horizonte do varejo neste ano é mais desafiador", diz Baron.

Nos últimos meses, a companhia vem acelerando o passo na direção da diversificação da operação ao criar outras fontes de receita além do e-commerce. Para a varejista, a aquisição da IguanaFix oferece a continuidade na meta de ser um one-stop-shop no setor de casa e decoração.

Carlos Eduardo Baron, CFO da MadeiraMadeira

Os esforços de diversificar a receita envolvem a abertura de lojas físicas, que já somam 114 espaços espalhados em mais 70 municípios brasileiros. A previsão é continuar abrindo novos estabelecimentos neste ano. “Faz sentido abrir mais lojas físicas porque é preciso aumentar o mercado endereçado e estar mais perto do consumidor”, diz Baron.

Outro movimento que deve continuar ganhando força está na expansão da linha de produtos próprios da MadeiraMadeira. Chamada de CabeCasa, a coleção contempla móveis como cama, guarda-roupa, cadeira, mesa, entre outros. O número de itens fabricados pela empresa aumentou de 100 para 1 mil no ano passado.

Por trás dos planos está o dinheiro dos investidores. Em janeiro do ano passado, a companhia captou US$ 190 milhões em um aporte liderado pelo Softbank. A injeção de capital transformou a empresa com sede em Curitiba em unicórnio, atingindo valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.

No ano passado, a companhia começou a ser apontada pelo mercado como uma das postulantes a abrir capital na bolsa. Isso, no entanto, não está no radar da empresa paranaense. “O IPO não é um plano de curto prazo”, diz Baron. Caso queira buscar dinheiro, uma captação no mercado privado não está descartada.

Uma das principais concorrentes da MadeiraMadeira, a Mobly já está no mercado aberto. A rival, no entanto, enfrenta um momento conturbado no mercado. Desde a abertura de capital na bolsa de valores brasileira, em março do ano passado, as ações já caíram quase 74%. A empresa tem valor de mercado de R$ 614 milhões.