Conhecido por antever a crise de 2008 e apostar contra a bolha imobiliária na época, Michael Burry também é famoso por seus comentários, em geral, “fora da curva” no Twitter sobre os mais variados temas ligados a investimentos e ao mercado de capitais.

Em março de 2021, em mais uma das demonstrações dessa faceta, o investidor americano afirmou categoricamente em uma série de tweets que a Volkswagen, dona de marcas como Bentley, Bugatti, Porsche e Lamborghini, superaria, em breve, a Tesla na “corrida dos carros elétricos”.

Nesta terça-feira, 28 de junho, passados 15 meses desde então, as palavras de Burry ecoaram nas declarações de Herbert Diess, o CEO global da Volkswagen, durante uma apresentação a funcionários da montadora alemã na sede da empresa, em Wolfsburg.

“Elon (Musk) deve expandir simultaneamente duas fábricas altamente complexas em Austin e Grünheide (cidade próxima de Berlim) e expandir a produção em Xangai. Isso lhe custará força”, disse Diess, que acrescentou:

“Temos que aproveitar essa oportunidade e recuperar o atraso rapidamente. Até 2025, podemos estar na liderança”, ressaltou o executivo, segundo o Financial Times. O otimismo e a confiança de Diess contrastam com as afirmações feitas por ele há um mês, em um evento promovido pelo jornal britânico.

Na época, Diess observou que não esperava que a Tesla, sua principal rival no mercado americano, fosse “tão rápida e bem preparada”. E destacou que, depois de constatar a evolução da concorrente, esperava uma “corrida acirrada” para chegar na dianteira do mercado de carros elétricos na próxima década.

As projeções das duas empresas dão um pouco da medida do estágio desse embate. A Volkswagen prevê vender cerca de 700 mil carros elétricos em todo o mundo em 2022. CEO da Tesla, Elon Musk, por sua vez, já indicou que a companhia seria capaz de entregar 1,5 milhão de veículos no mesmo período.

Entretanto, depois de contornar com mais rapidez que seus rivais a crise global na oferta de semicondutores, a Tesla passou a enfrentar, mais recentemente, uma série de problemas na produção de suas fábricas instaladas nos Estados Unidos, na Europa e na China.

Recentemente, em um evento, Musk chegou a afirmar que as fábricas da montadora no Texas e na Alemanha, que entraram em operação nesse ano, eram “fornos gigantes de dinheiro no momento”, em uma referência à perda de bilhões de dólares causada pelas dificuldades em garantir o fornecimento de peças.

Alguns dias após dar essa declaração, Musk ressaltou em um e-mail enviado a executivos da Tesla que tinha um “pressentimento muito ruim” em relação à economia, ordenou a suspensão de contratações e abriu a possibilidade de demitir 10% do quadro de funcionários da empresa.

Nesse contexto, Diess pontuou que a Tesla segue sendo a rival mais forte, mas está enfraquecendo. Em contrapartida, ele destacou que a Volkswagen voltou a operar em plena capacidade em sua unidade de carros elétricos, na cidade de Zwickau, na Alemanha, e também na China, após algumas paralisações temporárias na produção.

Nessa terça-feira, a Volkswagen também anunciou um aporte de US$ 450 milhões da Siemens na Electrify America, rede de recargas da montadora nos Estados Unidos. Com o investimento, a operação, que planeja ter 10 mil estações de carregamento até 2026, foi avaliada em US$ 2,45 bilhões.

Hoje, essa rede conta com 1,8 mil pontos de recarga no mercado americano. No total, o plano é ter 45 mil estações nos Estados Unidos, na Europa e na China, até 2025.

A iniciativa é mais um dos componentes da estratégia da montadora alemã na categoria. O plano é investir € 73 bilhões para produzir 130 carros elétricos e híbridos até 2030. Como parte desses esforços, nesta semana, o grupo anunciou ainda o ID.Aero, seu primeiro modelo sedã 100% elétrico.

Enquanto isso, na corrida do mercado de capitais, a Tesla segue, de longe, na dianteira. As ações da Volkswagen encerraram o pregão de hoje com alta de 1,40%. A empresa está avaliada em € 94,6 bilhões. A Tesla, por sua vez, vale atualmente US$ 726 bilhões.