Em abril deste ano, as ações da Natura &Co desabaram mais de 15% depois que a companhia fez reuniões com analistas abordando os resultados que estariam por vir. O plano era tentar evitar que as ações despencassem na divulgação do balanço do primeiro trimestre. O tiro saiu pela culatra. Os papeis caíram naquele dia e também nesta sexta-feira, 6 de maio, com reporte dos resultados até março.

Nesta sexta, as ações da Natura &Co registram queda superior a 3% na B3 e de quase 5% na  Bolsa de Nova York. Agora avaliada em menos de US$ 4,5 bilhões, a Natura &Co viu seu valor de mercado retrair quase 29% desde o começo do ano. Nos últimos doze meses, a desvalorização já ultrapassa 63%.

A âncora que tem puxado as ações para baixo atende pelo nome de guidance. Junto com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, a Natura divulgou um fato relevante em que informa que adiou a projeção da receita (entre R$ 47 bilhões e R$ 49 bilhões) e da alavancagem (1,0 Dívida Líquida/Ebitda) de 2023 para 2024.

Foi o segundo adiamento de guidance em um intervalo de poucos meses. Em novembro do ano passado, a empresa já havia informado que iria postergar as estimativas em relação à margem Ebitda consolidada (de 14% a 16%) de 2023 para 2024. Na época, a empresa manteve as projeções para receita e alavancagem para 2023.

Na teleconferência de resultados desta sexta-feira, os executivos do grupo trouxeram o cenário macroeconômico  e os impactos cambiais e da guerra entre Ucrânia e Rússia como justificativa para a nova revisão das estimativas. Da mesma forma, os indicadores reportados no primeiro trimestre de 2022 também sofreram com essas e outras questões.

“Nosso desempenho reflete mudanças intencionais em andamento na Avon, como a simplificação do portfólio e a implementação do novo modelo comercial", disse Roberto Marques, CEO da Natura &Co. "Assim como os impactos da guerra na Ucrânia e os efeitos remanescentes da pandemia de covid-19.”

No periodo, a Natura &Co reportou prejuízo líquido de R$ 643,1 milhões, alta de 314% ante a perda líquida de R$ 155,2 milhões entre janeiro e março do ano passado. A receita líquida caiu 12,7%, para R$ 8,2 bilhões no período. Já o Ebitda recuou 37,8% e somou R$ 515,7 milhões.

Outros números que valem ser destacados são relacionados às marcas Avon e The Body Shop fora do Brasil. A receita da Avon caiu 22,1% no exterior, para R$ 1,8 bilhão, enquanto a receita da The Body Shop registrou queda de 22,9%, para pouco mais de R$ 1 bilhão.

Segundo o grupo, a expectativa é de que os resultados comecem a apresentar uma melhora a partir da metade do ano.

“Estamos confiantes em relação à progressão da margem, que está alinhada com os fundamentos nos quais estamos fazendo projeções para o segundo semestre", afirmou Marques. "Vamos continuar tomando ações para consolidas as sinergias e explorar oportunidades.”

Em relatório, a XP analisou que a rentabilidade do período foi um dos principais destaques negativos do resultado por conta do aumento de custos de matéria-prima e frete e a desalavancagem operacional, principal na Avon e na The Body Shop.

Sobre o guidance, a XP informou que suas estimativas “já incorporaram uma perspectiva desafiadora, com uma receita líquida de 2023-24 em R$ 45 bilhões e R$ 48 bilhões, respectivamente.”

O Goldman Sachs foi na mesma linha ao informar que já estimava que o faturamento projetado pela Natura &Co em 2023 só seria alcançado no ano seguinte.

O banco americano colocou como fatores de risco uma possível canibalização entre Natura e Avon em regiões onde ambas operam, potenciais reinvestimentos de margem na operação da Avon para acelerar o turnaround da marca, a alta exposição ao canal tradicional de venda direta, além de outros riscos relacionados com a Avon.