Maior necessidade de compras de abastecimento, queda na renda, aumento do desemprego e a busca por preços mais baixos. A união desses fatores, fortalecida em quase dois anos de pandemia, acentuou o crescimento acelerado que o setor de atacarejo já vinha registrando antes da chegada da Covid-19.

Com o avanço da nova variante do vírus e as perspectivas de mais um ano difícil no cenário econômico abrem caminho para mais uma onda de expansão desse formato. Essa nova fase deve ser marcada, porém, por ajustes, o que pode fazer com que alguns dos players fiquem pelo caminho.

“Há cidades menores e periferias que têm um excesso de cash & carry”, disse Belmiro Gomes, CEO do Assaí, durante o Latin America Investment Conference, evento promovido pelo Credit Suisse. “Então, vai haver um movimento natural de consolidação do mercado, de alguns players que entraram no setor não conseguirem se manter, com um ajuste dessa aceleração que veio da pandemia.”

No painel realizado na noite desta quarta-feira, Roberto Butragueño, diretor de varejo da NielsenIQ, engrossou esse coro. “Nos últimos anos, muito varejista que não era especialista entrou nesse segmento para surfar essa onda”, disse.

Segundo Butragueño, dos cerca de 400 varejistas com os quais a NielsenIQ trabalha no País, mais de 70 já investem nesse formato atualmente. “E não sei se haverá espaço ou se todos terão escala suficiente para manter a concorrência com os grandes players”, observou.

Se há um excesso de oferta em periferias e municípios de menor porte, em outro lado da moeda, a dificuldade de entrar nos grandes centros e em regiões de maior adensamento foi apontada como um desafio para capturar o cenário favorável à expansão do segmento.

Gomes, do Assaí, destacou que esse foi o grande motivador da compra realizada pela rede, em outubro do ano passado, de 71 lojas do Extra Hiper, do GPA, por R$ 5,2 bilhões. Esse parque está distribuído em capitais ou cidades de grande porte, como Campinas, Santos e São José dos Campos.

“Foi um negócio muito assertivo, que vai nos permitir ter lojas onde, hoje, pelas barreiras do mercado imobiliário, é muito difícil entrar”, disse Gomes, que projetou a conversão de 40 a 45 dessas lojas em 2022. “Vamos ter um grande diferencial, pois estaremos em regiões com menor competição.”

Seja nos grandes centros ou em cidades menores e nas periferias, o fato é que, com a expansão do formato de atacarejo e sua maior penetração entre os consumidores pessoa física, de diferentes classes sociais, a proximidade com esse público cada vez mais será um ponto crucial para essas redes.

“Nos últimos anos, a conveniência figura entre os três atributos que esse consumidor está procurando”, ressaltou Butragueño, da NielsenIQ. “Com a falta de tempo, o aumento do preço dos combustíveis, não adianta ir no atacarejo com preço mais baixo se ele tiver que dirigir mais para chegar até lá.”

Além do Assaí, alguns movimentos recentes sinalizam que outros players estão de olho nesse cenário de consolidação. Em março do ano passado, por exemplo, o Carrefour Brasil anunciou um acordo de R$ 7,5 bilhões para a compra do Big (ex-Walmart).

Com a transação, que ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o grupo francês deve incorporar algumas bandeiras da operação, como a Maxxi, na rede do Atacadão, sua marca em atacarejo e a principal concorrente do Assaí no setor.

Em outro exemplo desse contexto, nesta semana, o Grupo Pereira, de Santa Catarina, fez sua primeira emissão de debêntures, no valor de R$ 300 milhões. Parte dessa cifra será destinada à expansão da Fort Atacadista, sua bandeira de atuação nesse formato.