Na contramão do que parecia improvável há alguns anos, os mercados de capitais e de criptomoedas estão mais próximos do que nunca. Na prova mais recente dessa conexão, a Blockchain.com, um dos maiores nomes dos ativos digitais, está avaliando uma possível abertura de capital.

Segundo a agência Bloomberg, a companhia britânica mantém conversas iniciais com alguns bancos para seguir esse percurso. As discussões tratam de uma oferta pública que poderia acontecer já nos próximos meses, mas com maior possibilidade de ser realizada em 2023.

De acordo com pessoas familiarizadas com esses planos, ainda não há uma definição se o IPO aconteceria na Bolsa de Londres ou em alguma bolsa de valores americana. Da mesma forma, não há um consenso em relação ao valor que seria buscado na oferta.

Uma das principais empresas de criptoativos do mercado, a Blockchain.com foi fundada em 2011, em Londres, por Benjamin Reeves, Nicolas Cary e Peter Smith. A companhia já recebeu mais de US$ 490 milhões em investimentos. Na última captação, em março deste ano, a operação foi avaliada em US$ 14 bilhões.

Dados de abril compilados pela consultoria Statista mostram que a empresa tem mais de 82 milhões de carteiras digitais cadastradas em sua plataforma. Há um ano, essa base incluía pouco mais de 72 milhões de carteiras registradas.

Caso concretize o seu plano, a Blockchain.com será a segunda plataforma de criptoativos a cruzar a fronteira do mercado de capitais. Quem desbravou esse espaço, há um ano, foi a americana Coinbase, por meio de uma listagem direta.

A Coinbase não fez feio em sua estreia. Durante o seu primeiro pregão na Nasdaq, as ações dispararam do preço fixado na oferta de US$ 250 para mais de US$ 429 e a empresa chegou a ser avaliada em quase US$ 100 bilhões, na época, mais do que Itaú e Bradesco juntos.

Entretanto, esse entusiasmo dos investidores perdeu fôlego nos meses seguintes.  Atualmente, a companhia vale US$ 39 bilhões e suas ações acumulam uma desvalorização de mais de 55% desde o IPO.

Esse recuo na cotação dos papéis está ligado, entre outros fatores, à perda de participação da plataforma e à ascensão de concorrentes no mercado de criptoativos. Em relatório destacado neste mês pela revista americana Barron's, o banco de investimentos Mizuno Securities apontou que a Coinbase caiu de uma fatia de 11% do volume de criptomoedas, em fevereiro, para 8%, em abril.

Entre os rivais que vem ganhando espaço nessa arena estão nomes que também podem realizar ofertas públicas em breve. Uma delas é a Binance. Recentemente, a companhia captou seu primeiro aporte, de US$ 200 milhões, junto a investidores como Circle Ventures e Foundation Capital, e foi avaliada em US$ 4,5 bilhões. Um dos próximos passos pode ser o mercado de capitais.

Em entrevista concedida em setembro do ano passado ao site americano The Information, Changpeng Zhao, CEO da Binance, afirmou que a companhia “vai fazer o que a Coinbase fez”, quando foi questionado sobre uma possível abertura de capital. Segundo Zhao, a previsão é de que isso aconteça num período de três anos, dependendo do crescimento do negócio.

Outra concorrente é a Kraken. Fundada em 2011 por Jesse Powell, a corretora americana já levantou mais de US$ 136 milhões em aportes e também enxerga a abertura de capital como uma alternativa para captar mais recursos.

“Um IPO parece um pouco mais atraente em comparação com uma listagem direta", disse Powell à revista americana Fortune em entrevista realizada em junho do ano passado.

No fim de março, a Kraken anunciou a chegada de Carrie Dolan para ocupar o cargo de CFO da operação. A executiva passou por cargos de liderança em empresas como Chevron e Charles Schwab. A contratação foi apontada no mercado como um indício de que a Kraken estaria intensificando os esforços rumo ao mercado de capitais.

No Brasil, a empresa que chegou mais perto de cruzar essa fronteira foi o Mercado Bitcoin, que chegou a cogitar um IPO no ano passado. O plano foi adiado quando a empresa optou por buscar investimentos no mercado privado, o que aconteceu em julho, com a captação de US$ 200 milhões em uma rodada liderada pelo Softbank, que avaliou a plataforma em US$ 2,1 bilhões.