Enquanto no Brasil os esforços das empresas para reforçar a campanha de vacinação contra o novo coronavírus ainda enfrentam barreiras antes de gerarem ações concretas, nos Estados Unidos, a parceria entre a iniciativa privada e o Estado começa a render frutos.

Uma série de grandes corporações está se aliando a governos locais e organizações de saúde para imunizar a população americana. Entre as gigantes que compraram a briga contra a Covid-19 estão Amazon, Walmart, Starbucks e Microsoft.

O novo coronavírus já matou mais de 420 mil americanos, o que coloca os Estados Unidos como o país mais afetado pela crise. Diante desse contexto, a força-tarefa contra a Covid-19 está ganhando fôlego depois de um começo turbulento da campanha de vacinação no país, iniciada em dezembro, ainda sob a gestão do republicano Donald Trump.

A má coordenação entre o governo federal e os estados levou a um desequilíbrio do processo, com algumas regiões experimentando escassez de materiais, enquanto outras corriam contra o tempo para não deixarem o prazo das vacinas expirar. 

Segundo o projeto "Our World in Data", ligado à Universidade de Oxford, 23,5 milhões de doses das vacinas já foram administradas nos EUA. Isso significa que cerca de 7% da população total de 328,2 milhões de americanos foi imunizada.

Dados de um levantamento da Bloomberg apontam, por sua vez, que 41,4 milhões de doses já foram distribuídas. De acordo com a agência de notícias, a média diária de vacinas aplicadas na última semana foi de 1,25 milhão. Nesse passo, Joe Biden conseguirá cumprir sua promessa de aplicar 100 milhões de doses em 100 dias.  

O reforço das empresas, no entanto, pode acelerar essa jornada. O Walmart, por exemplo, começou a oferecer nesta semana parte de sua estrutura para a campanha. A varejista informou que espera entregar entre 10 milhões e 13 milhões de doses por mês, por meio de suas farmácias, lojas e grandes eventos comunitários.  

"O Walmart tem alcance e profissionais qualificados e treinados para fazer parceria com organizações comunitárias a fim de fornecer serviços de vacinação em locais terceirizados como igrejas, estádios e centros juvenis”, disse a companhia, que destacou ainda outro fator. "Temos acesso a 150 milhões de pessoas que nos visitam semanalmente." 

O governador de Washington, Jay Inslee, também buscou parcerias com empresas como Starbucks, Microsoft e Costco. Nesse contexto, cada companhia tem uma função na campanha.

A Microsoft oferece “expertise e suporte em tecnologia”, enquanto a Costco ajuda na entrega, por meio de suas farmácias, e a Starbucks auxilia na “eficiência operacional, modelagem escalável e expertise em experiência do usuário", de acordo com uma mensagem divulgada pelo escritório de Inslee. Com esse apoio, o governador acredita que conseguirá entregar as vacinas "da forma mais eficiente e eficaz possível". 

Já a Amazon, em conjunto com um hospital de Seattle, vacinou 2,4 mil pessoas em um único dia, por meio de uma clínica no formato pop-up, montada no Amazon Meeting Center, palco de eventos promovido pela gigante comandada por Jeff Bezos. 

“Grandes varejistas estão em uma posição ideal para ajudar, porque seus negócios principais já são voltados a atender milhões de clientes todos os dias. Eles estão localizados em todo o país e têm redes nacionais de distribuição e logística que são eficientes e eficazes para levar produtos a todos os cantos da nação ”, disse Neil Saunders, diretor-gerente da Global Data Retail, em entrevista ao The Washington Post.

Saunders completou: “Basicamente, essas empresas já estão fazendo o que o governo precisa fazer com as vacinas. Além disso, gigantes como Amazon e Walmart empregam tantas pessoas que podem dar início ao programa vacinando seus próprios funcionários.”

A possibilidade de imunizar suas próprias equipes é, de fato, um dos benefícios potenciais para essas companhias. Mas a imunologista Lili Yang, da Universidade da Califórnia (UCLA), explica que a estratégia pode impactar, justamente, na eficiência da campanha.

"Se você olhar para que os países mais avançados na vacinação estão fazendo, vai perceber que existe uma estratégia nacional, que consiste, geralmente, em imunizar profissionais da chamada 'linha de frente', como médicos e enfermeiros, e indivíduos mais vulneráveis", disse Lili ao NeoFeed.

"Ao permitir que grandes corporações, de certa maneira, furem a fila, a lógica da campanha é subvertida, uma vez que pessoas saudáveis, que não pertencem a um grupo de risco, têm acesso às vacinas antes de quem se sabe vulnerável".

Uma pesquisa conduzida pela Kaiser Family Foundation nos Estados Unidos identificou que 60% dos entrevistados avaliam mal a distribuição da vacina em seus estados.

Em outro dado, mais da metade dos que ainda precisam ser vacinados disseram não saber quando terão acesso aos imunizantes e nem onde buscar informações para isso. 

Enquanto isso, a gestão Biden tenta centralizar e organizar a inteligência de distribuição, contando ainda com o apoio de redes de farmácias, como CVS, Kroger, Rite Aid e Walgreens.

A expectativa, segundo o The Washington Post, é que milhares de profissionais da saúde sejam mobilizados para trabalhar em conjunto com a Guarda Nacional e as equipes estaduais, a fim de ajudar, ampliar e acelerar a administração de vacinas. 

Para financiar esse esforço, Joe Biden espera que o Congresso aprove seu pacote de US$ 1,9 trilhão, de onde sairiam os US$ 20 bilhões destinados à construção de áreas de vacinação, pagamento de mão-de-obra e o lançamento de uma campanha educacional. 

* A matéria foi corrigida com os dados atualizados da vacinação nos Estados Unidos

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