Mark Zuckerberg vive um drama que parece estar cada vez mais distante do fim. Primeiro, ele viu o valor de mercado da Meta (ex-Facebook) despencar quase US$ 240 bilhões, no começo de fevereiro, por conta das mudanças de privacidade da Apple.

Agora, chegou a vez do Google mexer no “queijo” de Zuckerberg. Nesta quarta-feira, 16 de fevereiro, a empresa informou que está adotando novas medidas de privacidade para impedir a prática de rastreamento entre aplicativos de dispositivos Android.

Do ponto de vista técnico, o Google está desenvolvendo uma tecnologia para substituir a sequência única de caracteres que identifica o dispositivo do usuário e que é utilizada por empresas de tecnologia para rastrear e compartilhar informações sobre os consumidores.

Na prática, isso pode significar algo semelhante ao que fez a Apple ainda no ano passado quando passou lançou uma atualização do sistema operacional iOS, utilizado no iPhone.

Na atualização, os usuários do celular da maçã teriam que responder se dariam ou não permissão explícita para que aplicativos pudessem rastrear as atividades do usuário em aplicativos e sites de propriedades de outras empresas.

Para a Meta, que ganha a maior parte de sua receita com publicidade dentro de redes sociais como Facebook e Instagram, isso gerou um impacto na receita. Parte dos usuários da rede social passou a impedir que a companhia pudesse rastrear as atividades.

No começo deste mês, David Wehner, diretor financeiro da Meta, trouxe números para explicar o quão grave era o problema. “O impacto geral do iOS em nossos negócios em 2022 é da ordem de US$ 10 bilhões”, disse Wehner, em conferência com analistas de mercado.

O número não parece tão alto se comparado à receita total do Facebook no último ano fiscal, que ficou em quase US$ 118 bilhões. O problema é que o anúncio deixou o mercado em alerta.

No dia 2 de fevereiro, quando a Meta divulgou seu último balanço financeiro, as ações da empresa despencaram de US$ 323 para US$ 237,76. A queda de valor de mercado da empresa em 24 horas foi de mais de 26%. Em números, quase US$ 240 bilhões, a maior queda da história.

Essa queda histórica está associada a outros fatores que deixaram o mercado em alerta. Pela primeira vez em sua história, o Facebook registrou queda em sua base de usuários diários ativos, para 1,93 bilhão de pessoas. Por trás desse recuo, está o avanço de um rival em particular.

“As pessoas têm muitas opções de como querem gastar seu tempo e aplicativos como o TikTok estão crescendo muito rapidamente”, afirmou Zuckerberg, fundador e CEO da Meta na divulgação dos números.

Zuckerberg resolveu também cometer “sincericídio” na call de resultados com os analistas. Na ocasião, ele comentou sobre a mudança estratégica da empresa para o metaverso. E avisou que tem convicção que o futuro é a realidade virtual, mas que não consegue estimar quando isso vai virar resultado.

Desde o começo do ano, as ações da Meta já encolheram mais de 36% na Nasdaq. A companhia que no ano passado estava avaliada em mais de US$ 1 trilhão agora tem valor de mercado próximo de US$ 585 bilhões.

O que vai acontecer?

Ainda é cedo para saber como as mudanças no Android vão impactar nos negócios da holding que comanda o Facebook e o Instagram e se vão causar o mesmo impacto das alterações feitas pela Apple. Certo é que isso já ligou um sinal de alerta em Menlo Park, onde fica a sede da Meta.

“É encorajador ver essa abordagem colaborativa de longo prazo do Google para a proteção de privacidade para a publicidade personalizada”, tuitou Graham Mudd, vice-presidente de marketing do Facebook. “Esperamos continuar trabalhando com eles e com a indústria de tecnologia para o aprimoramento da privacidade por meio de grupos do setor.”

Até pela indefinição, as ações da Meta não caíram tanto como no caso anterior. No momento da publicação desta reportagem, os papéis da Meta estavam sendo negociados com baixa de 2,79%.

O posicionamento da empresa com o Google é bem mais ameno do que o adotado contra a Apple. “Acreditamos que – sem antes fornecer um caminho alternativo de preservação da privacidade – essas abordagens podem ser ineficazes e levar a resultados piores para a privacidade do usuário e para empresas de desenvolvedores”, escreveu Anthony Chavez, vice-presidente de gerenciamento de produtos, segurança e privacidade do Android, em uma postagem em um dos blogs oficiais do Google.