Quando deixou o comando da TIM Brasil para se tornar efetivamente o CEO da Telecom Italia, no começo deste ano, o italiano Pietro Labriola voltou para a sua terra natal com a missão de recuperar o grupo de telecomunicações, que vê sua dominância sendo corroída pela concorrência, enquanto carrega uma pesada dívida de Є 22,6 bilhões. 

Nesta quinta-feira, dia 7 de julho, Labriola, o quinto CEO da Telecom Italia em seis anos, apresentou um plano estratégico para reestruturar a companhia, que prevê a separação dos ativos de infraestrutura de rede fixa da parte de serviços, com as empresas reunidas nesse segundo grupo ganhando mais autonomia. 

“Nós queremos mostrar [com o plano] os valores escondidos dentro do nosso grupo e explicar as opções que podemos ativar, dependendo dos cenários que enfrentaremos nos próximos meses, mantendo a necessária flexibilidade”, disse Labriola, em vídeo em que detalha o plano de reestruturação. 

No plano divulgado, os ativos de rede fixa serão realocados em uma nova área, chamada de NetCo. Ela abrangerá a rede fixa, primária e secundária, bem como os negócios de atacado italiano e internacional, reunidos na FiberCop.

A FiberCorp  foi criada em agosto de 2020 em parceria com a KKR Infraestructure, do fundo americano KKR. Essa operação envolve ainda a Fastweb, que ficou com a rede da Telecom Italia na Itália, e a Sparkle, companhia que atua no mesmo segmento em 32 países, incluindo o Brasil. 

De acordo com a Telecom Italia, essa nova área será focada no mercado de atacado e terá a tarefa de acelerar ainda mais a implantação da rede de fibra nos mercados em que o grupo atua, principalmente na Itália. 

Já a segunda área, a ServiceCo., vai reunir a TIM Consumer, que agrega todos os serviços da empresa para consumidores finais, pequenas e médias empresas italianas, a TIM Enterprise, que presta serviços para grandes empresas e o setor público italiano, além da TIM Brasil

Apesar de reunidas numa nova entidade, a Telecom Italia destacou que as três companhias da ServiceCo. terão autonomia administrativa para estabelecer metas e prioridades estratégicas em suas regiões e áreas de atuação. 

A proposta inclui ainda a redução do quadro de funcionários em 9 mil profissionais até 2030, de acordo com informações da Reuters - o número não consta na apresentação divulgada pela empresa.

Segundo reportagem da agência de notícias, Labriola contou que os cortes serão feitos, entre outras medidas, por meio de programas de incentivo à aposentadoria. A Telecom Italia tem 42 mil funcionários na Itália e 9,6 mil no Brasil. Não há informações sobre quais regiões serão impactadas por essas políticas. 

A chegada de Labriola ao comando da Telecom Italia e o plano que apresentou é uma resposta às pressões que a companhia vem sofrendo para melhorar suas operações.

Em novembro do ano passado, o KKR apresentou uma oferta hostil pela companhia, oferecendo Є 10,8 bilhões. Em abril, o conselho de administração da operadora italiana recusou a proposta e não permitiu que o fundo realizasse uma due diligence na empresa. 

Brasil

A reorganização proposta por Labriola é voltada principalmente às operações na Itália, em especial a TIM Consumer, que enfrenta forte concorrência no mercado local, definido pelo CEO como complexo em termos regulatórios. O plano prevê uma reestruturação do segmento, concentrando esforços em reposicionar a marca no segmento premium, elevando consequentemente os preços.

Esse reposicionamento ocorreu nas operações brasileiras, com a oferta de pacotes pós-pago com serviços de streaming embutidos, que têm valores maiores. E a estratégia vem se mostrando bem sucedida. No primeiro trimestre, a Tim Brasil registrou uma maior migração de clientes para planos com ticket médio mais elevado, fazendo com que a receita média mensal por usuário (ARPU) da unidade móvel subisse 7,6%, em base anual.

Para o Brasil, o plano não prevê modificações de escopo, estratégia e gestão, de acordo com comunicado divulgado pela TIM Brasil ao mercado. Por aqui, a Telecom Italia vem colhendo bons resultados, em parte graças ao trabalho de Labriola, que assumiu a operação em 2019. 

Enquanto as operações na Itália registraram um recuo 7,7% na receita total no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2021, o Brasil entregou um avanço de 9% na mesma base de comparação. 

O endividamento das operações brasileiras também aparece em níveis controlados. A empresa fechou o primeiro trimestre com uma alavancagem financeira, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda, de 0,7 vez. 

Na apresentação do plano de reestruturação, a expectativa é de que este índice atinja 2,0 vezes ao final do ano, por conta dos efeitos da incorporação de operações da Oi, caindo para 1,6 vez até 2024.