A partir desta quarta-feira, 12 de maio, Thiago Maffra assume oficialmente como CEO da XP, em substituição a Guilherme Benchimol, que passa a ocupar, exclusivamente, o assento da presidência do Conselho de Administração do grupo.

A passagem de bastão teve, no entanto, uma prévia na manhã desta terça-feira, 11 de maio, quando a dupla se reuniu para falar das razões por trás da nova estrutura na liderança e também sobre os planos à frente da operação.

“Modéstia à parte, eu fui o melhor CEO que a empresa poderia ter nesses primeiros 20 anos da nossa história”, afirmou Benchimol. “Mas, olhando o futuro e as habilidades que serão necessárias, não tenho dúvida que o Maffra será um CEO muito melhor do que eu seria nos próximos 20 anos da XP.”

Depois de retribuir os afagos do fundador da XP, Maffra, há sete anos na empresa, deixou claro qual será a prioridade da sua gestão: replicar em outros segmentos, com forte apoio do digital, o impacto que a companhia trouxe ao mercado de investimentos em suas duas primeiras décadas de atuação.

“Quando olhamos o mercado financeiro, há R$ 800 bilhões em ordem de grandeza, dos quais, hoje, atuamos em cerca de R$ 100 bilhões”, disse o executivo, referindo-se, particularmente, aos segmentos de crédito e de pagamentos. “Então, temos R$ 700 bilhões nos quais estamos começando a colocar o pé."

Sob esse novo desenho, Benchimol destacou o fato de que poderá se concentrar nas estratégias de longo prazo da empresa. “Ao mesmo tempo, isso permite blindar o Maffra da agenda comercial e externa”, afirmou.

Entre os passos recentes para ir além da seara dos investimentos, estão o cartão de crédito da XP, lançado em março, e a entrada, em 2020, no segmento de crédito. Nessa última frente, a companhia destacou que alcançou, no primeiro trimestre, uma carteira de R$ 4,7 bilhões.

Em breve, diz Maffra, esse portfólio ganhará mais alternativas. “Temos três frentes claras para trabalhar até o fim do ano”, afirmou o novo CEO da XP. “A primeira delas é ter uma conta digital completa, que será lançada nos próximos meses, com toda a parte de pagamentos, PIX, conta salário e cartão de débito”.

O segundo passo é reforçar o portfólio destinado às pessoas jurídicas. Nesse ponto, o plano passa por ofertas como conta, cash management e, em especial, crédito, espaço que, ao mesmo tempo, será a terceira área em foco no radar dos lançamentos para os próximos meses.

“Quando olhamos esses R$ 800 bilhões no mercado, R$ 500 bilhões são de crédito”, justificou Maffra. Segundo o executivo, a XP irá buscar no mercado, por meio de alternativas como FIDCs, os recursos para financiar essas operações, que irão ganhar novas modalidades. “Nós trabalhamos no modelo asset light e não queremos ser mais um banco que vai ficar empilhando balanço.”

Sobre esse tema, Benchimol acrescentou: “Essa é a grande transformação que esperamos no mercado de crédito no Brasil”, disse. “Acessar o mercado de capitais é uma maneira de desintermediar o crédito e não empilhar ativo. E de promover uma transformação muito mais escalável e rápida.”

Além da expansão do portfólio, o novo CEO da XP elencou outra prioridade sob o seu comando: dar ainda mais velocidade ao processo de transformação digital da companhia, iniciado há pouco mais de três anos.

“Vamos focar na construção de unidades de negócio e mini-empresas dentro da XP”, explicou Maffra. “A ideia é descentralizar a companhia e dar mais autonomia para os times rodarem mini-startups e estarem mais próximos dos clientes.”

Segundo Benchimol, essa orientação foi, inclusive, um dos fatores que pesaram para a escolha de Maffra, que atuava até então como CTO da XP, para o cargo. “Antes, a tecnologia era focada em atender as áreas de negócios. Queremos inverter essa lógica e colocá-la atendendo aos clientes”, explicou. “E ao colocar o CTO como CEO, mostrando a importância dessa jornada, a mensagem fica mais clara.”

Enquanto traça esses planos, a XP, avaliada em US$ 24,3 bilhões, contabiliza os números da operação no primeiro trimestre deste ano, quando alcançou um volume de R$ 715 bilhões de ativos sob custódia, um crescimento de 96% sobre igual período do ano passado.

Entre janeiro e março, a empresa chegou a uma base de clientes ativos de R$ 2,99 milhões, alta de 47% na mesma base de comparação. A receita bruta cresceu 50%, para R$ 2,8 bilhões, enquanto o lucro líquido ajustado avançou 104%, para R$ 846 milhões.