O PagSeguro tem conseguido manter a lucratividade do seu negócio de adquirência, mas ainda amarga resultados negativos para o PagBank, banco digital que a empresa lançou em 2018.

A companhia acredita, porém, que os números no vermelho estão com os dias contados e que, no ano que vem, devem virar para o azul, segundo analistas do Goldman Sachs, que se reuniram com Ricardo Dutra, CEO da empresa, e Eric Oliveira, diretor de Relações com o Investidor. O banco contou como foi o encontro em relatório distribuído nesta segunda-feira.

Para alavancar o negócio, o PagSeguro tem apostado na concessão de crédito, tanto aos usuários que são consumidores quanto aos que são vendedores. “O PagSeguro acredita que sua carteira de crédito atual, de R$ 1 bilhão, ainda está abaixo do potencial em relação ao total registrado em transações”, escrevem os analistas Tito Labarta, Tiago Binsfeld, Beatriz Abreu e Nicholas Walker.

O PagBank, que chegou a 11,2 milhões de usuários no segundo trimestre, o dobro do que tinha um ano antes, atingiu a marca de R$ 45,6 bilhões em transações no período, mais de quatro vezes o montante registrado no segundo trimestre do ano passado. O negócio de adquirência, por sua vez, somou R$ 56,3 bilhões, um avanço de 89,1%.

Aos analistas, o PagSeguro ressaltou que a estratégia para o crédito concedido ao consumidor é baseada em empréstimos com garantia. “Já no crédito ao lojista, a companhia é cética quanto ao modelo focado na câmara de recebíveis, que o PagSeguro não vê como uma garantia forte”, diz o Goldman Sachs.

Ainda segundo o relatório, de todos os usuários do banco digital, 55% são lojistas. O PagSeguro, que é focado em clientes microempreendedores e tem feito esforços para integrar os negócios de adquirência e de banco digital, espera que as pequenas e médias empresas cresçam em participação e terminem o ano com uma fatia de 6% a 11% do total de transações, possivelmente acima do teto.

“A empresa acredita que é mais fácil passar da cauda longa para as pequenas e médias empresas do que o contrário”, afirmam os analistas. “A expectativa da companhia é continuar investindo em sua expansão nesse nicho”, disseram. Os números de cada segmento não são revelados pelo PagSeguro em seus balanços.

Quando decidiu se lançar no mercado de bancos digitais, o PagSeguro fez um trabalho interno para montar uma operação do zero e conseguiu uma licença bancária completa, chegando em uma arena para competir com nomes como Inter, C6 e Nubank.

Entretanto, a empresa demonstrou pouca preocupação com a concorrência e disse aos analistas do Goldman Sachs que este não é um jogo de soma zero. “Boa parte de seus novos clientes não tinha conta bancária”, diz o relatório.

Apesar do otimismo do PagSeguro, o Goldman Sachs revisou para baixo algumas das suas projeções para a companhia. As previsões de lucro líquido recorrente para 2021, 2022 e 2023 foram reduzidas, respectivamente, em 7%, 6% e 5%. As estimativas de ganhos agora são de R$ 1,669 bilhão, R$ 2,598 bilhões e R$ 3,662 bilhões. No ano passado, o resultado ficou positivo em R$ 1,434 bilhão.

"Nossa revisão para baixo é atribuída principalmente a maiores despesas financeiras, dadas as taxas de juros mais elevadas e custos de financiamento e despesas operacionais mais elevados", afirmam os analistas.

O preço-alvo para daqui a 12 meses também caiu, de US$ 71 para US$ 68. Listada na Nasdaq, a ação do PagSeguro era negociada a US$ 55,87, por volta das 15h, um recuo de 0,20%.

A empresa, avaliada em US$ 18,3 bilhões, registrou lucro líquido de R$ 272,1 milhões no segundo trimestre, queda de 8,2% em comparação a igual período do ano anterior.

A margem líquida, por sua vez, ficou em 11,5%, abaixo dos 21,8% de um ano antes. Segundo o Goldman Sachs, a empresa disse que a margem deve crescer de forma continuada no terceiro e no quarto trimestre.