Consenso no mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira, 3 de agosto, para 13,75%, na 12ª alta consecutiva em um ano e meio.

Em seu comunicado, o comitê diz que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”. Na prática, o Copom está dizendo que “talvez” eleve a Selic em mais 0,25 ponto em setembro ou dê o ciclo por encerrado. Se julgar necessário mais um ajuste, a taxa básica avançará a 14%.

Para parte do mercado, 14% ou até 14,25% é o patamar mais adequado para o Banco Central (BC) combater a inflação, que desacelera neste ano em função as isenções tributárias nos combustíveis e energia elétrica, e frear as expectativas que tendem a subir para 2023.

O Comitê afirmou também que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação. O Copom indicou também que o horizonte relevante [para efeitos da política monetária] inclui o ano de 2023 e, em menor grau, 2024.

A porta aberta para mais um aumento da Selic é justificada pela inflação que, mesmo em desaceleração em 2022, segue bem acima do teto da meta de 5% para este ano, além das projeções ascendentes para o IPCA de 2023.

A pesquisa Focus divulgada na segunda-feira, 1 de agosto, prevê inflação de 7,15% este ano e de 5,33% no próximo, quando o teto da meta será de 4,75%. Para 2024, porém, a inflação esperada pelo mercado é de 3,30%.

Conspira também para mais um aumento de juro em setembro, o fato de a atividade econômica se mostrar mais forte, tanto que bancos e consultorias vêm aumentando as projeções para o PIB brasileiro deste ano, que poderá chegar a 2,5%.

Em contraponto, contribuem para a percepção de que a Selic pode ter sua alta encerrada, na próxima reunião do comitê em setembro, o cenário externo que já emite sinais de fraqueza.

O temor ampliado quanto ao risco de recessão nas principais economias e o posicionamento do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, em sua última reunião, criaram a expectativa de que os bancos centrais não irão com tanta sede ao pote no combate à inflação. Isso porque a recessão ou a firme desaceleração da atividade tende a provocar desinflação.

Em sua última reunião, em 27 de julho, o Fed decidiu elevar sua taxa básica em 0,75 ponto, para o intervalo de 2,25%-2,50% e não em 1 ponto, como chegou a ser cogitado por analistas.

A definição da nova taxa trouxe alívio aos mercados e vem produzindo importante correção na curva de juros americana. Resultado: a taxa do Fed que poderia chegar a 4%, segundo essa curva definida no mercado futuro de Treasuries, agora ronda 3,25%.

A sensação de alívio foi potencializada por um discurso considerado mais flexível do presidente do Fed, Jerome Powell, que indicou que o atual ritmo de ajuste do juro, de 0,75 ponto, pode ser reduzido.

Na terça-feira, 2 de agosto, porém, outros dirigentes do Fed passaram a sinalizar em eventos públicos que o aumento de juro deve prosseguir. A prova dos nove virá na reunião de política monetária de 20 e 21 de setembro.

Adicionalmente, contribui também para menor intensidade no ajuste de juros, indicadores de atividade mais fracos de várias economias. Na segunda-feira, 1 de agosto, dados de atividade industrial declinaram.

Nos EUA, o indicador passou de 53 pontos em junho para 52,8 em julho. Na Zona do Euro, de 52,1 pontos para 49,8 em julho. E, na China, o indicador recuou de 50,2 em junho para 49,0 em julho. No caso do Brasil, o dado caiu de 54,1 pontos em junho para 54,0 pontos em julho, segundo a S&P Global.

Com o ajuste anunciado pelo Copom, o Brasil renova a posição de liderança no pagamento de juro real, com 8,52%, informa Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.

O ranking de juro real elaborado por Vieira há mais de uma década reúne 40 economias e revela que, entre as cinco que praticam taxas mais elevadas, três são da América Latina: Brasil, México e Colômbia.

De 40 países, 28 estão praticando juro real negativo – não por terem reduzido suas taxas básicas, mas porque a inflação segue elevada. Apesar do esforço do Federal Reserve (Fed) em corrigir seu atraso no processo de normalização da política monetária, nos EUA, o juro real está negativo em 3,25%.

Na classificação por juro nominal, portanto sem descontar a inflação, o Brasil ocupa a terceira posição depois da Argentina, que é destaque no pódio com 60% ao ano e Turquia com 14%.

Vieira pondera que os programas de aperto quantitativo continuam lentos e o movimento global de políticas executadas pelos bancos centrais continuou a ganhar força, com um aumento expressivo de instituições sinalizando preocupação com o vigor dos preços, mesmo com a queda de preços das commodities.

“Entre 167 países, 45,51% mantiveram os juros, 50,90% elevaram e 3,59% cortaram. No ranking de 40 países, 15% mantiveram as taxas, enquanto 82,5% aumentaram e 2,5% cortaram”, informa o economista.