Em meio a um período eleitoral turbulento e um mercado de renda variável que sofre com os efeitos do aperto monetário, as ações de companhias estatais estão conseguindo se descolar do noticiário negativo e registrar fortes ganhos para seus detentores. 

É o que mostra o Índice Bolsa Estatais desenvolvido pela Teva Indices, companhia que desenvolve indicadores para ETFs. O índice registra um retorno acumulado de 33,3% no ano até o dia 7 de outubro, segundo dados obtidos pelo NeoFeed. Para efeito de comparação, o Ibovespa, que tem 87 companhias públicas e privadas, registra alta de 11% no mesmo período. 

O índice é composto pelas ações de Petrobras, Banco do Brasil, Cemig, Sabesp, BB Seguridade, Copel, Caixa Seguridade, Sanepar, Copasa, Banrisul, Embraer e IRB Brasil (as duas últimas estão contempladas por conta das golden share, que dão poder de veto à União para determinados temas).

“As ações das estatais tiveram anos com desempenho muito bom, mas neste ano está surpreendendo, porque o resultado está descolado ao da Bolsa”, diz João Paulo Fernandes, head de pesquisa quantitativa da Teva Indices. 

O resultado do índice mostra um comportamento semelhante ao apurado em 2018, outro momento de eleições presidenciais. O Índice Bolsa Estatais fechou aquele ano com alta de 40,7%, enquanto o Ibovespa subiu 15%. 

A coincidência é que os dois ciclos eleitorais trouxeram com força a discussão a respeito de privatizações, levando os investidores a tentarem se antecipar aos fatos. “Tanto em 2018 quanto neste ano tivemos essas discussões e é natural que nos ciclos eleitorais se discuta o futuro dessas empresas”, afirma Fernandes. 

Além da perspectiva de privatização, as estatais também estão sendo beneficiadas neste ano por estarem em patamares considerados baratos. Segundo o estudo da Teva, o múltiplo P/L do índice, que mede a relação entre o preço da ação e o lucro das companhias que fazem parte dele, está em 7,15 vezes. A média histórica é de 7,43 vezes. 

O analista João Daronco, da Suno Research, destaca que essa situação não foi percebida apenas nas estatais, mas em grande parte das ações da Bolsa brasileira, com os investidores migrando para a renda fixa diante da alta de juros no Brasil e no mundo. 

“Quando pegamos os preços no final de 2021, estávamos vendo os menores múltiplos em termos históricos das companhias, precificando um cenário bastante ruim, mas acabou que o cenário acabou não se concretizando”, afirma. “Os valuations estavam muito baixos.”

Junto com a perspectiva de privatização e ações baratas, muitas estatais também estão apresentando bom desempenho operacional em 2022. A Petrobras, empresa de maior peso no Índice Bolsa Estatais, respondendo por 20% dele, registrou no segundo trimestre o maior lucro nominal desde o quarto trimestre de 2020, de R$ 60 bilhões, puxado pela valorização do petróleo. 

Os bons resultados que vem colhendo, o fato de seus ativos estarem em níveis considerados baratos, faz com que suas ações preferenciais acumulem alta de 76,3% até 7 de outubro. 

No caso de Banco do Brasil, cujas ações têm o mesmo peso no índice da Teva que a Petrobras e que acumulam alta de 51,6% no ano, a instituição registrou lucro líquido ajustado recorde no primeiro semestre, de R$ 14,4 bilhões.

Além deles, outros nomes registram forte valorização em 2022 por conta do bom resultado operacional. É o caso da BB Seguirdade, com alta de 46%. A Sabesp tem valorização de 46% no ano. Na contramão está o IRB Brasil, que registra baixa de 73,4%, diante do fraco desempenho operacional, além de lidar com as consequências do escândalo de manipulação contábil, em 2020.

“As empresas desempenharam muito melhor do que o mercado esperava, e o mercado esperava algo meio catastrófico, que não aconteceu, levando os investidores a capturar parte do upside ao longo do ano com a valorização das estatais”, afirma Daronco. 

Mas ainda que a situação esteja favorável às ações das companhias estatais, os investidores não estão alocando tanto nesses ativos quanto em 2018. 

Levantamento feito pela Teva mostra que o volume de negociação de papéis de empresas públicas registra variação positiva de 12,2% no ano até 7 de outubro, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já em 2018, houve um aumento de 89,7%.