No começo de julho, a Sequoia Capital surpreendeu os empreendedores da região latino-americana ao avisar, através de um post escrito por Doug Leone e Sonya Huang, que iria voltar a investir na América Latina – até então só o Nubank e o Rappi haviam recebido um cheque de uma das gestoras de venture capital mais influentes do Vale do Silício, que apostou em Cisco, Apple, Yahoo, Google, LinkedIn, PayPal, entre muitas outras empresas que se tornaram gigantes.
“A oportunidade de mercado está presente e o ecossistema está pronto e estimulado”, escreveu Leone em conjunto com Huang. “Não planejamos fazer muitos investimentos. O modelo da Sequoia é investir em um pequeno número de empresas ousadas que sonham alto.”
Duas semanas depois desse anúncio, a Sequoia Capital está tornando público seu primeiro aporte na região. É na startup argentina Pomelo, fundada pelos empreendedores Gaston Irigoyen, Hernan Corral e Juan Fantoni, que atua fornecendo infraestrutura para que grandes empresas construam suas próprias fintechs e emitam seus próprios cartões pré-pagos, de débito e de crédito. “Foi uma oportunidade de trabalhar com a Sequoia”, afirma Irigoyen, em entrevista ao NeoFeed, acrescentando que as negociações foram rápidas.
A Pomelo está fazendo uma extensão de US$ 1 milhão a sua rodada seed, anunciada no começo de maio. É uma cifra pequena para os padrões da Sequoia, mas o aporte é simbólico por se tratar de seu primeiro investimento após dizer que voltaria a olhar para a região do “seed ao IPO e além”, segundo o post.
“As fintechs representam uma grande oportunidade para a América Latina, mas a tecnologia destinada a apoiar esse boom está desatualizada”, diz Sonya Huang, sócia da Sequoia Capital, ao NeoFeed. “Gaston e a equipe da Pomelo conhecem esse problema muito bem.”
Além da Sequoia Capital, está participando desse novo aporte o empreendedor Guillaume Pousaz, CEO e fundador da fintech londrina Checkout.com, avaliada em US$ 15 bilhões. Com isso, a Pomelo levantou no total US$ 10 milhões em uma rodada em que um dos investidores com quem o NeoFeed conversou chamou de “uma das mais competitivas” da região.
A lista de fundos que entraram, bem como de empreendedores que apostaram na Pomelo, dá uma medida do interesse que a fintech atraiu. Em maio, a rodada foi coliderada pela brasileira Monashees e pela americana Index Ventures. Participaram também QED, SciFi VC, Latitud, 20VC, Future Positive, Addition e FJ Labs, bem como os fundadores de Marqeta, Rappi, Auth0, Kavak, Loft e RecargaPay.
Fundada em março deste ano, a Pomelo conta com empreendedores com experiência no mercado financeiro. Irigoyen foi um dos primeiros funcionários do Google na América Latina e ex-CEO da Naranja X, um dos maiores bancos digitais da Argentina, que conta com milhões de usuários. Fantoni atuou como diretor na Mastercard e Corral era o CPO da Naranja X, além de ter trabalhado também como head de contas digitais e cartões do Mercado Pago.
“Os três passaram pela experiência frustrante e complexa de contratar serviços para a emissão e processamento de cartões para suas empresas e viram uma grande oportunidade de transformar esse mercado na América Latina”, afirma Caio Bolognesi, sócio da Monashees.
O modelo de negócios da Pomelo se assemelha ao da americana Marqeta, uma fintech que ajuda empresas a emitir cartões e a processar pagamentos. A companhia acaba de abrir o capital nos Estados Unidos, levantou US$ 1,2 bilhão e está avaliada em US$ 13,9 bilhões.
A fintech argentina, por sua vez, permite a criação de conta digital white label e a emissão de cartões pré-pagos, de débito e de crédito. A parceria é com a Mastercard. A Pomelo estima que os cartões movimentem US$ 900 bilhões por ano na região e que 95% do processamento seja feito por empresas locais.
Mais: a emissão de cartões de crédito e débito é um processo lento e burocrático para as empresas que queiram fornecer aos seus clientes. A ideia da Pomelo é fazer isso de forma rápida e descomplicada. “Construir uma fintech e, particularmente, emitir cartões é um pesado na América Latina”, diz Irigoyen. “Em geral, demora entre 12 e 18 meses para lançar um simples cartão pré-pago.”
Com tem poucos meses de vida, a Pomelo ainda não tem clientes e os recursos dessa rodada seed estão sendo direcionados para o desenvolvimento de produtos, bem como estabelecer operações no Brasil e no México.
No Brasil, a Pomelo acaba de contratar Bruno Martucci, que comandará o escritório local e vai liderar o desenvolvimento de produtos no País. Martucci estava na Alelo, onde era responsável pela área digital e de produto da companhia. Ele já atuou também na Amazon Payments, Mercado Pago e Sodexo.
Caberá a ele montar a equipe brasileira que terá de quatro a seis pessoas. “A maioria será em parcerias e vendas”, diz Martucci. Segundo o executivo, a ideia é oferecer a conta digital e os cartões. Na sequência, a startup deve entrar na área de crédito através de alguma parceria com um banco.
No momento, a Pomelo conta com 50 pessoas e tem outras 50 vagas abertas nas áreas de vendas, marketing, desenvolvimento de produtos e engenharia na Argentina, Brasil e México.
Apesar do time peso pesado que está investindo na Pomelo, a fintech argentina entra em um mercado altamente disputado e que conta com diversas startups que estão se posicionando para oferecer serviços para grandes e pequenas empresas.
Um exemplo é a Swap, que permite a criação de carteiras digitais e a emissão de cartões. A startup tem como investidores ONEVC, ABSeed Ventures, Canary, Global Founders, Flourish Ventures e a SOMA Capital. Outra é a Hash, que se autodefine como uma infraestrutura de pagamentos, que levantou US$ 15 milhões de QED, Globo Ventures, Thomas Stafford (um dos sócios do DST Global), Kaszek e Canary.
A visão dos investidores da Pomelo, segundo apurou o NeoFeed, é que apesar de o mercado de fintechs estar congestionado na América Latina, poucas delas atuam no nicho da startup argentina: a área de emissão de cartões e de processamento de pagamentos.
É uma aposta de alto risco. Mas risco é o que a Sequoia Capital e os fundos de venture capital sabem correr.