O Dia Internacional da Mulher acabou de passar e, como mulher executiva de uma grande fintech, fico orgulhosa das importantes conquistas das últimas décadas. O direito a voto – após uma luta de 100 anos – é apenas um exemplo. É também admirável ver cada vez mais a presença feminina em cargos de liderança nas empresas.
Mas, a verdade é que ainda estamos longe do que seria o ideal. Muitos setores ainda são predominantemente masculinos e assim tendem a continuar por longos anos. A diferença salarial entre homens e mulheres ainda persistente em muitas empresas, ainda que os cargos exercidos sejam exatamente os mesmos, entre outros fatores.
No universo do mercado financeiro, do qual faço parte há 17 anos, não podemos dizer que temos de fato diversidade, como deveria ser. Os líderes e colaboradores são, em sua maioria, homens cis, brancos e héteros. Como muitos fundadores de fintechs vieram deste universo, esse reflexo acaba acontecendo.
Mas é algo que as fintechs precisam resolver, independentemente de como está a evolução no setor financeiro mais tradicional. Estamos evoluindo? Sim, estamos. Mas nossa presença nesse mercado ainda é pequena. Então, temos esse grande desafio.
O que antes era assunto basicamente teórico ou restrito às reuniões de diretoria, hoje vemos na prática. Percebemos o aumento de diversidade entre colaboradores, mas é preciso inserir não apenas mulheres, precisamos de equipes de diversas raças, etnias, de pessoas LGBTQIA+, entre tantas populações que acabam por não ter as mesmas oportunidades. O passo já foi dado e é importante que esse movimento já esteja acontecendo.
Nos últimos anos, as empresas que realmente prezam por equipes diversas passaram a enxergar essa questão não apenas como uma preocupação superficial ou para preencher metas estabelecidas pelo RH. É uma questão financeira e que traz melhores resultados: empresas com maior diversidade em seu quadro de colaboradores, diretores e fundadores geram mais valor e obtém melhor retorno. São ideias e ideais diferentes, pensando e trazendo olhares externos diferentes, fazendo com que todos ganhem. As empresas, inclusive.
Apesar das mulheres representarem quase 52% do total de brasileiros, dentro do quadro societário das fintechs esse equilíbrio não existe. Em média, existem apenas 12% de mulheres em seus quadros societários, de acordo com dados do Distrito Fintech Report Brasil 2020. Essa não é uma característica somente das startups do setor financeiro, mas é nele que o problema é mais agravado. Em Legaltech e Edtech, por exemplo, as mulheres correspondem, respectivamente, a 25% e 21%.
Em países mais desenvolvidos que começaram a olhar para o tema mais cedo, a diversidade é maior que aqui no Brasil – mas não chega a ser uma diferença tão grande. Existem diversas barreiras, como o acesso a capital por exemplo. O fluxo de investimentos de anjos e fundos de venture capital ainda é muito direcionado a startups fundadas por homens. Isso ocorre porque os próprios investidores são em sua maioria homens e o viés inconsciente acaba influenciando nas escolhas.
A boa notícia é que tenho visto cada vez mais posicionamentos incisivos por parte das fintechs quando o assunto vem à tona. Essas conversas precisam acontecer para tornar os ambientes mais inovadores e acolhedores às mulheres. Temos que de fato investir nestas mudanças para atrair mais colaboradoras que se identifiquem com o gênero feminino: mostrar que esse é um lugar para nós também e torná-lo cada vez mais convidativo, humanizado e flexível – facilitando assim a inserção.
Ainda que março seja um período emblemático para as mulheres, esse assunto precisa estar presente nos outros 11 meses do ano. Precisamos buscar de forma positiva e pragmática o contínuo debate. Cada um de nós precisa assumir o papel de agente de transformação. É sempre hora de mudar e melhorar. Cabe à cada empresa e a cada gestor fazer sua parte, ter resiliência e seguir levantando a bandeira da diversidade. Precisamos ser plurais para sermos melhores.
*Ingrid Barth é co-fundadora e COO do banco digital Linker