Le Beaujolais Nouveau est arrivé! Neste ano, a frase que marca o lançamento do Beaujolais Nouveau ficou restrita. Sem as festas presenciais que marcam a chegada deste tinto leve, fresco e frutado ao mercado, o Nouveau teve suas vendas direcionadas aos supermercados franceses e chega aos demais mercados, como o brasileiro, como uma bebida cara para o que entrega.

Bem diferente do sucesso que a bebida fazia no final de 1990 e começo dos anos 2000. Naquela época, o Beaujolais Nouveau era visto como um sucesso de marketing, um case no mundo do vinho. A festa do Nouveau, na verdade, nasceu na década de 1950, mas ganhou notoriedade depois de 1985, quando a sua elaboração foi regulamentada, obrigando o seu lançamento na terceira semana de novembro.

Elaborado pela técnica de maceração carbônica (de fermentação em tanques fechados), que permite lançar o vinho logo depois da safra, ele começa a ser comercializado sempre na terceira quinta-feira de novembro (dia 19, este ano). E, assim, já traz dinheiro para as vinícolas, que não precisam esperar o tempo de amadurecimento em barricas e os prolongados estágios em garrafas para começar a colocar recursos em caixa.

Para chegar ao consumidor neste prazo, o Nouveau precisa ser despachado por avião, o que encarece o vinho. Aqui, a importadora Interfood está vendendo por R$ 151,90 o Nouveau de Georges Duboeuf, vinícola pioneira nas festas de Lyon. Na Mistral, o Nouveau de Joseph Drouhin sai por R$ 139,90.

O valor é mais alto do que a qualidade do vinho, e isso vem afetando a imagem de toda a região de Beaujolais. “O Nouveau tirou o brilho de Beaujolais, e os crus da região sofrem até hoje com isso”, analisa Paulo Brammer, sócio da escola EnoCultura. Percepção semelhante tem o sommelier Guilherme Camargo, da Interfood. “Muitos consumidores têm a imagem de um vinho simples, e acabam tendo preconceito de provar os crus de Beaujolais”, conta ele.

Vizinha à Borgonha, a região de Beaujolais tem a gamay como a sua variedade tinta principal, cultivada em um solo granítico. Nas brancas, reina a Chardonnay, a mesma da Borgonha. Os melhores terrenos são classificados como crus, palavra que não tem referência alguma com vinhedos grand ou premier cru.

Mas resultam em vinhos de qualidade, cada um com um perfil diferente, localizados ao Norte da Beaujolais. Há muita diversidade entre os crus. Fleurie, por exemplo, é conhecido como o mais floral. Moulin-a-Vent, tânico e complexo, e Morgon, de notas terrosas, são os mais encorpados.

Neste sentido, os preços dos crus de Beaujolais até podem ser vistos como de bom custo-benefício. O Morgon 2018, do produtor Jean Paul Brun, do Domaine des Terres Dorées, é vendido por R$ 309 na Edega. É um valor semelhante aos Borgonhas genéricos, de qualidade inferior. Nos crus, ainda, muitos produtores optam cada vez mais por não colocar o nome Beaujolais em destaque no rótulo. Utilizam apenas o nome do cru.

Há várias ações para mostrar que o Beaujolais é mais do que o Nouveau e tentar recuperar o prestígio que os vinhos tiveram no passado

Há várias ações para mostrar que o Beaujolais é mais do que o Nouveau e tentar recuperar o prestígio que os vinhos tiveram no passado. No século XX, crus como Morgon e Moulin-a-Vent eram valorizados e vendidos por valores semelhantes aos da Borgonha.

Um exemplo são as ações da associação InterBeaujolais, que reúne os produtores locais. A associação trabalha para recuperar a imagem da região e mostrar que há situações de consumo diferentes para cada um dos Beaujolais. “Há tanto estilo de Beaujolais, que a região precisa ser conhecida por tudo isso”, afirma Cédric Grelin, diretor de importação da PNR Group.

Há estudos em andamento para definir os “climats” de Beaujolais, palavra francesa que define uma região ainda mais especifica do que o terroir. Há também um estudo para conhecer melhor o terroir, até para conseguir classificar os vinhos em grand e premier cru. “Se tiver uma classificação oficial como grand cru, pode ajudar a chamar a atenção do consumidor”, afirma o sommelier Camargo Mas este é um processo burocrático e demorado.

Paralelo a isso, a região vem ganhando espaço também como uma opção à Borgonha, os vinhedos vizinhos que têm preços cada vez mais elevados. “É preciso olhar o Beaujolais como região alternativa à Borgonha. Os crus têm o mesmo estilo de boa acidez e são versáteis gastronomicamente”, afirma Cédric Grelin, diretor de importação da PNR Group. E tem preços mais competitivos.

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