Desde que chegou para comandar o Next, banco digital do Bradesco, em março deste ano, vindo do banco de atacado do grupo, o executivo Renato Ejnisman, implementou um processo de crescimento acelerado na instituição financeira.
Em poucos meses, o banco digital mudou o top management, trouxe como garota-propaganda a atriz Tatá Werneck, que passou a estampar campanhas onde é chamada de Tatá WerNext, lançou novos produtos financeiros e um marketplace.
De março até hoje, o número de clientes do Next, fundado em outubro de 2017, mais que dobrou, saltando de 4,4 milhões para os atuais 9 milhões, superando a meta de encerrar 2021 com 7 milhões de clientes. Agora, um negócio costurado com o BS2 promete encorpar esses números.
O BS2, banco digital da família Pentagna Guimarães, decidiu deixar a operação de conta digital para pessoas físicas para se concentrar apenas nas contas digitais para PJs e fechou um acordo para recomendar a migração de cerca de 700 mil clientes ao Next.
“Começamos a olhar fora da caixa, para além do crescimento orgânico, e ficou claro que o BS2 estava focado no cliente PJ”, diz Ejnisman ao NeoFeed. “Além disso, eu conhecia o Marcos (Marcos Magalhães, CEO do BS2) e passamos a conversar sobre esse negócio.”
Magalhães, do BS2, vai direto ao ponto. “O mundo de banco digital pessoa física é um mundo que já tem players, em relação a tamanho de base e evolução de suas plataformas, bastante à frente do que tínhamos na época que decidimos focar no cliente PJ”, diz ele ao NeoFeed.
A decisão de migrar, obviamente, caberá aos clientes e o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Banco Central e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas os dois bancos estão trabalhando em conjunto para que a mudança ocorra sem fricção, com poucos cliques. “Estamos planejando ofertas especiais, com compensação financeira, para quem migrar”, diz Ejnisman.
As conversas foram iniciadas há três meses. Sabendo que o BS2 já tinha se posicionado no mercado, em julho, dizendo que o foco eram os clientes PJs, alguns players buscaram o banco propondo o negócio, mas as conversas se intensificaram com o Next.
“A gente viu neles uma solução mais completa para os nossos clientes”, diz Magalhães. Mas há, também, uma compensação financeira ao BS2 para cada cliente que migrar ao Next. O valor é mantido sob sigilo.
O BS2 vai iniciar a comunicação nos canais do banco para que os clientes possam entender o processo. “Não há compartilhamento de informações, não existe troca de base ou transferência de ativos. É uma abertura que estamos dando para o Next se apresentar aos clientes”, diz Magalhães.
Estima-se que a migração seja concluída até o fim do primeiro trimestre do ano que vem. O BS2 vai manter as contas PFs internacionais e as contas investimentos, uma base de 130 mil clientes. A decisão de deixar a operação tradicional de pessoas físicas, com conta digital, cartão de crédito e débito, é clara. Ficou muito difícil competir nesse segmento.
O nome do jogo nesse mercado é escala. E, para ter escala, é preciso ter muito dinheiro para “queimar” na aquisição de clientes. Além disso, o setor está tomado por alguns players que estão se consolidando.
O Nubank, prestes a fazer um bilionário IPO, tem quase 50 milhões de clientes; o Inter conta com 14 milhões; o C6 aparece com 11 milhões; o iti, do Itaú, conta com 10 milhões; o Original, que tem 5 milhões, começou a dar lucro neste ano, depois de 10 anos de sua fundação.
“Está ficando claro que, nessa parte de pessoa física, há um pelotão da frente e estamos nele”, diz Ejnisman, afirmando que o Next deve chegar a 10 milhões de clientes até o fim do ano.
O próprio Bradesco tem várias marcas digitais para competir nessa disputa: além do próprio Next, conta com o Digio, cuja parte da sociedade com o Banco do Brasil foi recém-adquirida, e a carteira digital Bitz.
Em recente entrevista ao NeoFeed, Marcelo Noronha, vice-presidente executivo do Bradesco, ressaltou que o banco da Cidade de Deus tem disposição para investir em algumas frentes ao mesmo tempo. “O Bradesco está se transformando e fazendo apostas em vários cavalos na vertical digital”, disse ele.
Também em recente entrevista ao NeoFeed, Octavio de Lazari Jr., presidente do Bradesco, disse que mais para frente Next e Digio, hoje com 2,5 milhões de clientes, podem se fundir. “Pode ser que, daqui a dois anos ou três anos, você vai ajustando a plataforma do Next e do Digio para que eles possam se encontrar lá na frente. Essa é uma possibilidade”, afirmou.
Diante desse cenário, com bancos digitais consolidados e os grandes bancos, donos de bolsos bem fundos, apostando em suas marcas, os executivos do BS2 viram que focar no público PJ seria a melhor alternativa.
No universo das contas PJ, onde o BS2, conta com 200 mil clientes, Magalhães acredita que tem muito mais diferenciais do que os concorrentes. “A começar pela plataforma tecnológica, que é aberta e integrada com parceiros externos”, diz ele.
A instituição financeira, com ativos totais de R$ 13,4 bilhões e um patrimônio líquido de R$ 588 milhões, comprou, em junho, a fintech de crédito Weel, lançou recentemente uma conta investimento para PJs e está trabalhando no desenvolvimento de um cartão de crédito para PJs para ser lançado no primeiro trimestre de 2022.
Mesmo assim, a vida do BS2 no mundo dos PJs não vai ser fácil. Muitos bancos e fintechs passaram a olhar esse público com lupa. O C6, por exemplo, está recrutando um exército de consultores para atender as PMEs. O Itaú criou a plataforma Itaú Meu Negócio. Outros players como BTG Pactual, Original, Inter, Conta Simples e Letsbank também têm apostado muitas fichas nesse nicho de mercado.
Magalhães, entretanto, diz que agora o banco terá mais foco para ganhar mercado. Enquanto falava, no meio da entrevista, a Siri, do seu celular, se manifestou involuntariamente. “Estou ansiosa pelo futuro. E ele é cheio de surpresas”, disse o robô da Apple. Quais surpresas serão essas?