Nos últimos meses, o mercado financeiro foi tomado por uma onda de anúncios de bancos digitais e fintechs entrando com força no setor de plataformas abertas de investimentos.

O Nubank comprou a Easynvest, o Neon adquiriu a corretora Magliano e o Inter avisou que vai usar parte do dinheiro de seu recente follow on de R$ 1,2 bilhão para comprar empresas de tecnologia nessa área.

O Banco Original, com 3,7 milhões de clientes, ainda vai esperar para fazer barulho nesse segmento. “Nós já temos uma plataforma aberta, distribuímos cerca de 30 produtos nela, mas falamos pouco sobre ela”, diz Raul Moreira, diretor executivo do banco.

A atuação nessa seara é, definitivamente, tímida. O banco conta com apenas R$ 200 milhões sob custódia. Para efeito de comparação, o Inter tem R$ 26 bilhões sob custódia. “Vamos criar uma marca, trazer novos parceiros, mas isso será em 2021”, afirma Moreira.

“No conceito de banco completo, essa é uma pecinha pequena que vamos colocar no quebra-cabeça.” Um quebra-cabeça, é bom salientar, que foi montado nos últimos dois anos. Nesse tempo, o Banco Original passou por uma revolução interna.

A instituição financeira reformulou toda a sua infraestrutura digital, entrou no mercado de pessoa jurídica, investiu na área de banking as a service e criou uma empresa de tecnologia para apoiar a alavancagem da PicPay, companhia controlada pelo banco.

“Foram muitas frentes para ter uma proposta de valor mais robusta”, diz Moreira. Agora, diz ele, os resultados começam a aparecer e o banco apresentou todos os seus números ao mercado.

“A quantidade de clientes com saldo em conta cresceu 129% nos últimos 12 meses e o uso do cartão de crédito cresceu 40%”, diz Luiz Giacomini, diretor financeiro do banco controlado pela família Batista.

De cada 100 clientes dos quem têm conta MEI, 38 escolheram o Original para domiciliar as suas vendas de cartão de crédito. “Isso mostra que estão ativando cada vez mais as contas”, diz Giacomini.

A carteira de crédito diminuiu de R$ 7,2 bilhões, em dezembro de 2019, para os atuais R$ 7 bilhões, numa manobra para reduzir a exposição do banco, principalmente no atacado.

O funding, por sua vez, saltou de R$ 9,4 bilhões para R$ 11,6 bilhões. E a margem bruta financeira saiu de R$ 246 milhões no primeiro semestre de 2019 para R$ 345 milhões neste último semestre.

O ebitda gerencial foi negativo em R$ 33 milhões, mas Giacomini projeta um ebitda gerencial positivo de R$ 44 milhões para esse segundo semestre. A última linha do balanço não foi boa.

O Banco Original, que acabou de se mudar para uma sede de 24 andares no bairro do Brooklin, em São Paulo, apresentou um prejuízo de R$ 220 milhões nos primeiros seis meses do ano.

O banco explicou que boa parte da última linha do balanço no vermelho se deve a eventos extraordinários. No total, eles representaram R$ 97 milhões dos quais R$ 76 milhões são fruto das operações de hedge para a carteira em dólar do agronegócio.

Mas, como dizem todos os bancos digitais e fintechs, isso já era calculado. “Já tínhamos em mente queimar caixa para essa transformação que temos passado”, diz Moreira. E caixa não falta. O banco dispõe de uma liquidez de R$ 3,6 bilhões.

É, segundo seus executivos, o suficiente para os próximos passos do Original, como apostar na recém-lançada conta para empresas com faturamento de até R$ 50 milhões e alcançar os 7 milhões de clientes até o fim de 2021. O ano, aliás, que o banco pretende operar no azul.

“Ter um banco completo e um ecossistema é muito importante para chegar no fim dessa corrida de pé e entre os principais competidores do mercado. Muitos outros não vão sobreviver”, afirma Moreira.

Foco na tecnologia

O ecossistema ao qual o executivo se refere começou a ser construído no ano passado. No início de 2019, logo depois de chegar ao Banco Original, Moreira encontrou uma situação, no mínimo, inusitada para um banco digital: a instituição financeira não tinha um único desenvolvedor de software, tudo era terceirizado.

Para botar de pé a estratégia que estava sendo delineada pelo presidente Alexandre Abreu, seria necessário começar tudo do zero. E assim foi feito no segundo semestre de 2019, com a criação da chamada Original Hub, uma empresa de desenvolvimento à parte do banco.

Passados 12 meses, essa área tecnológica acabou se mostrando o centro nevrálgico da operação, crucial para o que o banco chamou de ecossistema digital. “Somando o Banco Original e a Original Hub, temos hoje 200 desenvolvedores”, diz Moreira. “A meta é chegar a 330 até o fim de 2021.”

Mais do que um número, isso representa a estratégia de suporte aos três braços do Original: a operação bancária, o banking as a service e o PicPay, que conta com 31 milhões de usuários cadastrados, dos quais 11 milhões são ativos.

O investimento em tecnologia cresceu 162% no primeiro semestre de 2020 comparado com o primeiro semestre de 2019. Foram R$ 128 milhões e deve chegar a R$ 200 milhões até o fim do ano.

“Fizemos um investimento muito pesado em infraestrutura. É uma parte que não é sexy, mas se o encanamento não estiver bem colocado o cliente não tem uma experiência boa”, diz Giacomini.

O chatbot, lançado em 2018, também foi aperfeiçoado. Antes, de cada 100 interações com o cliente 30 eram resolvidas pelo robô e 70 eram encaminhadas para o atendimento humano. Agora, de cada 100 interações, 93 são atendidas pelo robô, fruto de uma parceria com a IBM.

O robô foi usado, inclusive, para ajudar os clientes a fazerem o pré-cadastro do PIX, a plataforma de pagamentos do Banco Central. Em maio de 2020, o banco também iniciou o pagamento com reconhecimento facial com o PicPay. E aguarda a chegada do PIX para iniciar esse mesmo processo com os seus clientes.

“Três grandes forças estão mudando a arena do sistema financeiro: a tecnologia, o consumidor e a agenda regulatória”, diz Moreira. Quando fala de agenda regulatória, entende-se open banking. E, segundo o executivo, o banco está pronto para isso. “Temos 58 parceiros para os quais prestamos serviços de atividade bancária”, afirma Moreira.

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