Apesar do cenário começar a ficar favorável para a renda variável, com a perspectiva de retomada dos IPOs no segundo semestre após uma seca de mais de dois anos, a renda fixa deve seguir forte em 2024, com promessa de recorde no número de emissões.
Mesmo com as recentes mudanças nas regras para emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e para debêntures incentivadas, o mercado de renda fixa pode fechar 2024 com um total de R$ 460 bilhões em emissões, segundo estimativa do Bradesco.
O valor superaria o recorde estabelecido em 2022, de R$ 457 bilhões, além de um avanço frente aos R$ 400 bilhões registrados em 2023. “Estamos vendo um mercado de renda fixa muito forte, com um volume de emissões muito grande”, disse Bruno Boetger, vice-presidente do Bradesco para a área do atacado na terça-feira, 2 de abril, em entrevista durante o 10th Brazil Investment Forum, promovido pelo Bradesco BBI.
Segundo ele, o movimento é geral, puxado tanto por títulos de dívida privada como por títulos incentivados, em meio ao inflow para fundos de renda fixa, movimento que ainda deve se manter considerando que a Selic ainda está em patamares altos, apesar dos cortes iniciados em agosto de 2023.
A declaração casa com dados recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostrando que as ofertas no mercado de capitais chegaram a R$ 64 bilhões no primeiro bimestre, com alta de 50,6% ante o mesmo período de 2023.
As ofertas de debêntures lideraram as captações, somando R$ 30,7 bilhões no bimestre, com crescimento de 21,1%. As ofertas de CRIs totalizaram R$ 10,9 bilhões no bimestre, com crescimento de 298,2% ante o mesmo período do ano anterior. As emissões de CRAs tiveram expansão de 67% nos dois primeiros meses do ano, para R$ 5,1 bilhões.
Boetger disse que o Bradesco tem em execução no mercado cerca de 50 operações e projeta que a Selic chegue a 9,25% ao ano no fim de 2024, “mas podendo surpreender para baixo”, sem que a situação seja afetada pelas novas regras estabelecidas pelo governo. O executivo não deu projeções de quantas operações o banco poderá realizar até o fim do ano.
Além de ver boas tendências para debêntures, CRIs e CRAs, o vice-presidente do Bradesco destacou que o ano está sendo positivo para as emissões de cunho ESG, que somaram R$ 15 bilhões no primeiro bimestre. “Se anualizarmos, estamos falando de algo em torno de R$ 90 bilhões para o ano”, afirmou Boetger.
A volta dos IPOs
Ao mesmo tempo que permanecerá positivo para emissões de renda fixa, o ano deve marcar a retomada das operações em renda variável, graças à perspectiva de queda de juros nos Estados Unidos.
O Bradesco projeta que o ano deve ser marcado por um total de 20 a 30 operações, sendo que “pelo menos” cinco serão de IPOs, tendo ainda no pipeline em torno de 20 empresas prontas para ir a mercado.
“Estimamos um volume de R$ 40 bilhões a R$ 60 bilhões de ofertas neste ano, o que inclui a operação da Sabesp, uma operação grande, que deve vir a mercado em junho e deve ser de R$ 15 bilhões”, afirmou Boetger, destacando que boa parte das operações devem vir no segundo semestre.
O volume projetado representa uma revisão para baixo em relação ao que o Bradesco esperava no começo do ano, de R$ 70 bilhões. Boetger afirmou que a projeção atual considera o adiamento do início do corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) do “começo do ano” para junho.
O executivo do Bradesco não quis falar sobre quais setores econômicos concentram os maiores números de empresas pensando em fazer IPO, afirmando apenas que são empresas “de qualidade, empresas joias da coroa em seus respectivos setores”, com a governança bem estruturada.
Um ponto que deve marcar a retomada dos IPOs são as ofertas ancoradas por grandes acionistas, o que deve ajudar a deslanchar as ofertas. “A ancoragem é importante, porque ter um acionista de referência ajuda na formação do livro, dá mais segurança aos outros investidores, já saindo com uma demanda importante”, afirmou Boetger.