A Speedo Multisport, empresa que controla a marca esportiva no Brasil há 45 anos, decidiu em uma reunião de planejamento no período da pandemia de Covid-19 que a marca deveria começar um movimento estratégico de sair da água.

Dona de uma participação de mercado de 80% no segmento de produtos para esportes aquáticos, principalmente a natação, a Speedo deu início ao chamado projeto anfíbio para levar a mesma força que a marca tem na água para a terra.

O passo mais ousado desse movimento começa a chegar para os lojistas nesta segunda quinzena de maio. A Speedo está lançando a sua linha própria de calçados, com tênis e chinelos, para conquistar um novo consumidor. E de olho em um setor que está próximo de R$ 27 bilhões de faturamento anual.

“O biênio 2024 e 2025 é crucial para explorarmos essa questão do movimento anfíbio, da água para a terra”, diz Roberto Jalonetsky, diretor-geral da Speedo Multisport, ao NeoFeed. “O peso do calçado para um player esportivo é muito grande em todos os aspectos, seja financeiro, estratégico e na ampliação do canal de distribuição”.

Com fabricação própria no Brasil, os calçados Speedo vão concorrer tanto com as grandes marcas internacionais como Nike, Adidas, Puma, New Balance, Mizuno como com as nacionais Olympikus e Penalty. Mas não só elas. Existem mais de 230 marcas registradas no mercado brasileiro.

A ideia é que os tênis compitam com modelos voltados para o dia a dia, tanto pelo lifestyle como para a prática de exercícios leves, como academia ou caminhadas. São 45 modelos de calçados, que chegam com preço entre R$ 200 e R$ 400.

“Sendo multiesportivo, começo a participar de mais momentos da vida do meu consumidor-alvo, além do benefício de atrair novos consumidores”, afirma Jalonetsky. “Pelo lado da companhia, de projeção e planejamento de mercado, essa é uma categoria do mundo esportivo com grandes volumes e retorno financeiro.”

Junto aos tênis, a Speedo terá 35 modelos de chinelo slide, que terão um espectro maior de público, indo do estilo de vida à performance. Para os praticantes de natação, a tecnologia proprietária da marca buscou elementos que evitam que o pé “dance” no chinelo e que o solado escorregue em contato com a água na beira da piscina. Os preços ficarão entre R$ 70 a R$ 140.

A Speedo teve poucas dúvidas entre escolher a produção no mercado interno ou a importação. Quinto maior produtor do mundo de calçados, com mais de quatro mil empresas, o País é um dos principais centros globais com mão-de-obra especializada e alta tecnologia.

“Olhamos para o mundo por uma questão de tecnologia, mas sempre que é possível por questões estratégicas, logísticas e para fomentar negócios e o crescimento no nosso quintal, fazemos no Brasil”, diz o diretor-geral da Speedo Multisport

A Speedo testou o “apetite” do mercado com um evento de pré-venda para lojistas em abril. A troca serviu para ouvir o que eles esperam dos produtos - que tiveram um tempo de maturação do projeto, desenvolvimento, aperfeiçoamento e produção de dois anos. O objetivo era ter tempo de fazer pequenos ajustes.

A empresa saiu do encontro com 10 mil pares vendidos, um número acima das expectativas da gestão em razão de não ter sido feito nenhum marketing sobre os novos produtos. Com isso, a receita com essa primeira leva de calçados deve render algo em torno de R$ 2 milhões para a marca - um número que a Speedo não confirma.

Nos próximos meses, a Speedo vai colocar em prática a ideia de “quebrar o ciclo” de ter apenas duas coleções por ano. A ideia é abastecer periodicamente o varejo com novos produtos. Esses tênis ou chinelos podem ter cores novas, matérias-primas diferentes, colaborações etc.

“Remodelamos, vai dar trabalho, mas a ideia é ter várias entregas para dar a sensação de sempre termos uma novidade. Isso vai exigir competência de comunicação e de processo”, afirma Jalonetsky.

Um pé maior no varejo

A entrada no segmento de calçados faz parte, também, de um plano de ocupação de espaço da Speedo nas redes varejistas. A marca quer saltar dos atuais 4,3 mil pontos de venda para um total de 6,5 mil pontos de venda no fim de 2025, um crescimento de, aproximadamente, 50%.

Para ocupar mais prateleiras dentro de uma loja de artigos esportivos, a empresa está aumentando o seu portfólio de produtos com a expansão da unidade de negócios de licenciamentos da Speedo - onde os calçados estão embarcados.

Para Alberto Serrentino, sócio-fundador da consultoria Varese Retail, a distribuição será um dos maiores desafios para a empresa, além da compreensão de como se dará o posicionamento em calçados, assim como ocorreu com a moda fitness.

“A distribuição de calçados no Brasil é um negócio bastante fragmentado, tem muitas redes multimarcas no País inteiro e todo mundo que tem uma escala muito grande precisa também ter uma escala de vendas e uma distribuição capilar, além de atender grandes clientes”, diz Serrentino.

Até o fim deste ano, a Speedo terá no portfólio 12 produtos licenciados. Além dos calçados, chegará ao mercado uma linha de bolsas e mochilas, com características diferentes das que já existiam, e a entrada na categoria de alimentos e bebidas.

“O consumidor vai poder comer e beber Speedo, mas serão produtos voltados para a saudabilidade, qualidade de vida e prática esportiva”, afirma Jalonetsky.

No ano passado, a marca estreou na categoria de suplementos com géis de carboidrato para o pré e pós-treino licenciados com a Z2 Foods. Além dessa, a Speedo já está em dermocosméticos, com protetor solar e pomada antiassadura, óculos de sol e equipamentos para ginástica em casa, como esteira e bicicleta ergométrica, além de equipamentos de beach tennis.

“A Speedo, dentro da água, vem do mundo da performance. Precisamos conseguirmos fazer a transferência de valor da tecnologia para o momentum”, diz Jalonetsky. “O plano é fazer bem-feito o que estamos colocando no mercado agora.”