Em março deste ano, a Arquivei, startup de gestão de documentos fiscais, comprou a rival ConexãoNF-e. Com a transação, a empresa deu o pontapé em sua estratégia de crescimento inorgânico, que havia sido um dos motes do aporte de R$ 260 milhões, liderado pela Riverwood Capital, no fim de 2021.

Se essa estreia levou um longo período para acontecer, seus próximos passos estão sendo dados apenas três meses depois desse primeiro movimento. Em informação antecipada ao NeoFeed, a companhia está "catalogando" dois novos M&As em seu portfólio.

Na manhã desta terça-feira, 13 de junho, a Arquivei anuncia acordos envolvendo propriedades intelectuais de softwares das empresas ExSS IT e Sevenfy, ambas de São Paulo. Os valores das transações não foram revelados.

“Uma das nossas teses é comprar receita e consolidar o mercado, e esse foi o foco da primeira aquisição”, diz Christian de Cico, cofundador e co-CEO da Arquivei, ao NeoFeed. “A segunda é reforçar o nosso portfólio, o que se encaixa nessas duas novas transações.”

Diferentemente da aquisição da Sevenfy, o acordo da ExSS IT também incluiu uma pequena parcela de troca de ações. Nesses termos, os três sócios da empresa - Alessandra Marcio, Fábio Moraes e Luciano Felletti - estão sendo incorporados à operação.

No mercado há mais de 15 anos, a ExSS IT já era a parceira de longa data em projetos que envolviam a integração da plataforma da Arquivei com sistemas de gestão (ERP) da SAP, companhia alemã com maior escala entre clientes de grande porte, o que reforça a presença da empresa nesse espaço.

“Nós ficávamos na dependência das prioridades da ExSS IT. Agora, a cabeça deles vai estar full time na Arquivei”, observa de Cico. “Os projetos com SAP envolvem mais de 90% da nossa operação e havia uma pressão dos clientes para que tivéssemos essa integração dentro de casa.”

No que diz respeito à Sevenfy, empresa do grupo Hesselbach Company e de quem a Arquivei já era cliente desde 2021, o acordo compreendeu o Sevencap, sistema que captura notas fiscais de serviço eletrônicas a partir da conexão direta com prefeituras de mais de duas mil cidades do País.

“A nota fiscal de serviços é um grande calcanhar de Aquiles, pois cada prefeitura pode ter o seu sistema”, diz de Cico. Ele ressalta que, além de acelerar esse processo, o Sevencap tem menor custo comparado à tecnologia de OCR - leitura de caracteres ópticos -, que ainda domina esse mercado.

“Em vez de fazer um contrato de exclusividade e pagar mais caro, decidimos comprar a solução”, observa. “Foi um movimento de proteção de mercado, para ninguém ter esse diferencial, e de redução de custo, para aumentar a nossa margem.”

Atualmente, a Arquivei atende uma carteira de 124 mil empresas, com nomes como C&A, Via, Boticário, Batavo, Dasa, Kraft-Heinz e Log

Outro racional une as transações: cobrir de ponta a ponta as contas a pagar das empresas. Incluindo sistemas para gerenciar e automatizar todo o fluxo de pagamentos, passando pela conciliação e a aprovação. A entrada das notas fiscais eletrônicas nos ERPs é justamente o início desse processo.

“Já temos um volume anual aproximado de R$ 117 bilhões sendo pago apenas entre os nossos clientes”, ressalta. “Como as duas pontas já usam nossa plataforma, a ideia é facilitar essa movimentação e deixá-la mais redonda.”

A inspiração para perseguir esse modelo é a americana Bill.com, empresa que captou US$ 279 milhões junto a investidores como J.P. Morgan, Temasek e Mastercard. E que abriu capital em 2019, sendo avaliada atualmente em US$ 12,1 bilhões.

Os concorrentes da Arquivei

No Brasil, os principais concorrentes para esse modelo seriam as empresas e consultorias que prestam serviços de terceirização de negócios, mais conhecidas no mercado pela sigla BPO. Na visão do fundador da Arquivei, nomes como Accenture se encaixam nesse contexto.

Partindo dessa premissa, um dos próximos passos será unificar esses sistemas com o portfólio da ConexãoNF-e que, por sua vez, tem integração com ERPs da Totvs. Concluído esse trâmite, o plano é criar uma unidade de negócios reunindo essas ofertas, no fim de 2023.

“É quando acontece o earn out da ConexãoNF-e e assumimos 100% do controle da empresa no dia a dia”, afirma de Cico. “Provavelmente, a divisão vai manter o nome da companhia.”

A projeção é de que a nova unidade tenha cerca de 40 profissionais dedicados. Atualmente, a Arquivei conta com 390 funcionários, que atendem a uma carteira de 124 mil empresas. Essa base tem nomes como C&A, Via, Boticário, Batavo, Dasa, Kraft-Heinz e Log.

Mesmo mais focada na integração dos três ativos adquiridos recentemente, a Arquivei segue olhando para novas aquisições. Nessa abordagem, há espaço para acordos de todos os portes e nas duas teses de M&A, com maior atenção para conceitos como inteligência artificial e analytics.

“Temos bastante recurso em caixa e há muitas oportunidades em empresas boas, que estão com dificuldade de funding nesse cenário mais restrito”, destaca. “Os valuations estão mais racionais e, diferentemente de pouco tempo atrás, as companhias estão mais abertas a conversar.”