Se para muitos investidores o cenário macroeconômico é motivo de puxar o freio de mão nos investimentos, a General Atlantic vê o cenário como propício para avançar em seus aportes no Brasil e na América Latina.
Depois de investir perto de US$ 350 milhões no Brasil no ano passado, a gestora americana, que conta com US$ 103 bilhões em ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês) no mundo, está entusiasmada para expandir esse valor em 2025, diante dos valuations das companhias e o amadurecimento do ecossistema de startups brasileiro e da América Latina.
"A gente acha que é o momento de investir na região", disse Rodrigo Catunda, sócio e co-head da General Atlantic Brasil, na quinta-feira, 10 de abril, durante o South Summit Brazil, evento do qual o NeoFeed é parceiro de mídia. "Vamos ter mais atividade na América Latina do que nos anos anteriores."
Ele destacou os múltiplos de mercados emergentes estão bastante depreciados, citando que o P/L está em cerca de 13 vezes, enquanto nos Estados Unidos o múltiplo alcança 24 vezes. Além disso, depois de alguns anos em que as companhias privadas eram negociadas a múltiplos acima das públicas, essa curva virou, com o mercado privado sendo negociado com desconto ante o público.
Além das questões financeiras, Catunda disse que as startups do Brasil e da América Latina estão muito mais maduras. Ele afirmou que as companhias que conseguiram sobreviver ao aperto monetário que começou a ocorre no final da pandemia são robustas, conseguindo caminhar por suas próprias pernas.
Outro ponto é que muitas delas contam com empreendedores experientes. "No Brasil, a gente vê um fenômeno que viu nos Estados Unidos, de empreendedores que estão em sua segunda ou terceira empresa", afirmou.
Esse ponto também foi citado por Joaquim Lima, parter da Riverwood Capital, que no mundo conta com US$ 6,1 bilhões em ativos sob gestão no mundo. Segundo ele, o cenário agora é de empreendedores resilientes, dando segurança aos investimentos – no ano passado, a gestora investiu cerca de US$ 100 milhões em quatro companhias na América Latina.
Mas reforçou que a liquidez não é tão abundante quanto foi no passado, exigindo seletividade. "A liquidez irá para casos que se provaram de forma concreta", disse.
Para Igor Piquet, responsável por investimentos de venture capital na América Latina da Endeavor Catalyst, que registra US$ 540 milhões em AuM, a América Latina segue subfinanciada, apesar de apresentar uma população jovem que adota rapidamente as novidades tecnológicas.
Mas ele espera que a situação mude, vendo os investidores globais mais atentos com a importância de estarem mais diversificados pelo mundo, as oportunidades que a Inteligência Artificial (IA) deve produzir na região.
O amadurecimento do ecossistema também deve ajudar a melhorar a imagem da região depois do excesso de entusiasmo no último ciclo de investimentos, quando muitas empresas receberam investimentos vultuosos, mas não entregaram os retornos esperados.
"A imagem da América Latina foi manchada pelos efeitos daquilo que chamamos de investidor turista, que só aparece quando está tudo legal", disse Piquet. "Quem está há décadas na região pode mostrar que tem bons resultados, mas a nossa imagem ficou suja nos últimos anos. Mas agora temos esse ciclo para recriar a nossa imagem."