O aplicativo de transporte Grab, o maior do sudeste asiático, anunciou uma fusão com o SPAC Altimeter Growth Corp. para abrir seu capital na Nasdaq. Com a fusão, o Grab passa a ser avaliado em US$ 39,6 bilhões. É o maior “cheque em branco” do mundo, como são conhecidos os SPACs (special purpose acquisition companies).

Como parte da negociação, o Grab, que tem entre seus investidores o Softbank, vai receber US$ 4,5 bilhões em recursos, incluindo US$ 4 bilhões captados por meio do mecanismo conhecido como PIPE (private investment public equity), em que a startup capta recursos de um grupo de investidores.

Participam do aporte a gestora Blackrock, Fidelity, T. Rowe Price, o fundo Counterpoint Global, do Morgan Stanley, e Temasek, o fundo soberano de Cingapura

"Há alguns anos, conversamos com investidores que nem sabiam onde o sudeste asiático ficava no mapa", disse Anthony Tan, cofundador e CEO do Grab, no programa "Squawk Box", da CNBC. "O anúncio de hoje mostra a validação da tremenda oferta que existe na região, e mostra que a estratégia de superapp funciona."

Tan faz referência à quantidade de serviços que o Grab oferece. Além de transporte, o aplicativo conta com delivery de comida, uma plataforma de reserva em hotéis e serviços financeiros, como o pagamento via smartphone e a contratação de seguros.

O app atua principalmente no sudeste asiático, em países como Cingapura, Malásia, Camboja, Indonésia, Mianmar, Filipinas, Tailândia e Vietnã, além do Japão. Atualmente, o Grab tem mais de 187 milhões de usuários espalhados em 350 cidades.

O Grab competiu com a Uber durante alguns anos, até que a Uber decidiu vender sua operação na região para o rival asiático em 2018. Foi assim que o Grab entrou no ramo do delivery de comida, com a aquisição da operação UberEATS. Em troca, a Uber ficou com 28% da companhia.

Com a pandemia, os serviços digitais do sudeste asiático ganharam força. Um relatório feito pelo Google em parceria com o Temasek Holdings e a Bain & Company aponta que 40 milhões de pessoas em seis países da região (Cingapura, Malásia, Indonésia, Filipinas, Vietnã e Tailândia) passaram a interagir em ambientes online pela primeira vez em 2020.

Mesmo com esse crescente interesse, o Grab, assim como outras startups do sudeste asiático, tiveram que cortar empregos e reduzir os custos de algumas operações. No caso do superapp, cerca de 5% da equipe foi afetada, segundo a CNBC.

No fim de 2020, a Grab e seu principal concorrente, Gojek, com sede na Indonésia, discutiram uma possível fusão, mas o negócio não foi concluído. Agora, o Gojek negocia com a plataforma de e-commerce Tokopedia em uma fusão avaliada em US$ 18 bilhões, de acordo com a Reuters. A negociação seria feita antes da possível listagem dupla da empresa nas bolsas de Jacarta e dos Estados Unidos.

Onda de cheques em branco

Os SPACs são veículos que captam dinheiro de investidores que acreditam na capacidade dos gestores de encontrar um bom ativo nos próximos dois anos para comprar e levá-lo para a bolsa. Como os investidores não sabem qual empresa será comprada, eles são conhecidos também como companhias de “cheques em branco”.

Esse interesse crescente no formato ajudou a fazer do primeiro trimestre de 2021 o melhor resultado em fusões e aquisições ao menos desde 1980. De acordo com dados da consultoria Refinitiv, o mercado global de M&A movimentou US$ 1,3 trilhão entre janeiro e março de 2021.

Apenas nos Estados Unidos foram US$ 654 bilhões negociados, um aumento de 160% em relação ao mesmo período do ano passado. Muitas das maiores negociações foram feitas por meio de SPACs. Segundo a Refinitiv, foram anunciadas 103 fusões com essas companhias de cheque em branco, avaliadas em US$ 229 bilhões.

O formato também ganha tração no Brasil. Companhias como HPX, Itiquira, Alpha Capital, Softbank, Waldencast e Valor Capital captaram ou estão levantando recursos para levar uma empresa à bolsa. Somados, elas devem levantar mais de US$ 1,3 bilhão para comprar ativos no Brasil ou na América Latina.

A febre dos SPACs também é vista como uma opção mais rápida rumo ao IPO. Tradicionalmente, empresas que querem abrir o capital precisam se preparar por alguns anos, contratar bancos de investimento e fazer road shows. Os SPACs simplificam esse caminho.

Essa onda também ganhou tração na Ásia. Seis fusões de empresas locais com SPACs captaram coletivamente US$ 2,7 bilhões apenas em 2021.