Quando Faros e Messem anunciaram a criação da Fami Capital, havia um zum zum zum no mercado financeiro de que havia mais barreiras do que sinergias para essa união. As diferenças culturais lideravam o topo das apostas, em seguida vinha a única motivação possível, que era se tornar corretora. E, por fim, o questionamento sobre o que seguraria a fusão de pé após a postergação desse plano?

Passados sete meses desde que o NeoFeed trouxe com exclusividade a criação da Fami, Mauro Silveira e Samy Botsman detalham os planos do maior escritório de assessoria de investimento do Brasil, agora oficialmente unidos. Nesse período, as sinergias conseguidas por eles não vieram “em linha reta”.

Ao anunciar a fusão há um ano, a custódia somada entre as casas dava R$ 65 bilhões. Hoje, a assessoria de investimentos possui R$ 65 bilhões sob custódia e sua operação nos EUA, o Registered Investment Advisor (RIA), tem R$ 9 bilhões, colocando o grupo com R$ 74 bilhões no total, um crescimento de 14%.

Até o fim do ano passado, a empresa focou na fusão e não cresceu. Mas, neste ano, o ritmo de captação está em cerca de R$ 2 bilhões por mês. Somente no primeiro trimestre deste ano, a Fami teve um resultado 300% superior ao primeiro trimestre de 2023, atendendo a mais de 50 mil clientes, com 300 assessores e presente em 15 cidades.

“Eu diria que todo casamento é assim: o que segura no longo prazo é o que é possível construir juntos. Temos os mesmos sonhos, mas com características diferentes para conquistá-los”, diz Mauro Silveira, sócio e CEO da Fami Capital.

A nova empresa já se apresenta como uma “máquina de distribuição”. Em menos de seis meses, foi possível distribuir cerca de R$ 1,1 bilhão em produtos exclusivos, como o CRI de R$ 250 milhões da Helbor e um fundo imobiliário de R$ 125 milhões (FAMI11).

“Percebemos que o nosso valor está na distribuição. Assim, podemos fazer parcerias e trazer produtos exclusivos nesse modelo porque nossa base é interessante para o mercado”, afirma Silveira.

A Fami está mais enxuta após ganhos de sinergias em áreas como operação, tecnologia, suporte e recursos humanos, por exemplo. Isso prova (para o mercado) como a fusão entre as empresas era complementar.

A única cidade que havia sobreposição de Faros e Messem era São Paulo. Mas, mesmo assim, as empresas tinham vieses diferentes de segmentos do mercado.

Enquanto a Faros sempre foi um escritório perfil private, com um multi family office (MFO) muito importante na operação, focada na alocação de produtos exclusivos e de forma mais personalizada, a Messem atendia melhor do varejo à alta renda, sendo bem ativa em mesas digitais e com grande ganho de escala.

“Nos juntamos com o sonho maior de ser corretora. Mas, após analisarmos com cuidado as vantagens e desvantagens de fazer isso agora, vimos que não fazia sentido. Não descartamos a ideia de uma corretora full no futuro, porém percebemos o potencial que tínhamos juntos”, diz Samy Botsman, sócio e vice-presidente de produtos e novos negócios da Fami Capital.

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Mauro Silveira e Samy Botsman, sócios da Fami Capital

Logo após a largada, os novos sócios perceberam que ser uma corretora full service poderia drenar as energias, pular etapas e deixar algumas oportunidades na mesa. Esse plano, a princípio, foi postergado.

Com isso, a Fami conseguiu, rapidamente, capturar receitas em outras áreas de negócios, como câmbio, seguros, crédito e corporate. Hoje, 25% das receitas vêm de áreas que não são investimento - há quase três anos isso era perto de zero.

Também tem se destacado na operação o MFO, liderado pelo sócio Felipe Bichara. O foco é o atendimento a clientes com mais de R$ 25 milhões e um grande braço offshore com o RIA. O segmento tem cerca de R$ 12 bilhões sob gestão e se aproxima de 16% da custódia total da empresa.

“Estruturamos nossa operação de MFO há 5 anos e estamos colhendo hoje o resultado de uma estrutura robusta e muito alinhada com os objetivos das mais de 50 famílias que atendemos”, diz Bichara.

O próximo objetivo é dobrar o tamanho da asset (hoje com R$ 900 milhões sob gestão) até o fim do ano.

Assessoria de três dígitos

Para chegar a R$ 100 bilhões sob custódia até o fim de 2025, a Fami quer manter sua máquina de captação em aceleração, mas considera a possibilidade de aquisição. Para os sócios, o poder no mercado financeiro está com quem tem capacidade de distribuição.

Hoje presente em 15 cidades, a Fami inaugurou sua nova sede em São Paulo. São 2.000 m² na avenida Juscelino Kubitschek para abrigar 200 pessoas da estrutura combinada das duas marcas.

No segundo semestre, a ideia é inaugurar um novo escritório em Porto Alegre e fortalecer algumas praças no interior de São Paulo e também no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Miami (EUA). E a empresa estuda entrar em mais duas cidades ainda este ano, talvez por meio de aquisições.

Segundo a Fami, algumas conversas estão em andamento (três delas estariam mais quentes). Não há um foco definido para as aquisições, podendo ser escritórios pequenos a grandes, estando preferencialmente em regiões que o grupo não está ainda. Mas o principal objetivo é capturar um bom capital humano, cada vez mais difícil no mercado.

“Estamos de olho em M&As em regiões que não estamos presentes. Vemos que há muitos bons escritórios com pessoas muito qualificadas que não estão conseguindo crescer por falta de estrutura, que nós temos como maior escritório do Brasil. E expertise em fusão, já que acabamos de passar por uma grande”, afirma Silveira.

E o sócio capitalista?

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Os sócios Samy Botsman e Murilo Benício

No novo CNPJ, a Fami teve uma reorganização societária. A XP, que na época da fusão tinha 49,9% da futura Messem DTVM e 28% da Faros, foi diluída para 35% na Fami Capital. Essa redução de participação tem a ver com a mudança de planos de criar uma corretora.

Com isso, foi possível acelerar a partnership para assessores que bateram metas ao longo do tempo. Passaram a fazer parte 35 novos sócios, totalizando agora mais de 200 em uma empresa de cerca de 600 pessoas.

Junto aos assessores passou a fazer parte do quadro societário o primeiro sócio capitalista. Agora que a legislação permite, a Fami aproveitou para entregar uma participação minoritária para o seu garoto-propaganda: o ator Murilo Benício.

Benício, cliente da antiga Faros há quase 20 anos, tem um alcance importante entre os clientes private. A Fami aproveitou o bom relacionamento com ele para afastar o assédio de outras casas e assegurar que sua imagem continua ligada à nova marca.

Se o movimento com o ator global foi na direção do marketing, a Fami estaria disposta a receber um aporte? “Hoje temos quase o tamanho da XP em 2017, quando o Itaú entrou e permitiu um crescimento exponencial. Mas não vemos ainda algo que vá nos agregar, porque dinheiro para crescer já temos”, diz Botsman.