Enquanto coloca em prática algo nunca visto no mercado de capital brasileiro, a migração de ações da Nasdaq para a B3, a Vitru Educação está trabalhando para crescer para além da educação a distância (EAD) no nível da graduação, área em que é líder de mercado com uma base de 780,8 mil alunos.
A companhia, dona das marcas Uniasselvi e UniCesumar, planeja crescer em outras frentes no mundo da educação em 2024. As áreas escolhidas são pós-graduação e, principalmente, cursos técnicos, chamadas de “adjacências” do setor de educação e consideradas novas avenidas de crescimento para os próximos cinco anos.
“A partir do momento que conquistamos a liderança em graduação, entendemos que precisamos olhar para esse mercado de adjacências”, diz William Matos, CEO da Vitru, ao NeoFeed. “Vamos buscar de maneira mais intensa e intencional a liderança tanto na pós-graduação quanto em cursos técnicos e profissionalizantes.”
Enquanto a parte de pós-graduação já dá os primeiros passos e conta, atualmente, com cerca de 50 mil alunos, que podem cursar mais de 220 disciplinas EAD, os cursos técnicos começam a ganhar destaque nos esforços da Vitru, que vai apostar no modelo de ensino a distância.
A companhia não dá uma estimativa de quantos alunos pretende captar, mas as pretensões são altas. O plano de crescer em cursos técnicos começou a ganhar força no segundo semestre, depois que a Vitru conseguiu autorização do governo federal para oferecer mais de 200 mil vagas em diversas áreas pelo País.
Com isso, a empresa é responsável pela oferta de mais de 40% das vagas disponíveis no setor, contando atualmente com cerca de 7 mil alunos, uma vez que a Uniasselvi começou a atuar neste segmento em 2021.
E a ideia é ir crescendo. Para 2024, ela tem planos de disponibilizar mais 39 mil vagas, além das já oferecidas. A UniCesumar lançará cursos de técnico em cuidado de idosos e técnico em desenvolvimento de sistemas, aumentando seu portfólio de 16 para 18 cursos. A Uniasselvi, por sua vez, vai ampliar sua oferta de cinco para 11 cursos, com ofertas nas áreas de meio ambiente e finanças.
Em relação a mensalidades do curso técnico, Matos diz que existe uma "escala" em termos de valores, com um tíquete médio de R$ 180, com alguns da área da saúde podendo alcançar R$ 350. Já as mensalidades da graduação variam de R$ 250 a R$ 350.
As apostas em pós-graduação e ensino técnico são oriundas de um planejamento estratégico feito em parceria com a McKinsey e os conselheiros. A conclusão destes estudos é de que essas duas frentes não possuem líderes de mercado consolidados no segmento de EAD, o que abre caminho para aproveitar a expertise que conquistaram na parte de graduação e puxar a base total de alunos.
Segundo Matos, o principal ganho da aposta em cursos técnicos é que o aluno tende a emendar uma graduação. “É um aluno que evade menos, porque está empregado, conhece a nossa metodologia e vem com custo de captação muito baixo”, diz o CEO, destacando que essa manutenção da base também vale para a pós-graduação.
A oferta de cursos técnicos pela Vitru visa também a aproveitar o momento de alta demanda por profissionais com este tipo de formação no País. Somente na indústria, o Brasil precisa capacitar mais de 77 mil técnicos, diz estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Outro argumento utilizado para atrair jovens aos cursos técnicos é a empregabilidade. Uma pesquisa realizada pelo Insper em parceria com o Itaú Educação e Trabalho e o Instituto Unibanco mostrou que quem se forma em cursos técnicos têm 5,5 pontos percentuais a mais de chances de estar no mercado de trabalho formal em comparação com os trabalhadores sem formação.
Não é só a Vitru que está de olho nas oportunidades do ensino técnico. Segundo o Valor Econômico, a Yduqs tem planos de entrar no segmento, mas de forma presencial, utilizando os campi da Estácio. Outro nome que começou a oferecer cursos técnicos neste ano foi a Cogna, através da marca Anhanguera, na modalidade EAD.
Embora a estratégia da Vitru conte bastante com crescimento orgânico, a companhia pretende se utilizar de aquisições para acelerar o crescimento nestas duas áreas e também se consolidar como líder no mercado EAD.
“Nosso pipeline de M&A está mais voltado para essas adjacências do que para a graduação”, diz Carlos Freitas, CFO da Vitru. “Tem conversas acontecendo com alguns players, mas ainda vai um longo caminho, nosso foco maior está no crescimento orgânico.”
Migração e integração
Além da aposta em novas frentes, o ano de 2024 da Vitru será marcado pela migração das ações da companhia para a B3 e pela continuidade do processo de integração e captura das sinergias da incorporação da UniCesumar, operação de R$ 3,2 bilhões anunciada em agosto de 2021.
A expectativa era de que a combinação dos negócios resultasse em sinergias entre R$ 2 bilhões e R$ 2,8 bilhões no período de cinco anos, segundo plano apresentado em 2022, quando a operação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Devido à escala que ganharam com a integração das duas marcas e medidas para captura de eficiência, a margem Ebitda da companhia passou dos 33,9% no ano passado para 38% no acumulado do ano até o terceiro trimestre.
Em relação à migração das ações da Nasdaq, o processo ainda precisa tramitar na B3 e na Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos). Com as autorizações em mãos, a empresa vai convocar uma assembleia para a homologação dos acionistas. Feito isso, e passados mais trâmites burocráticos, que deve consumir mais um mês, a incorporação será executada. A expectativa é que todo o processo seja finalizado até março.
A Vitru preparou uma operação complexa para fazer isso acontecer. Ela envolve a incorporação do veículo listado nos Estados Unidos, a Vitru Limited, que é dona da Vitru Brasil, pela Vitru Brasil, que vai listar as ações no Novo Mercado.
Os acionistas da Vitru Limited vão receber ADRs da Vitru Brasil, que poderão ser convertidas em ações. Os maiores acionistas da Vitru são as famílias que eram donas da UniCesumar, com 21,3% do capital social, seguidos por Carlyle SPX, com 17,4%; a gestora americana Neuberger Berman, com 12,2%; Vinci Partners, com 10,8%, Crescera, com 10,7%; e 23S Capital, com 5,2%.
Segundo Freitas, a expectativa é de que a medida possa aumentar a liquidez da companhia e atrair investidores brasileiros. “A gente era um player mais digital do que de ensino presencial. Então, a ideia era ir lá fora porque tínhamos diferenciais para mostrar, para acessar investidores que olham muito mais para tecnologia do que ensino superior físico”, afirma Freitas.
Desde o IPO, o mundo mudou. Juros em alta e situação geopolítica complexa deixaram os investidores estrangeiros mais seletivos, especialmente com empresas pequenas como a Vitru, que vale US$ 461 milhões.
“Isso é quase R$ 2 bilhões, mas para o investidor internacional é quase nada”, afirma Freitas. “Não estamos acessando o potencial do investidor internacional, nem do brasileiro nesta estrutura atual, por isso decidimos migrar.”
As ações da Vitru fecharam o pregão de quarta-feira, 20 de dezembro, com queda de 2,90%, a US$ 13,05. No ano, elas acumulam baixa de 41,7%.