Enquanto o mercado segue pessimista com os rumos do País, principalmente por conta da situação fiscal e da trajetória da dívida pública, André Esteves destacou o “copo meio cheio” do Brasil para um público de investidores estrangeiros.
Conhecido pelo tom diplomático quando o assunto são as perspectivas do País, o fundador e chairman do BTG Pactual afirmou nesta quarta-feira, 23 de outubro, no evento Bloomberg New Economy, que ocorreu em São Paulo, que a questão fiscal de fato precisa ser endereçada.
Ao mesmo tempo, Esteves afirmou que o País apresenta um crescimento robusto, na casa dos 3%, com déficit moderado em conta corrente e reservas líquidas, avaliando que a visão a respeito do País está muito mais pessimista do que deveria ser.
“Os mercados estão muito mais pessimistas do que o estado da economia”, disse Esteves. “É a falta de confiança em relação aos resultados fiscais de longo prazo e nós precisamos entregar isso.”
Para Esteves, a situação fiscal brasileira tem algumas semelhanças com os Estados Unidos, que também enfrentam um déficit elevado. No entanto, ele destacou que essa é uma questão no debate público brasileiro, enquanto os candidatos à presidência americana não tocam no tema. “Para resolver um problema é preciso identificar o problema”, disse.
Nesse sentido, o chairman do BTG Pactual mostrou uma visão positiva em relação ao trabalho que está sendo feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em criar um framework para a política fiscal, visando a conquistar credibilidade.
“É normal ter dúvidas, considerando o nosso passado, quando não tínhamos disciplina fiscal, então precisamos entregar”, disse. “Acredito que o ministro Haddad está bem cientes a isso.”
Apesar do elogio, Esteves afirmou que preferia que o governo estivesse em um arrocho maior “do que deixar a política monetária correr solta”. Para ele, considerando o baixo nível de desemprego, há espaço para revisar alguns gastos sociais, com o objetivo de trazer mais pessoas para o mercado de trabalho.
Ainda na parte do copo “meio cheio”, Esteves disse que, independentemente da matiz ideológica do governo, o Brasil tem feito reformas nos últimos anos. Ele destacou a Reforma Trabalhista do ex-presidente Michel Temer, a Reforma da Previdência feita no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e a Reforma Tributária, tocada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fundador do BTG também se mostrou tranquilo quanto à transição de comando no Banco Central, entre Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo. Destacando que essa é a primeira vez que a troca ocorre com a autoridade monetária contando com independência em relação ao Executivo, Esteves disse que o processo vem ocorrendo com tranquilidade e que ruídos políticos fazem parte.
“Às vezes, não notamos, mas chegamos a um nível razoável de institucionalização”, disse Esteves.