O Vale do Silício é local onde as empresas de tecnologia investem bilhões de dólares em escritórios inovadores, grandes espaços para colaboração, mesas de pingue-pongue e cafeterias sofisticadas.

Muitas vezes, os funcionários não precisam sair para comer e recebem refeições gratuitas no local de trabalho. Tudo isso para ficar o maior tempo possível dentro do escritório, trabalhando em um ambiente agradável e colaborativo.

A Apple, por exemplo, construiu em Cupertino seu quartel-general, que parece uma espaçonave, em um investimento estimado em US$ 5 bilhões. A Salesforce apostou numa torre de 61 andares no coração de São Francisco. E a Amazon construiu esferas de vidro em sua sede, em Seattle.

As sedes dessas gigantes tecnológicas marcam a paisagem urbana e valorizam o contato social, o inverso do isolamento social que a pandemia exige da maioria das pessoas para evitar a disseminação do coronavírus.

Mas, no meio da pandemia da Covid-19, em que as pessoas estão trabalhando remotamente de casa, os escritórios, da forma como conhecemos, estão sendo remodelados.

A questão que se coloca, neste momento, é como serão os escritórios no futuro? Há duas respostas e elas não são necessariamente opções excludentes.

De um lado, o home office vai aumentar. Muitas empresas estão estendendo o trabalho de casa até o fim deste ano. É o caso de Google e Facebook, por exemplo. Mas também de companhias com XP Inc e Nubank, no Brasil, que já anunciaram essas medidas.

Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral com a consultoria de recrutamento Talenses, realizada com 375 companhias no Brasil, indica que mais de 70% sinalizaram que pretendem adotar o home office parcial ou integralmente depois da pandemia.

Uma pesquisa indica que mais de 70% das empresas brasileiras pretendem adotar o home office parcial ou integralmente depois da pandemia

Mas isso não significa o fim dos escritórios. Ao contrário. Eles seguem fundamentais para encontros de negócios e devem ser ressignificados para os novos tempos, favorecendo espaços menores e mais flexíveis.

“Eu não acredito que o teletrabalho vai ser o novo normal”, diz Tiago Alves, CEO da Regus e da Space no Brasil. “No novo normal, as empresas vão precisar de espaços mais inteligentes.”

Alves diz que isso deve favorecer os escritórios compartilhados, porque eles são flexíveis e apresentam custos menores. “A palavra de ordem vai ser flexibilidade”, diz o CEO da Regus e da Space no Brasil, que afirma sua demanda corporativa cresceu 20% por conta disso.

Observe o que pensa o chefe do banco de investimento do Citigroup, Paco Ybarra, que acredita que no setor em que atua o contato face a face é importante.

“Sou muito cauteloso com isso", disse Ybarra, em uma entrevista ao Financial Times (FT). Ele argumentou que os bancos conseguiram tirar o máximo proveito do trabalho remoto por causa do “capital que acumulamos antes”, quando as pessoas se encontravam face a face.

"Em algum momento, você verá a depreciação desse capital e começará a ter problemas", afirmou Ybarra. “Alguns dos sentimentos que temos sobre o quão bem isso funciona, acredito que vão se perder com o tempo.”

No Vale do Silício, onde estão as principais empresas de tecnologia do mundo, no entanto, a percepção é outra.  Na semana passada, o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que acredita que, em até 10 anos, metade de sua força de trabalho, hoje em 45 mil funcionários, poderá trabalhar remotamente.

Para Zuckerberg, essa mudança será gradual porque exigirá novas técnicas e ferramentas para compensar a perda de interações pessoais no escritório.

Trata-se de um desafio para o qual o fundador do Facebook acredita que a empresa está bem posicionada, devido ao seu foco no uso da tecnologia para conectar pessoas. "É sobre como trabalhamos melhor e atraímos as pessoas que precisamos para fazer o melhor trabalho possível", disse Zuckerberg.

O Facebook não é a única empresa do Vale do Silício a pensar dessa forma. O CEO do Twitter, Jack Dorsey, disse que boa parte de seus funcionários vão poder trabalhar de casa permanentemente.

O trabalho remoto, no Vale do Silício, no entanto, pode ser uma opção vantajosa para empresas e funcionários. Explica-se: o custo de morar na região é muito alto, assim como o valor da força de trabalho.

Ao permitir que pessoas trabalhem de qualquer lugar, essas empresas podem buscar profissionais em qualquer parte do País – ou do mundo – ao mesmo tempo que em dão aos seus funcionários a possibilidade de morar onde quiserem (e a custos mais acessíveis).

“Hoje, estamos analisando o custo de competir por talentos no Vale do Silício e os aluguéis estão num nível extravagante” afirmou José Cong, que recruta talentos para empresas como Apple e Google, ao The Wall Street Journal.

Essa tendência vai favorecer empresas de escritórios compartilhados, como a Regus e o WeWork. O chairman da problemática startup do portfólio do Softbank, Marcelo Claure, disse que acredita que a empresa pode se beneficiar dessa tendência na pandemia.

“Eu acredito que não teremos mais empresas com enormes sedes corporativas”, disse Marcelo Claure, diretor de operações do Softbank e responsável pelos investimentos na América Latina, durante uma live para o painel virtual Brazil At Silicon Valley, na semana passada. “Mas elas vão precisar de escritórios menores. E isso favorece o WeWork.”

É o que pensa o ex-CEO do Google, Eric Schmidt, que acredita que o mundo pós-pandemia será de menor densidade demográfica. E que pequenas estações de trabalhos terão de ser estruturadas em regiões satélites, de modo a encurtar o deslocamento da população.

“Teremos que pensar em sistemas diferentes, em que pessoas não precisem se deslocar para regiões distantes, já que ninguém quer ficar por muito tempo em transportes públicos”, disse ele, em entrevista ao programa Face The Nation, da rede CBS.

No fim do dia, o novo normal será um misto velho escritório com o novo home office.

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