Ao longo de quase 12 anos em que Rodrigo Galindo esteve à frente da Cogna, o grupo educacional viu sua receita passar de R$ 599 milhões para R$ 5,9 bilhões, um crescimento de quase 10 vezes. O Ebitda teve uma expansão média de 34% ao ano no período. O número de cidades atendidas pelo ensino superior cresceu de 28 para 1,9 mil, formando 1,7 milhão de alunos.
Apesar dessa evolução, as ações da Cogna estão sendo negociadas nos patamares mais baixos desde outubro de 2012, há quase 10 anos, reflexo de um duro processo de reestruturação para transformar a companhia em mais digital. Hoje, a Cogna vale R$ 4,3 bilhões, uma queda de quase 90% desde o pico de setembro de 2017.
Em seu último balanço como CEO da Cogna, Galindo acredita que está deixando nas mãos de seu sucessor, Roberto Valério, que era o CEO da divisão de ensino superior Kroton, uma companhia pronta para voltar a brilhar perante o mercado. “É um trimestre só de boas notícias”, disse Galindo ao NeoFeed.
Em 2021, a Cogna alcançou um Ebitda recorrente de R$ 1,35 bilhão, um aumento de 96% em comparação ao ano anterior. A geração de caixa operacional foi de R$ 494 milhões, um crescimento de duas vezes. “É o caixa, não é uma métrica contábil. Não existe informação mais forte”, afirma Galindo.
Os dados do quarto trimestre de 2021 mostram um Ebitda recorrente de R$ 424 milhões, revertendo um resultado negativo de R$ 100 milhões no mesmo período do ano passado. O prejuízo líquido de R$ 75 milhões foi melhor do que as perdas de R$ 589 milhões no quarto trimestre de 2020. No ano, as perdas foram de R$ 210,7 milhões, menor do que o prejuízo de R$ 845,3 milhões de 2020.
Por outro lado, a receita da companhia manteve sua trajetória de queda. Em 2021, ela ficou 10,5% menor, em R$ 5,9 bilhões. No quarto trimestre, a redução foi 5,6%, para R$ 1,550 bilhão. “A receita ainda vai cair 5% em 2022 e só vai voltar a crescer em 2023”, diz Roberto Valério, que assumirá o cargo de CEO, no lugar de Galindo, a partir de 28 de fevereiro.
À frente da Cogna, a missão de Valério é dar continuidade a estratégia de transformar o grupo educacional em mais digital, avançar no ensino de medicina e crescer como uma plataforma de negócios através da Vasta, que tem capital aberto na Nasdaq.
“É o começo de uma nova era, com um novo CEO. Mas é uma estratégia que tem consistência e vem sendo construída junta”, diz Valério. “É uma continuidade e não haverá disrupção, nem piruetas.”
De acordo com ele, as receitas com ensino híbrido digital, medicina e plataformas educacionais representavam 4% em 2010. Em 2022, deverão atingir 50% da receita líquida. Em 2025, a meta é que chegue a 70%. “É uma estratégia clara”, reforça Galindo. “Construímos em conjunto e a mudança de CEO não muda nada.”
Um dos pilares dessa estratégia foi a reorganização da companhia, que se dividiu em quatro divisões e passou a adotar o nome corporativo Cogna em outubro de 2019.
As novas divisões incluíram a Kroton, para ensino superior; Somos, de educação básica; Platos, que reuniu o portfólio de produtos e serviços para o ensino superior; e Vasta, uma operação B2B focada em educação básica.
No fim de 2020, a Cogna apresentou um plano de atingir um Ebitda de R$ 2,4 bilhões e uma geração de caixa de R$ 1 bilhão, em 2024. Era mais uma tentativa de seduzir o mercado e melhorar o desempenho de suas ações.
Outro ponto importante é a área de medicina, cujo “carve-out” societário foi anunciado no ano passado. A KrotonMed tem um guidance de atingir 636 vagas em 2022. O objetivo é crescer de forma orgânica, mas não está descartado M&As para acelerar a expansão.
“Podemos ter essa fórmula, mas não precisamos fazer M&As. Só vamos fazer se fizer sentindo e encontrar o ativo certo pelo valuation correto”, afirma Galindo.
Nova vida
Na presidência do conselho de administração, Galindo vai se dedicar a questões estratégicas e de cultura digital. De acordo com ele, 70% do resultado do grupo educacional vem de estratégias relacionadas a transformação digital. “Somos uma empresa de educação e de tecnologia”, diz Galindo.
Questionado sobre qual foi o seu principal acerto à frente da Cogna, ele diz que foram as pessoas. “Construí um time capaz de fazer entregas”, afirma Galindo.
Sobre o erro, ele acredita que o maior deles foi ter minimizado o impacto que o Fies, o programa de financiamento estudantil do governo federal, traria para a organização.
“O último processo de captação de alunos estava crescendo 35%. Seria mais do que suficiente para compensar (a queda do Fies)”, diz Galindo. “Aí veio a pandemia.”
Galindo, além de se manter no conselho da Cogna e da Vasta, segue atuando à frente da Endeavor, entidade que promove o empreendedorismo, onde ele é chairman. Ele também está no board da Suzano.
Uma das coisas que ele diz que vai sentir falta será do contato do dia a dia com as pessoas com quem trabalhava. “Mas vou me relacionar com outras pessoas e em outros ambientes”, afirma Galindo. E como ele mesmo diz: “Cada escolha, uma renúncia.”