Após movimentarem o mercado bancário nos últimos anos, rompendo o domínio das instituições incumbentes, os neobancos começam a mostrar sinais de saturação.
É o que revela o levantamento mensal feito pelo Bank of America (BofA), mostrando que os downloads de aplicativos de bancos digitais caíram 34% em junho, para 12,4 milhões.
Embora o número permaneça próximo à média apurada nos últimos três meses, ele é inferior à média registrada a partir dos dados dos mesmos períodos de 2021 e 2022, de 19,5 milhões de downloads.
A situação é particularmente complicada para os neobancos menores, considerando que os principais nomes do segmento – Nubank, PicPay, C6 Bank, Banco Inter e Mercado Pago – representaram mais de 60% da quantidade total de downloads. Em junho do ano passado, o grupo representou 44% do total de apps baixados.
O relatório mostra que fintechs menores do mercado, como BanQi, da Via, Next e AME Digital, da Americanas, tiveram forte queda na quantidade de downloads.
Além dos dados de downloads, outro indício citado pelo BofA para explicar por que esse mercado está próximo da saturação é a quantidade de usuários ativos. Segundo o relatório, esse indicador permanece estável.
“Nós continuamos a ver evidências de consolidação e saturação da indústria em junho”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Mario Pierry e Antonio Ruette. “Agora, é uma questão de market share.”
A avaliação dos analistas do BofA já começa a ter efeitos práticos no mercado, com alguns neobancos e seus controladores se movimentando para continuar na disputa.
Um exemplo é o Bitz, carteira digital do Bradesco, com parte dos clientes migrando ao Next, também controlado pelo banco com sede na Cidade de Deus, em Osasco (SP), no começo deste ano. O Next já tinha se beneficiado da migração de 700 mil clientes pessoas físicas do BS2, no final de 2021, depois de a instituição priorizar contas para pessoas jurídicas.
Algo parecido aconteceu também com o Banco Original, com os seus clientes passando a integrar a base do PicPay a partir de junho deste ano. Ambos são controlados pela J&F, holding da família Batista.
Outros neobancos estão sendo obrigados a ajustarem as suas operações para continuarem no jogo. No começo do ano, o C6 Bank realizou uma rodada de demissões para adequar sua estrutura operacional ao momento de menor adesão aos bancos digitais e à redução da liquidez para startups.
O Neon também foi pelo caminho das demissões, quase um ano após atingir o status de unicórnio, cortando quase 9% de seu quadro de funcionários.
O NeoFeed apurou que o N26 colocou sua operação no Brasil à venda em razão dos números pequenos e da falta de escala. A fintech alemã respondeu que "vive um momento de excelentes resultados no País e tem mantido conversas constantes, tanto com possíveis investidores quanto com parceiros de mercado".
De acordo com dados do BofA, o número de usuários ativos do N26 caiu 12% em junho na comparação com o mesmo período do ano passado.