Em meio à promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de retomar os investimentos em infraestrutura, transformando o País “em um grande canteiro de obras” com a mais nova versão do PAC, a Jive Investments está de olho em projetos que não fazem parte das manchetes de jornais e portais de notícias.

A gestora especializada em ativos distressed, que tem um total de R$ 17,7 bilhões sob gestão, deu início neste segundo semestre a um processo para levantar de R$ 250 milhões até R$ 500 milhões até o fim do ano para abastecer seu fundo de crédito privado, o Jive BossaNova, com planos de destinar metade dos recursos a projetos de infraestrutura.

E a máquina de captação não deve parar seu trabalho em 2023. Ao longo de 2024, a ideia é captar de R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão para o fundo, também separando metade dos recursos para infraestrutura fora dos principais centros econômicos do País.

“Tem uma demanda por recursos para infraestrutura que não são de grandes empresas, mas de pequenas e médias com necessidade de capital que é exatamente a mesma dos grandes nomes, e que não está atendida”, diz Samer Serhan, sócio da Jive responsável pela parte de fundos de crédito privado e estruturado, ao NeoFeed.

Os recursos já possuem destino certo. No pipeline de dez investimentos do Jive BossaNova previstos para os próximos seis meses, que totaliza R$ 450 milhões, três projetos de infraestrutura devem receber pouco mais de 50% do montante previsto para financiamento. Os destinatários dos recursos não foram revelados, mas Serhan diz que se tratam de projetos em óleo e gás, geração solar e de comercialização de energia, todos privados.

Com o restante dos recursos esperados para 2023 e a captação para 2024, a ideia é expandir a carteira. Segundo Serhan, a Jive está de olho em um mercado que necessitará cerca de R$ 200 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos, citando cálculos feitos pelo Ministério da Fazenda. São recursos necessários para atender pequenos e médios projetos dificilmente atendidos pelo mercado.

Além de energia, a Jive quer avançar na parte de transporte e logística, vendo o segmento como um “driver” de investimentos e obras nos próximos anos, especialmente no Centro-Oeste, em que o crescimento do agronegócio não foi acompanhado por melhorias na infraestrutura para escoar a produção de grãos aos portos.

Dos R$ 200 bilhões calculados pelo Ministério da Fazenda, cerca de 50% devem ir para projetos de transportes, segundo Serhan. “Tem um monte de municípios e Estados prestes a soltarem editais e estamos junto com os empresários mapeando as oportunidades”, diz o gestor.

Outro segmento que a Jive está de olho é telecomunicações, diante da perspectiva de publicação de editais para construção de redes de cabos de fibra óptica através de Parcerias Público Privado (PPP). Segundo Serhan, a expectativa é de que Estados do Norte e Nordeste apresentem boas oportunidades. “Nessas regiões, tem fácil R$ 500 milhões em PPPs para acontecer, embora não aconteça de uma vez”, diz Serhan.

O interesse pela infraestrutura

O Jive BossaNova não é um fundo destinado exclusivamente à infraestrutura, concedendo crédito para empresas que precisam de capital imediato para uma série de operações, de compra de novos ativos, passando por fusões e aquisições e até necessidade de recursos para rolar dívida e fortalecer capital de giro.

Mesmo assim, a gestora vem destinando parcela relevante dos recursos do fundo ao financiamento de obras públicas e privadas desde que foi lançado, no final de janeiro de 2022. Em maio do mesmo ano, veio a primeira operação, com um empréstimo de R$ 35 milhões para a construção de uma usina térmica em um lixão na cidade de Paulínia, interior de São Paulo.

O empreendimento é uma joint venture entre a Mercúrio Partners, o Grupo Gera e a Orizon Valorização de Resíduos, que identificaram a possibilidade de produzir energia a partir da queima de metano, resíduo do aterro e que não tinha qualquer utilização até então.

Apesar da situação peculiar do projeto, uma vez que o lixão estava em recuperação judicial, o projeto apresentou um retorno bastante positivo, considerando que a energia produzida a partir de um subproduto, vendida para a CPFL, resultou em margens elevadas.

“Daí em diante começamos a olhar com muita profundidade o setor de infraestrutura e começou a aparecer um monte de coisa, até como resquício da pandemia, que ficou represado”, diz Saher.

Um exemplo é o empréstimo de R$ 50 milhões para a Socicam, empresa que conta com a concessão dos três principais terminais rodoviários de São Paulo, Tietê, Jabaquara e Barra Funda e que lidava com aperto de capital de giro.

A predileção por infraestrutura vem do fato de as empresas e seus projetos apresentarem uma série de fatores combinados que fazem com que o valor recuperável em caso de inadimplência seja elevado.

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Samer Serhan, sócio da Jive responsável pela parte de fundos de crédito privado e estruturado

Quando analisa um financiamento via o BossaNova, a Jive busca por setores com elevadas barreiras de entrada, margens elevadas, receitas futuras previsíveis e sócios capitalizados, algo que empresas de infraestrutura têm de sobra. “São empresas que têm um imobilizado grande o suficiente, com bom valor de mercado, caso precise ir lá tomar lá e vender depois”, diz Serhan.

Por atender companhias com necessidade de capital imediata e outras que eventualmente não seriam olhadas por grandes instituições, o fundo é do tipo high yield, o que significa que as taxas cobradas pelos empréstimos são maiores do que a média no mercado. No caso dos três projetos de infraestrutura que a Jive deve financiar nos próximos seis meses, a remuneração varia de uma taxa DI mais 6% a DI mais 9%.

Isso ajuda a garantir a rentabilidade do fundo, que no acumulado do ano é de 11%, contra 8,9% do CDI. Desde que foi lançado, em fevereiro de 2022, ele entregou uma rentabilidade nominal de 27,3%, contra 21,5% do CDI.

A expectativa é de que essa política ajude no processo de captação do Jive BossaNova até o final deste ano e ao longo de 2024. A situação para a Jive, assim como para outra gestoras, melhorou depois de um primeiro semestre terrível, marcado pelos efeitos de casos como Americanas e Light.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) apontam que, em agosto, a renda fixa registrou a maior entrada líquida entre as classes dos fundos de investimentos, com uma captação de R$ 22,4 bilhões, maior volume desde março de 2022.

Entre os tipos de fundos, aqueles na categoria renda fixa duração livre crédito livre, que podem manter mais de 20% da sua carteira em títulos de médio e alto risco de crédito do mercado doméstico ou externo, em que o BossaNova se encaixa, que registraram uma entrada positiva de R$ 6,8 bilhões em agosto.

Serhan corrobora a avaliação de que o momento está melhor, dizendo que a situação melhorou a partir de agosto e que, em setembro, o fundo está captando, por dia, o dobro do que estava captando em agosto, “sem fazer esforço algum”, gerando boas expectativas para os esforços de captação da Jive.

“Com os números que temos hoje, até o fim do ano, de maneira passiva, entra R$ 100 milhões. Com um esforço mínimo, um pouco de stamina, mais uns R$ 100 milhões. Saindo para rua, fazendo campanha, trazendo outros distribuidores, a gente consegue captar entre R$ 250 milhões a R$ 500 milhões em seis meses”, afirma.