Quando a bateria de seu carro arriou a caminho do trabalho, Nathan Apodaca sabia exatamente o que fazer. Mas não imaginava o que lhe esperava. O americano de 37 anos tirou do porta-malas o skate tipo longboard e seguiu assim, "deslizando", até a fábrica de processamento de batatas onde cumpriria jornada integral. 

No caminho, sacou o celular e filmou a si, "tirando onda" da aventura inesperada e bebericando um suco de cranberry – seu preferido. Tudo isso ao som da música Dreams, faixa do álbum "Rumours", lançado pela banda Feetwood Mac, em 1997.

O vídeo foi publicado no TikTok, com a simples e previsível legenda "morning vibes". Na plataforma, o americano compartilhava com poucas centenas de pessoas sua rotina no estado de Idaho. 

Em questão de duas horas as "poucas centenas" de usuários se tornaram 2,3 milhões de viewers e, hoje, quase duas semanas depois, o filme de Apodaca andando de skate enquanto bebe suco de cranberry já foi visto, curtido, comentado e compartilhado por mais de 50 milhões de pessoas em todas as plataformas sociais. 

Sem dominar SEO, marketing de rede ou qualquer outra ferramenta de engajamento, Apodaca conseguiu o que muita gente quer e poucos conseguem: se tornou viral. Um meme do bem.

Junto com a fama inesperada vieram outras bonanças. O americano recebeu quase US$ 20 mil em doações, ganhou uma caminhonete 0km da marca de sucos, assinou acordos de divulgação com Justin Bieber e Travis Scott, recebeu pedidos de entrevistas de jornais do mundo inteiro – e contratou uma empresária.

"Liguei para o Nathan assim que vi o vídeo. Me apresentei rapidamente e disse que queria representá-lo, e ele respondeu: 'mas por qual razão eu precisaria de uma empresária?'", relembra Gina Rodriguez, talent manager da agência Gitoni, ao NeoFeed.

https://www.youtube.com/watch?v=lcWA2wEFkeY

No final daquele mesmo dia, Apodaca entendeu a procura e o papel da empresária. "Ainda acho tudo isso muito surreal, para ser sincero. Mas o momento mais marcante dessa loucura toda foi ver Mick Fleetwood (idealizador e líder da banda Fleetwood Mac) criando uma conta no TikTok e reproduzindo o meu vídeo. Ainda não consigo acreditar nisso", conta o novo "influencer" ao NeoFeed

Apesar do choque, é facilmente compreensível entender o gesto do músico. De acordo com a Rolling Stones, nos dias que seguiram a publicação do vídeo de Apodaca, as vendas da música "Dreams" saltaram 184%. No Spotify, a reprodução da faixa cresceu 127% e no iTunes, 221%. No Shazam, aplicativo de identificação musical, a canção alavancou 1.137% e chegou a ficar em 18º lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos. 

O "efeito Apodaca" também elevou as vendas do suco de cranberry. Embora a Ocean Spray, marca da bebida, não revele o número exato da alta de sua comercialização, ele certamente fez valer a pena o carro de cerca de US$ 30 mil que a companhia deu ao skatista amador. O CEO da marca, Tom Hayes, fez sua parte e também reproduziu o vídeo, andando de skate ao som da mesma trilha sonora, e bebericando a bebida.

Segundo Rodriguez, outras "dezenas de contratos" estão sendo analisados, e já é possível afirmar que Apodaca ganhou três vezes mais dinheiro nessas últimas duas semanas do que ele ganha em um ano inteiro trabalhando na fábrica de batatas.

Embora ninguém consiga explicar exatamente como o americano viralizou, Gina aposta que a autenticidade do vídeo foi o fator-chave. "Gente no mundo inteiro consegue se identificar com a sensação de liberdade despretensiosa desse vídeo, e souberam reconhecer que o Nathan estava sendo ele mesmo", explica.

O gesto foi replicado por diversos usuários nas plataformas, num "desafio" que ganhou múltiplos nomes, como "CranberryChallenge",  "DreamsChallenge" ou "DoggfaceChallenge" – numa alusão ao username de Apodaca nas redes. Policiais e até oficiais do exército americano entraram na onda, usando um helicóptero militar na brincadeira.

https://www.youtube.com/watch?v=NTu0rx6ngzo&t=8s

A luta, agora, é para manter o americano relevante. Quando anônimos, como Apodaca, viram celebridades da noite para o dia, o trabalho, explica Rodriguez, é torná-lo uma marca para monetizar em cima disso. "Eu consigo vê-lo na TV, mas podemos também trabalhar sua paixão pela música, pelo skate e até pela maconha", diz.

Apodaca, que está procurando uma casa para comprar, já começa a se sentir confortável com o rótulo de influencer e segue produzindo conteúdo para os 1,6 milhão de seguidores que cultiva no Instagram, onde atua sob a alcunha @doggface208. No TikTok, são 2,2 milhões de pessoas que o seguem na conta @402doggface208.

A empresária sabe que cada rede social tem seus "truques" e que certo material pode funcionar para um canal, e não para outro. Por sorte, Apodaca parece estar ciente disso também. Tanto que ele usa sua página no Youtube, que agora conta com mais de 20 mil inscritos, para compartilhar vídeos de unboxing. Nas últimas duas semanas não faltaram "mimos" de marcas para a nova celebridade do pedaço abrir na "praça pública" da internet.

"É importante se manter ativo em todas as redes para abocanhar mais possibilidades com as marcas. O orçamento do marketing, ou o tamanho da torta, continua o mesmo, mas com a chegada do TikTok é preciso dividi-la ainda mais", explica Rodriguez.

Mesmo com a fração, a empresária garante que influenciadores, hoje, podem ganhar tanto quanto estrelas hollywoodianas. "Quando comecei nesse mercado, todo mundo queria aparecer na televisão e no cinema, mas hoje, com essas redes, é possível conseguir a fama e a fortuna desejada sem as mídias tradicionais", diz ela, que agencia também a rapper Blac Chyna, a atriz Tori Spelling e o ex-jogador de basquete Lamar Odom.

Para um vídeo ser considerado "viral", a regra é que ele acumule 5 milhões de visualizações em até uma semana. Mas Rodriguez acha pouco – "eu diria que pelo menos 10 milhões de views". 

Chegar nessa marca, porém, é tão difícil quanto é recompensador, pelo menos do ponto de vista financeiro. E Apodaca, que o fez "sem querer", diz que seu desafio, agora, é manter sua essência e fazer as pessoas felizes, sabendo que é praticamente impossível repetir a dose: "Chama-se 'viral' por um motivo: o contágio é rápido e, na esmagadora maioria das vezes, é único também". 

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