O empresário Chaim Zaher, comandante do Grupo SEB, já se conformou com as perdas econômicas do setor de educação neste ano. “As receitas caíram ao redor de 30%. Fora a inadimplência que chegou a 20%. Ou seja, as escolas tiveram uma queda de 50% enquanto os custos se mantiveram”, diz Zaher ao NeoFeed.

Em se tratando de uma companhia robusta, com 250 mil alunos espalhados por 300 escolas, entre próprias e franqueadas, de marcas como Pueri Domus, Concept, Maple Bear e outras, não é um número que se despreze. Afinal, o grupo gera um faturamento de mais de R$ 1 bilhão por ano.

Zaher, entretanto, não se conforma em ver as escolas fechadas enquanto bares, restaurantes e shoppings funcionam normalmente. “É um absurdo. A judicialização e a politização fazendo uso do setor de educação é o fim da picada!”, diz ele.

“Essas crianças estão ficando doentes. Elas vão sofrer na próxima década com isso. Se não socorrermos, serão crianças deprimidas, desanimadas e não podemos deixar isso acontecer. Vai custar muito caro para a humanidade o que está sendo feito”, afirma Zaher, com a propriedade de quem atua no setor há mais de cinco décadas.

No pós-pandemia, diz o empresário, as escolas precisarão de uma reengenharia para mudar o ambiente e o modo de lidar com os alunos. Além disso, as mensalidades deverão subir e será necessário um programa parecido com o Fies para o ensino fundamental. “Não só necessário, como vital”, afirma.

Ao mesmo tempo em que analisa os efeitos da pandemia no setor, ele prepara o braço de franquias do grupo para uma abertura de capital na Nasdaq. Já contratou bancos e advogados para estruturar o negócio que, segundo ele, vai reunir as marcas Maple Bear, de A a Z, Luminova, Conexia e Sphere, e pode valer US$ 1 bilhão na bolsa.

Zaher, que tem uma participação de 3% na Yduqs e de pouco mais de 1% na Cogna, também vem acompanhando as movimentações na disputada compra das operações da Laureate no Brasil e afirma que, neste negócio, “tem muita disputa de ego”. Mas enxerga que o processo de consolidação no setor de educação superior é irreversível.

Por isso mesmo, está avaliando quais serão os seus próximos passos nesse segmento em que conta com marcas como UniDomBosco e Faculdade Ipanema. “Temos 20 mil alunos, estamos indo bem, mas somos pequenos no ensino superior. Então, ou vou partir para uma aquisição ou vou vender”, diz Chaim. “No meio do rio não vou ficar, não vou me afogar.” Acompanhe a entrevista ao NeoFeed:

O que vai mudar no setor de educação no pós-pandemia?
Vai ser uma mudança radical. O vírus veio para ficar, portanto, teremos de conviver com ele. E, para isso, precisaremos trabalhar mais essa parte socioemocional, ter profissionais que saibam acompanhar os alunos, principalmente os da educação básica. Precisaremos treinar mais os professores e a tecnologia terá mais espaço dentro das instituições. Também será necessário ampliar as salas de aula e os ambientes que não são arejados, coisas que os pais não davam tanta atenção e agora vão dar. Além disso, terá de ter menos alunos nas salas de aula.

Quanto menos?
Agora falam que pode colocar 35% dos alunos. Mas uma escola não sobrevive com isso se ela programou a vida dela para ter 100%. É claro que depende de cada segmento. Nas salas dos pequenininhos, têm dez alunos, depois vem para 15 conforme vão crescendo e chega no limite de 45 alunos. Imagina você fazer um custo de 45 alunos, colocando professores, toda a estrutura por trás e daqui a pouco reduz para 35% da turma. ‘Ah! Mas uma parte da turma estará recendo aulas online em casa’. O custo vai dobrar. Portanto, as escolas terão de trabalhar com valores maiores. Menos alunos, cobrando mais.

Isso vai afetar em cheio o seu negócio...
A Luminova, por exemplo, terá problema se não conseguir equacionar os custos dela. Aquela mensalidade de R$ 600, que era cobrada, terá de ser revista. Estávamos trabalhando com prédio cheio, salas cheias e teremos de rever esse conceito.

Acredito que todo o setor passará por isso. Será um problema para os pais e para as escolas, não?
Vai ter que ter uma reengenharia no setor de escolas. Não dá mais para ter aventureiros brincando de montar escola, isso vai acabar. A aventura em educação vai acabar. Vão sobreviver os educadores, os que têm retaguarda de profissionais que entendam de números, para não exagerar no valor de modo que inviabilize o pagamento por parte dos pais, mas que também possa ter um retorno adequado para que a escola não fique no negativo por muito tempo. Neste ano, todas as escolas perderam.

As receitas caíram quanto?
Ao redor de 30%. Fora a inadimplência que chegou a 20%. Ou seja, as escolas tiveram uma queda de 50% enquanto os custos se mantiveram. Neste ano, o setor já perdeu. Agora, olhando para frente, precisa ter um estudo que permita que as escolas sobrevivam. Te diria que muitas escolas nem voltam mais, muitas não vão sobreviver.

Você falou de reengenharia. O grupo está investindo nisso?
Estamos investindo muito na parte sanitária, na questão da segurança. Preparar tapetes na entrada, medir temperatura, máscaras. Trazer mais profissionais que vão acompanhar os alunos para não terem contato direto, arrumar os refeitórios. Não dá mais para ter aquela escola que se tinha antes.

Quanto está sendo investido nisso?
Mais ou menos R$ 30 milhões.

Os shoppings, bares e restaurantes estão abertos e as escolas continuam fechadas. Qual é a sua opinião sobre isso?
É um absurdo. A judicialização e a politização fazendo uso do setor de educação é o fim da picada! Existe um ecossistema que deve ser respeitado. Um ecossistema formado pelos pais, pelos alunos, pelos professores, pelas escolas e pela saúde. Deixa esse pessoal definir. São eles que entendem o que é melhor para os próprios filhos. Quando começa a politizar porque tem eleições... Uma coisa é escola pública e outra coisa é a privada. ‘Ah! Vai abrir o fosso da desigualdade’. Esse fosso já existe há décadas. Não tem que abrir, mas não é numa semana que vai acontecer isso. Aí, no mesmo Estado, uma cidade permite abrir e outra não. Não há uma central que define. Passa para o governo estadual, que passa para o municipal e passa para o secretário de educação. Isso é um desmando, um absurdo.

“Essas crianças estão ficando doentes. Elas vão sofrer na próxima década com isso”

Qual é o impacto disso?
Essas crianças estão ficando doentes. Elas vão sofrer na próxima década com isso. Se não socorrermos, serão crianças deprimidas, desanimadas e não podemos deixar isso acontecer. Vai custar muito caro para a humanidade o que está sendo feito. Agora, como você explica para uma criança que ela não pode ir para a escola enquanto a mãe leva no shopping, na praia, no parque temático? Olha o avião! Um do lado do outro! Isso não pega e escola pega? Acho isso um absurdo, lamentável, recrimino esse tipo de atitude. Ninguém está pensando nas crianças e nos pais. Você fala para o pai que ele pode ir trabalhar e o que ele faz com o filho? Nas escolas privadas, é um pouco mais confortável porque as pessoas têm uma acomodação melhor. E aqueles que moram na comunidade, seis ou sete pessoas dividem um cômodo e o filho fica sem aula, sem comida em casa, que a refeição do dia era a merenda escolar? Esses, sim, têm problemas. É desses que os governos deveriam cuidar, não das privadas.

Você é controlador da Maple Bear, que tem presença no mundo inteiro. Quais são os países que trataram melhor essa questão da educação?
Os países que têm os melhores índices do mundo. Finlândia, Cingapura, Canadá. Esses países já voltaram há muito tempo. Pode dar problema, recua, mas voltaram um dia, dois dias. O único país do mundo que ainda não voltou foi o Brasil. É coincidência isso? Por que o nosso Pisa (Programme for International Student Assessment ou Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) está lá embaixo? Por que a educação pública está desse jeito? Isso é mais política do que qualquer outra coisa. No Rio de Janeiro, o governador liberou, a cidade disse como ia fazer e aí veio a Justiça do Trabalho falar que não podia ter aula. Justiça do Trabalho interferindo no ecossistema da educação. Isso é o fim do mundo.

E tem os sindicatos também...
Eles dizem que os professores podem ter problemas. A maioria quer voltar. Aliás, abrindo um parêntese, os professores foram heróis. Graças aos professores, que se reinventaram, que as crianças não estão doentes. Se não fossem esses professores dando aulas online, não sei o que seria dessas crianças. E é bom frisar que algumas cidades voltaram. Em Manaus (AM) as privadas voltaram, em Sorocaba (SP), em São José dos Campos (SP). Voltaram com responsabilidade.

“Como você explica para uma criança que ela não pode ir para a escola enquanto a mãe leva no shopping, na praia, no parque temático?”

Você disse que será necessário aumentar as mensalidades. Qual será o tamanho do reajuste?
A previsão é de um reajuste de 4,5%. Está todo mundo com medo de passar esse custo que vão ter até porque os pais também sofreram as consequências dessa crise.

Tempos atrás, você defendeu um Fies para a educação básica. Você ainda acha necessário?
Não só necessário como vital. Já tem projeto para que isso seja votado. Se não cuidarem da educação básica, não adianta colocar no ensino superior. E outra coisa que precisa ser entendida é que as escolas não podem mais dar aulas do mesmo jeito que davam antigamente.

Por quê?
Porque os alunos de hoje são diferentes. É preciso falar para eles sobre meio-ambiente, o que é o vírus, o que é economia, gestão, empreendedorismo. Essas aulas tradicionais e o próprio currículo têm de acabar.

“O Ministério da Educação, infelizmente, ainda é um dinossauro, antiquado”

O Ministério da Educação precisa fazer essa mudança?
O Conselho Nacional de Educação já está olhando e está fazendo um trabalho maravilhoso. O Ministério da Educação, infelizmente, ainda é um dinossauro, antiquado. Passam ministros, um entra, o outro sai, e um muda o que o outro fez. Não tem mais sentido, por exemplo, as profissões tradicionais serem ensinadas do mesmo jeito.

De que forma?
Não dá mais para falar em medicina sem falar em telemedicina, em inteligência artificial, em internet das coisas. Hoje é possível ter um médico na Alemanha operando no Brasil. O curso de direito tem que mudar. Já tem até robô dando sentença. Vai ensinar o quê para o cara? Latim? Esses conceitos precisam ser mudados.

Recentemente, você já disse que pretende abrir o capital da Maple Bear. Vai mesmo fazer isso?
Já estou preparando. Temos banco, auditoria, advogados. Vou fazer um IPO internacional. À princípio, queremos a Nasdaq. Lá fora estão pagando mais. Mas neste ano não. Provavelmente no meio do ano que vem. E também me preparo melhor porque não tive oportunidade ainda de trabalhar o internacional. Fiz a aquisição da Maple Bear, em março, e aí veio a pandemia. Comprei agora uma escola na Austrália, entramos em Portugal e no ano que vem teremos mais estrutura. Mas não pretendo abrir capital só da Maple Bear.

O que mais vai entrar nessa abertura de capital?
Pretendo abrir o meu braço de franquia, que é a Maple Bear, a de A a Z, a Luminova, a Conexia e a Sphere. São cinco franquias.

Então vai ser um IPO mais robusto, uma empresa que pode valer bilhões...
Com certeza. Só a Maple Bear já vale mais de R$ 1 bilhão. Aliás, já recebi mais de três propostas pela Maple Bear, propostas de mais de R$ 1 bilhão. Eu consegui resistir. Prefiro fortalecer mais, tem um espaço grande para a gente.

Esse negócio pode chegar a quantos bilhões?
Se fizermos o dever de casa como fizemos aqui no Brasil, pode ser um negócio muito grande. Aqui, com a Maple Bear, começamos com 10 mil alunos e hoje temos 25 mil alunos. No exterior, temos outros cerca de 25 mil alunos. Tem muito espaço para crescer nos Estados Unidos, na Índia. As franquias do grupo podem valer US$ 1 bilhão na bolsa.

“As franquias do grupo podem valer US$ 1 bilhão na bolsa”

Será uma oferta primária ou secundária?
Vai ser primária. Quero investir no mundo inteiro e fazer aquisições. Aliás, não descarto fazer uma grande aquisição antes do IPO. Estou vendo aqui e no exterior.

E as escolas próprias, que não são franqueadas, vão entrar no IPO?
Nelas, não vamos mexer. Minhas filhas vão tocar. É um trabalho de cinquenta anos nas mãos da família. No caso das franquias, podemos deixar até 50% ou mais em free float. E tem também o negócio de educação superior do grupo, que é pequeno, que estamos avaliando.

O que estaria avaliando?
Ou a gente cresce com ele ou vai sair dele. Não dá mais para ficar no meio do rio.

Mas vocês estão olhando opções?
Tanto para comprar como para sair. No meio do rio não vou ficar, não vou me afogar. Temos 20 mil alunos, estamos indo bem, mas somos pequenos no ensino superior. Então, ou vou partir para uma aquisição ou vou vender.

Aliás, há uma disputa agora pelas operações do grupo Laureate no Brasil. Como você enxerga esse processo de consolidação?
A Laureate está vendendo suas operações por um valor de R$ 4 bilhões. A Ser acho que não vale isso, a Ânima está falando em comprar e também não vale isso, a Yudqs também dizendo que vai entrar. É uma disputa muito grande e não dá para saber quem leva. Tem aí uma disputa de ego, de poder e de primeiro, segundo e terceiro lugar no mercado de educação. Vai ter muito movimento nesse xadrez, mas vai levar quem pagar mais em cash.

“Vai ter muito movimento nesse xadrez (sobre a disputa pela Laureate no Brasil), mas vai levar quem pagar mais em cash

Por que as ações das empresas de educação estão sendo tão castigadas na bolsa?
Falta um pouco de o pessoal mostrar o que eles pretendem na sequência. Acho que o pessoal não conseguiu convencer os investidores com fatos. É muita promessa e pouca ação concreta. Aliado a isso, veio o coronavírus. O mercado pensou, ‘as pessoas vão perder emprego e não vão ter dinheiro para pagar estudo’. O pessoal precisa mostrar plano para os próximos três anos. Acho que os valores estão muito baixos pelo que elas representam. Basta olhar o caixa dessas empresas e ver o trabalho que estão fazendo. Acho que as ações estão muito baratas. Eu estou comprando. Se não achasse que está barato, não entraria, eu conheço isso.

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