Desde que recebeu um aporte de R$ 440 milhões da Bain Capital, em 2021, a Bionexo separou R$ 300 milhões para investimento em tecnologia e M&As. O primeiro deles acaba de sair. A companhia anuncia hoje a compra da TKS, empresa dona da plataforma BeeCare.

O valor do negócio não foi revelado, mas a aquisição vai impulsionar uma vertical da Bionexo em um segmento que movimenta bilhões de reais por ano: o chamado revenue cycle management, a relação de gastos entre os hospitais e as operadoras de saúde.

É notório que a convivência entre hospitais e operadoras de saúde não é das mais harmoniosas, sempre há uma discussão do material que foi usado e do que será pago. A Bionexo já tinha comprado, em 2020, uma empresa chamada Avatar Soluções nesse segmento.

Agora, com a BeeCare, a companhia aumenta a sua participação nessa etapa para diminuir a fricção entre as partes. “Imagina que sou um hospital e atendo cinco convênios diferentes. Cada convênio tem uma regra e um formato para receber as informações dos hospitais. Isso gera um caos nas contas”, diz Rafael Barbosa, CEO da Bionexo, ao NeoFeed.

Além de ser um caos, gera o que o mercado chama de glosa, faturamentos não recebidos ou recusados por problemas de comunicação entre hospitais e convênios. As perdas entre o que é usado e o que é cobrado são bilionárias. “A nossa plataforma organiza isso”, diz o executivo.

Ao comprar a BeeCare, a Bionexo atinge 300 clientes, entre hospitais e laboratórios nesse segmento. São nomes como Albert Einstein, Sírio Libanês, Dasa, Fleury, entre outros. “Basicamente, todos os hospitais precisam de uma solução de gestão para o ciclo da receita.”

A aquisição é também mais uma etapa na jornada que a empresa batizou de “from planning to cash”, para estar em todas as etapas da cadeia. E, segundo o CEO, outros M&As virão pela frente.

Rafael Barbosa, CEO da Bionexo

Desde a sua fundação, em 2000, a Bionexo se propôs a fazer a intermediação entre fornecedores e compradores no mercado hospitalar. Hoje, são 2,6 mil hospitais e pouco mais de 30 mil fornecedores conectados na plataforma. Desse total, 5 mil pagam por assinaturas de produtos específicos. Só no ano passado, a plataforma movimentou mais de R$ 16 bilhões.

Com um faturamento de R$ 148 milhões nos últimos 12 meses a partir do primeiro trimestre deste ano, a meta é alcançar R$ 180 milhões de receita em 2022. As soluções são vendidas à medida que o processo vai ficando mais complexo. “Fazemos o cross sell dentro da plataforma”, diz Barbosa.

Um exemplo claro dessa atuação acontece no processo de cotação de um produto. Dentro da plataforma da Bionexo, um fornecedor recebe mais de 2,2 mil cotações por dia. São pedidos dos hospitais para comprar insumos. Mas, para responder todas as solicitações manualmente, é preciso ter centenas de funcionários.

A Bionexo, então, desenvolveu um software para que os fornecedores coloquem seus parâmetros e, por meio de inteligência artificial, as respostas para as cotações são enviadas automaticamente.

A companhia iniciou com materiais hospitalares, depois partiu para uma área específica para órteses e próteses usadas em procedimentos cirúrgicos. Esse último segmento já movimenta R$ 2 bilhões por ano na plataforma.

Além disso, a empresa também faz a gestão de estoque dos hospitais por tecnologia RFID. Para dar conta do crescimento e da oferta, a Bionexo passou a investir fortemente em tecnologia, sobretudo nos últimos anos.

Dos 500 funcionários da companhia, dois terços são de tecnologia – hoje espalhados por 90 cidades do país. “Investimos 30% da nossa receita em tecnologia”, diz Barbosa. Para suportar esse crescimento, a Bionexo foi se capitalizando nos últimos anos.

Em 2017, Prisma Capital, de Marcelo Hallack, entrou no cap table da companhia. Em 2018, a Temasek injetou R$ 95 milhões. No ano passado, foi a vez do aporte da Bain Capital por meio do fundo Tech Opportunities Fund, o veículo da gestora que investe em tecnologia e Software as a Sesvice (SaaS).

A entrada da Bain Capital preencheu a lacuna de um IPO que a Bionexo iria fazer e adiou por conta da janela de mercado que se deteriorou no fim do ano passado. “Chegamos a considerar enquanto o cenário se mostrava favorável.”

Com isso, a empresa ficou dividida da seguinte maneira: Mauricio Barbosa, fundador da empresa, com 13,43%; Prisma Capital com 25,47%, Temasek com 23,83% e o restante com a Bain Capital. “Neste ano, entre P&D e M&A, vamos investir R$ 100 milhões”, diz Barbosa.