Califórnia - A corrida presidencial americana, que já é cheia de obstáculos, acaba de ganhar mais um. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, assinou uma nova lei que, de certa maneira, obriga todo e qualquer candidato a entregar suas declarações do imposto de renda dos últimos cinco anos. A documentação será disponibilizada online para toda a população, mas informações sensíveis e pessoais serão preservadas do público.

Republicanos e democratas que se recusarem a entregar a papelada até novembro deste ano terão seus nomes excluídos das cédulas eleitorais das primárias, marcadas para março de 2020. Nos EUA, as eleições são indiretas e acontecem por fases: nas primárias, os eleitores definem quem vai ser o candidato do partido e só depois os partidos se enfrentam nas urnas.

A lei não tem o poder de barrar a candidatura de ninguém, mas, por se tratar do Estado mais populoso dos EUA e um dos mais importantes para as eleições, ela pode dificultar muito a vida do candidato que se recusar a cumpri-la, porque ele perderia os delegados daquele Estado – justamente o mais forte no processo eleitoral.

Embora não mencione nenhum "alvo" específico, fica subentendido que um dos principais afetados seria o republicano Donald Trump, que tenta a reeleição à Casa Branca em 2020. O magnata causou polêmica ao negar mostrar seu imposto de renda nas eleições de 2016, como é praxe entre os candidatos.

As especulações à época, e que ainda persistem, é de que Trump paga muito pouco de imposto, ou o empresário não tem tanto dinheiro como afirma. Mesmo a pressão da mídia e do público não foi suficiente para reverter a situação.

"Vivemos tempos extraordinários e os Estados têm o dever legal e moral de fazer todo o possível para garantir que as pessoas interessadas em assumir a presidência atendam às exigências mínimas, a fim de garantir a restauração da fé pública", declarou Newsom, por por meio de uma carta aberta.

Ainda no comunicado do governador fica claro que ele acredita que essa nova regra vai jogar luz em questões relativas a conflitos de interesse e até influências de empresas estrangeiras no processo eleitoral.

A lei não tem o poder de barrar a candidatura de ninguém, mas ela pode dificultar muito a vida do candidato que se recusar a cumpri-la

Quem não concorda em nada com o governador e sua nova lei é o diretor de comunicação da campanha de reeleição de Trump, Tim Murtaugh, que apontou a inconstitucionalidade dessa medida. "A Constituição americana é bastante clara quanto às qualificações necessárias para quem deseja se tornar presidente, e os Estados não podem adicionar outras exigências", afirmou Murtaugh.

O senador republicano Shannon Grove ecoou a opinião de Murtaugh e ainda pediu aos democratas que parem de "cutucar a onça"

O curioso é que essa mesma lei já havia sido vetada na Califórnia, em 2017, por outro governador democrata, Jerry Brown. Para justificar sua oposição, Brown explicou à época que as declarações poderiam ser apenas o começo. "O que viria depois disso? Relatórios médicos? Certificado de nascimento autenticado? Boletim do ensino médio? E esses requisitos vão variar dependendo de qual partido político está no poder?", questionou Brown.

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