Na disputa pelos investidores, cada vez mais, as plataformas estão sendo obrigadas a ir além da oferta de produtos de investimento. A lógica é simples: é necessário manter todo o dinheiro do cliente circulando dentro do próprio ecossistema. A XP fez isso, a Genial idem e o BTG Pactual criou o BTG+ também para abarcar esse cliente de varejo.

Agora, chegou a vez de mais uma companhia fortalecer a área de banking para não perder o dinheiro dos investidores. Trata-se da Rico, a marca de combate da XP Inc. voltada para o público jovem. Depois de um investimento total de R$ 70 milhões neste ano, a corretora anunciou com exclusividade ao NeoFeed que vai lançar conta digital e cartão de crédito no último trimestre do ano.

O foco serão os clientes com renda acima de R$ 5 mil. “Queremos ajudar os clientes a ter um consumo saudável para poderem virar poupadores, investidores e, depois, grandes investidores. Vamos chegar em uma parcela da população que pouca gente está olhando”, diz Pedro Canellas, head da Rico, ao NeoFeed.

O motor por trás da conta e do cartão será do Banco XP, mas a cara dos produtos será da Rico. Além da conta e do cartão, a corretora também planeja oferecer seguro e um serviço de exchange de criptomoedas até o primeiro trimestre do ano que vem. Canellas afirma que 50% da base da Rico terá acesso ao cartão já na largada.

A meta é triplicar a base de clientes da companhia até 2025. A empresa não revela a quantidade de clientes e não dá pistas sobre o volume que tem sob custódia, mas dá para ter uma ideia do tamanho da corretora. Com mais de 1 mil produtos, 500 fundos, a Rico processa 250 mil ordens por dia.

Neste ano, a Rico resolveu atualizar os sistemas e mudou o seu management. Canellas, por exemplo, chegou do Itaú, onde coordenou a expansão dos escritórios íon. Desde que aterrissou na Rico, ele tem liderado a atualização de ferramentas, como o home broker, e a criação de novas features. E, segundo o executivo, outras entrarão no ar.

Será possível, diz Canellas, investir pelo cartão de crédito. Cadastrar para investir uma quantia mensal no cartão. “A pessoa já paga a fatura, isso ajuda a manter a disciplina. O produto terá investback também”, afirma o executivo.

Essa preocupação com a disciplina do investidor para criar uma cultura de investimento vai permear também a comunicação da empresa. Ela já tinha uma linguagem mais descontraída, criando relatórios com termos associados a personagens como Harry Potter. A ideia, entretanto, é intensificar isso.

“É preciso ter uma linguagem mais simples e acessível. Afinal, um quarto dos clientes que abrem conta na Rico têm até 24 anos”, diz Canellas. E prossegue. “A gente ainda tem muito financês. Vamos mudar isso”, diz Canellas. Como? “Quando você olha o app, tem lá cotização em D+3. Vamos colocar disponibilidade de recursos em três dias. É o que importa para essas pessoas”, diz Canellas.

Outra questão são as ferramentas. O mercado trabalha com portfólio, carteira, para um público mais financeiramente avançado. Não é o caso ainda da Rico, cuja maioria dos clientes tem cerca de R$ 10 mil.

Para engajar essa turma, a Rico vai criar investimentos por objetivo. Comprar casa, aposentadoria, estudar no exterior, comprar um carro, fazer um curso no exterior estão entre as opções. Mas o cliente poderá organizar os objetivos da forma que ele bem entender.

Apesar de Canellas dizer que o mercado olha pouco para esses clientes mais jovens ou que ainda têm recursos mais limitados para investir, players do mundo digital já conseguiram trilhar esse caminho e criar uma ponte com os jovens.

O Nubank, por exemplo, nasceu com um cartão de crédito para os jovens e foi aumentando o seu leque de produtos. Além de conta, já tem a operação de investimentos impulsionada pela compra da Easynvest, em setembro de 2020. O Neon também segue essa linha, o Next e o Inter, igualmente. O Itaú, por sua vez, usa o iti para atrair esse público.

Os bancos digitais, na verdade, fizeram as plataformas se mexer. Eles entraram com suas contas digitais e foram agregando investimentos. As plataformas, por sua vez, estão intensificando a entrada no segmento de banking.