A Universal e Warner, dois dos maiores estúdios de cinema do mundo, formaram uma joint venture para tentar salvar os filmes em discos DVDs.

A ideia parece fazer pouco sentido do ponto de vista mercadológico, já que, desde 2008, a venda desse tipo de entretenimento despencou 86%.

No seu auge, em 2005, a comercialização de DVD respondia por 64% de todo o mercado cinematográfico americano, movimentando US$ 16,3 bilhões, segundo dados da consultoria Nash Information Services. 

Mas a mudança de hábitos advinda da popularização dos serviços de streaming soava como um filme de terror para o setor.

Tanto que, em 2010, a demora em se adaptar à nova realidade sufocou o que foi a maior rede internacional de aluguel de DVDs, a Blockbuster. A empresa entrou com pedido de falência, alegando dívidas de US$ 900 milhões. 

Em contrapartida, as empresas de streaming, como Netflix, Hulu e HBO, experimentaram um aumento vertiginoso de 1.231% em suas receitas desde 2011, atingindo US$ 12,9 bilhões em 2019.

Atualmente, o nicho de DVD atinge 10% do mercado e movimenta US$ 2,2 bilhões, de acordo com a Nash Information Services. Parte desse volume vem, curiosamente, da própria Netflix, cujas atividades começaram com o aluguel de DVDs em 1998 – serviço que ainda existe e conta com 2,1 milhões de assinantes.

Embora o número pareça expressivo, ele contribuiu com "apenas" US$ 174 milhões dos US$ 1,8 bilhão que a Netflix lucrou em 2019, ficando na lanterninha de receita por serviço da companhia.

Cientes da queda constante da procura por DVDs, Universal e Warner insistem que a mídia faz sucesso entre um público específico, o colecionador, e que isso seria o suficiente para justificar o investimento.

Sem divulgar detalhes deste novo negócio, que deve entrar em vigor no começo de 2021, as gigantes confirmaram apenas que Eddie Cunningham, presidente da Universal Pictures Home Entertainment, está capitaneando o projeto. 

Para minimizar o custo da operação, os estúdios planejam dividir os lançamentos internacionais por países. Além disso, a ideia é que a Universal assuma a distribuição dos títulos da Warner na Alemanha, Áustria, Suíça e Japão, enquanto a Warner assuma a distribuição da Universal na Inglaterra, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

No seu auge, em 2005, a comercialização de DVD respondia por 64% de todo o mercado cinematográfico americano, movimentando US$ 16,3 bilhões

Não há informações sobre como e se esse serviço pretende contemplar a América do Sul.

Velhos hábitos não morrem 

Aparelhos de DVDs novos estão à venda por cerca de US$ 20 em lojas como Best Buy e Amazon, mas existem opções mais sofisticadas por US$ 130 nos Estados Unidos. Nos tempos de ouro desse formato de mídia, os valores dos equipamentos passavam com facilidade dos US$ 300. 

Quanto ao fiel público dos "filmes em discos", eles utilizam a mesma internet que "encolheu" sua paixão para sustentá-la. É que os cinéfilos em questão se organizam em fóruns e sites de leilão para dar continuidade e vazão às suas coleções.

No grupo do Facebook "DVD Netflix", mantido pela própria gigante de streaming, 153 mil usuários acompanham posts sobre clássicos do cinema e da televisão. Em grupos independentes, cerca de 2 mil e 3 mil usuários trocam dicas e informações sobre DVDs. 

Já no que diz respeito à revenda, páginas como eBay são as mais procuradas – e há raridades por lá. Um box com todos os 58 episódios da série The Monkees, exibida na TV americana entre 1966 e 1968, foi colocado à venda por US$ 1,2 mil. O preço original era US$ 199,98, já "inflacionado" por se tratar de uma edição limitada a 10 mil cópias. 

Outros itens não tão raros, como um box com os DVDs de "Os Caças Fantasmas", são negociados por US$ 300, o que indica que, além, de fiéis, esses cinéfilos estão dispostos a investir algumas centenas de dólares em seus títulos prediletos – o que pode dar um final feliz a essa nova aposta da Universal e Warner.

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