Em tempos normais, a temporada de premiações do cinema provocaria uma verdadeira corrida às salas de cinema. É um clima que contagia até quem não é cinéfilo de carteirinha. A pandemia, no entanto, mudou os planos de toda a indústria. Com muitos cinemas fechados, a alternativa é “maratonar” nas plataformas de streaming.

A boa notícia é que a maioria das produções indicadas está disponível em alguma plataforma. Netflix e Amazon Prime vinham ganhando espaço nessas premiações há algum tempo, mas o cenário de isolamento social acabou acelerando essa tendência.

No caso do Globo de Ouro, a primeira grande premiação, que acontece no dia 28 de fevereiro, os dois filmes com maior número de indicações são produções da Netflix. Um deles é Mank", filme de David Fincher sobre o roteirista de Hollywood Herman J. Mankiewicz. O segundo é "Os 7 de Chicago", de Aaron Sorkin, sobre o julgamento verídico de manifestantes americanos no final dos anos 1960. Os dois receberam seis e cinco indicações, respectivamente.

A Amazon Prime Video também tem alguns de seus filmes indicados. "Uma Noite em Miami", estreia da atriz Regina King na direção, aparece em três categorias. "Borat", com Sacha Baron Cohen, também. "O Som do Silêncio" rendeu ao ator Riz Ahmed uma indicação para melhor ator de drama.

Duas produções da Disney+, que nesta semana superou a marca de 95 milhões de usuários globalmente, também foram indicadas. A animação "Soul" e a adaptação do musical "Hamilton", da Broadway, são as apostas do serviço. Elas concorrem em duas categorias cada.

Nem tudo, no entanto, está disponível online. "Nomadland", uma das principais apostas dos críticos americanos, só chegará ao Brasil às vésperas do Oscar, em meados de abril. "Meu Pai", com Anthony Hopkins, também só estreará nas salas físicas.

"Algumas distribuidoras estão segurando seus lançamentos", diz Eduardo Nasi, jornalista que criou o Boletim do Meteoro, uma newsletter semanal só com indicações de filmes disponíveis nas diversas plataformas de streaming. "Elas esperam que o Oscar tire algumas pessoas de casa".

A animação "Soul" está disponível na Disney+

Quando o assunto é série de TV, a Netflix domina o Globo de Ouro. "The Crown" é a favorita, com seis indicações. Mas a plataforma foi representada por outras cinco produções; "Ozark", "Ratched", "Nada Ortodoxa", "O Gambito da Rainha" e "Emily em Paris".

Sem uma grande série como "Game of Thrones" sendo transmitida, a HBO aparece de maneira tímida, com "The Undoing" e "The Flight Attendant". Apenas a primeira pode ser assistida por aqui, pelo serviço HBO Go ou pelo Now. A segunda faz parte do catálogo da HBO Max, que chega ao Brasil em junho.

"Schitt’s Creek", que costuma levar uma série de prêmios nas categorias de comédia, recebeu cinco indicações e pode ser vista no Now ou no Amazon Prime Video, por meio de seus Prime Channels, conteúdos oferecidos por um valor adicional.

A lista oficial dos concorrentes ao Oscar só será divulgada em março, mas os críticos já apontam que os serviços de streaming devem dominar os indicados deste ano. "Os 7 de Chicago" é uma das maiores apostas, bem como "Relatos do Mundo", com Tom Hanks e Helena Zengel, que acaba de chegar à Netflix, e “O Som do Silêncio”.

Essa é uma percepção que ganha força com a lista de pré-selecionados em várias categorias que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, divulgou nesta semana. A Netflix domina categorias como maquiagem, trilha sonora original, efeitos visuais e documentário. Disney+ e Amazon Prime Video também conseguiram emplacar concorrentes importantes em categorias como documentário.

As plataformas de streaming, no entanto, ainda não ganharam o Oscar nas categorias mais importantes. A Netflix chegou perto com "Roma" de 2018, de Alfonso Cuarón, premiado como melhor filme estrangeiro, melhor fotografia e melhor diretor.

"Uma Noite em Miami", da Amazon Prime Video

“O Oscar está demorando para premiar um desses serviços”, diz Nasi. “O streaming tem muito dinheiro para investir em produções ousadas e tem a vantagem de não precisar mostrar quando um filme é um fracasso. Hollywood nunca premia fracassos”.

A Netflix, por exemplo, só divulga os números de audiência quando quer, em geral quando algumas de suas produções vão muito bem. Sem divulgar dados de maneira recorrente, é impossível saber se “Mank”, por exemplo, teve um bom desempenho. É o tipo de produção que dificilmente seria feita por um grande estúdio de Hollywood: é cara, toda em preto e branco e com um apelo limitado para o público. Foi feito de olho no Oscar.

Nessa briga do streaming pela relevância cinematográfica as empresas estão dispostas a investir muito para conseguir um título exclusivo. O caso mais recente envolveu a disputa entre Apple e Amazon pelos direitos de “Coda”, drama que venceu o festival de Sundance, nos Estados Unidos. A Apple levou a melhor, desembolsando US$ 25 milhões para exibi-lo em sua plataforma - e estabelecendo um novo recorde de valor pago por uma produção no festival.