Em cinco temporadas de “Better Call Saul”, a tão esperada participação especial dos atores Bryan Cranston e Aaron Paul, de “Breaking Bad” (2008-2013), nunca aconteceu. E talvez não ocorra nem na sexta e última temporada da “spin-off”, que começa a ser rodada quando a pandemia der trégua.

Pelo menos é isso que Peter Gould, o produtor da série exibida no Brasil na Netflix, dá a entender. “Better Call Saul” não precisaria da aparição dos personagens ilustres da série original por ter méritos próprios. E nisso ele tem razão.

Desde que estreou, em 2015, a série desponta como um caso raro na indústria do entretenimento. É um “spin-off” (um desdobramento de um programa anterior) tão bom ou melhor que o original. Já recebeu 32 indicações ao Emmy e três ao Globo de Ouro.

Figura em um clube seleto, ao lado de “Frasier” (1993-2004), em que o psiquiatra de rádio veio do elenco de “Cheers” (1984-1993). “Daria” (1997-2001), a série de animação derivada de “Beavis and Butt-head” (1993-2011), é outro exemplo.

“O que temos planejado para a nossa última temporada são coisas nunca feitas antes”, contou Gould, afastando a ideia batida de participações especiais. De sua casa em Los Angeles, o comandante da série participou de evento online sobre “Better Call Saul”, com cobertura do NeoFeed.

“Tudo vai se desenrolar naturalmente, levando em conta o que já aconteceu na série e onde a história parou na temporada anterior”, disse Gould, sem dar mais detalhes sobre o que vem por aí.

Ainda não há previsão de estreia da última temporada de “Better Call Saul”, que também funciona como uma “prequel”. Ambientada antes dos acontecimentos de “Breaking Bad”, a trama aqui deve mergulhar ainda mais profundamente na psique dos próprios protagonistas.

Não faria mesmo sentido resgatar neste momento os traficantes de metanfetamina do programa anterior. Afinal, o público já ama igualmente (ou até mais) o advogado de quinta categoria Jimmy McGill (interpretado por Bob Odenkirk) e a sua companheira Kim Wexler (Rhea Seehorn), com conduta profissional aparentemente mais rígida.

Só a escolha por parte dos criadores da série (Gould e Vince Gillian) de seguir Jimmy McGill no “spin-off” já representou um primeiro passo na direção do sucesso. Foi acertada a decisão de destacar um personagem menor da série original, mostrando que o advogado curiosamente também teve um arco – até se transformar em Saul Goodman.

Mas sua trajetória é diferente daquela de Walter White (Cranston), o professor de química que, após ser diagnosticado com câncer, enveredou pelo submundo das drogas.

“Não é a história de um cara que, ao ser atingido por um raio, se torna uma pessoa diferente”, disse Gould, referindo-se ao advogado insignificante que será o preferido dos criminosos. “O personagem está tentando diferentes identidades, procurando a que melhor vai funcionar”.

Ainda que o mais óbvio fosse mostrar Jimmy liberar a sua faceta mais obscura, não foi nisso que a série apostou nas temporadas anteriores. “Jimmy está aceitando que também é Saul, o que ele tenta conscientemente compartimentar”, afirmou Bob Odenkirk, que também participou do evento. “Ele pensa que, se for Saul no trabalho e Jimmy em casa, tudo ficará bem. Mas ele já percebeu que esses dois podem se sobrepor de maneiras perigosas e assustadoras.”

Outro ponto que contribuiu para “Better Call Saul” nunca ficar à sombra de “Breaking Bad” foi a história ter seguido o seu curso, quase de forma independente. “No início, acho que não pensamos na série como uma história de amor, mas ela se tornou uma”, contou Gould.

Conforme o advogado se aproxima cada vez mais do precipício, ao aceitar trabalhar para o cartel de drogas, o foco cai sobre o impacto da decisão no relacionamento com Kim. Pela personagem não estar no elenco de “Breaking Bad”, seria fácil deduzir que a advogada teria um destino trágico, como um dano colateral por estar ao lado do protagonista.

O caminho, no entanto, não parece ser esse, à medida que Kim se mostra mais inclinada a quebrar as regras, tanto quanto o companheiro. É uma jogada de mestre, surpreendendo o espectador que passou as primeiras temporadas preocupado com o que podia acontecer com Kim, por culpa de Jimmy.

“É muito divertido ter que fazer acrobacias mentais para entender os personagens”, afirmou a atriz Rhea Seehorn. “Ao receber os roteiros, fico tão surpresa quanto uma fã. Ao analisar mais atentamente, no entanto, dá para ver de onde isso veio, uma prova da genialidade de nossos escritores.”

Para Gould, aí está a graça da série. “Esperamos que os personagens continuem nos surpreendendo, mas não de forma arbitrária”, disse ele. O segredo está em deixar o personagem fazer uma escolha ou ter um comportamento inesperado, desde que isso ainda faça sentido no enredo. “O melhor momento é quando as peças do quebra-cabeça se encaixam.”

Bryan Cranston é um admirador confesso de “Better Call Saul”. “O que mais gosto é o fato de eu sentir uma familiaridade com ‘Breaking Bad’, embora se trate de uma história diferente”, afirmou o ator, durante um evento em Berlim.

Assim como fez em “Breaking Bad”, Cranston poderia ter dirigido alguns episódios do “spin-off”, a convite de Gillian. “Só que a minha agenda nunca permitiu”, contou ele, lembrando que “foi melhor assim”. “Como fã, não gostaria de saber com antecedência o que vai acontecer. Prefiro ver na TV.”

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