Inquestionável em outros tempos, quando dominava, com sobras, o mercado de chips, a americana Intel já não goza do mesmo prestígio. E essa mudança se traduz no mercado de capitais. Nos últimos 12 meses, por exemplo, o preço das ações da fabricante de semicondutores, avaliada em US$ 182 bilhões, caiu mais de 26%.

Disposto a virar esse jogo, Pat Gelsinger, CEO da empresa, tenta agora sinalizar ao mercado uma perspectiva mais positiva no médio e longo prazo. Apesar de ainda prever um crescimento moderado da operação neste ano, ele projeta que a recuperação da empresa ganhe, de fato, tração a partir de 2023.

Nessa retomada, a expectativa é que a empresa volte a reportar um crescimento de receita de dois dígitos, entre 10% e 12%, em um prazo de três a quatro anos. E que consiga sustentar esses patamares daí para frente.

A tarefa não será fácil. Em 2021, a receita da empresa cresceu apenas 1%, para US$ 79 bilhões. A companhia fechou o ano com lucro líquido de US$ 19,9 bilhões, 5% menor do que em 2020. O resultado foi pior no quarto trimestre, quando o lucro despencou 21%, para US$ 4,6 bilhões.

Uma das respostas da Intel, ao que tudo indica, é ir às compras. Nesta semana, a empresa desembolsou US$ 5,4 bilhões para adquirir a israelense Tower Semiconductor, especializada em chips de radiofrequência, sensores de imagem e peças de gerenciamento de energia.

Com o acordo, a ideia é acelerar o plano de produzir chips para outras empresas. O mapa de produção é justamente um dos pilares para essa recuperação. Em 2021, Gelsinger anunciou o plano de investir mais de US$ 100 bilhões em fábricas de semicondutores.

Como parte desses esforços, em janeiro, a empresa divulgou um aporte de US$ 20 bilhões para a construção de uma nova unidade em Ohio, nos Estados Unidos. Segundo a Intel, esse será o maior complexo de produção de chips do mundo e irá gerar 3 mil empregos.

Em outra frente, um dos próximos passos da companhia pode envolver outra gigante do mercado de chips, a britânica Arm, cuja venda bilionária para a Nvidia não foi adiante. “Se um consórcio surgir, provavelmente seríamos favoráveis a participar dele de alguma forma”, disse Gelsinger, em entrevista à agência Reuters, na quinta-feira.

Segundo o CEO, a criação de um consórcio para controlar a Arm começou a ser discutido antes mesmo de a Nvidia fazer uma oferta pela fabricante. Com o fracasso dessa negociação, que se estendeu até o início deste mês, por conta do escrutínio de órgãos antitruste, a Arm segue sob o guarda-chuva do SoftBank, que agora cogita a saída do negócio por meio de um IPO.

A Intel também estuda o que fazer com a Mobileye, startup de carros autônomos adquirida pela empresa em 2017. O plano é manter uma participação no negócio, mesmo depois que a companhia concretize sua abertura de capital, o que, segundo Gelsinger, está bem encaminhado.

Com esses esforços, a empresa espera que o biênio 2025 e 2026 possa ser o período em que as margens brutas do negócio vão subir de 51% a 53% para algo entre 54% a 58%, conforme o ritmo de investimentos nas novas plantas for moderado.

Enquanto traça seus planos, a Intel segue vendo seus concorrentes avançarem. Na última terça-feira, por exemplo, a empresa encerrou o dia com um valor de mercado inferior ao da AMD, sua rival mais tradicional, pela primeira vez na história. A troca foi temporária e se deu pelo anúncio da compra da Xilinx, pela AMD, por US$ 49 bilhões.

Em 2020, a Intel já havia perdido o posto de maior empresa de chips em valor de mercado para a Nvidia, avaliada atualmente em US$ 580 bilhões. No ano passado, mais um baque. Dessa vez, com a Samsung, que superou a empresa em números de receita com a venda de semicondutores.

Um ano antes, o fim do acordo de fornecimento de processadores para a Apple, que decidiu montar seus próprios componentes para os MacBooks, foi outra baixa para a Intel. Segundo um levantamento do portal americano MarketWatch, os pedidos da Apple respondiam por um faixa entre 2% e 4% das vendas da Intel.