Com a mesma intensidade que registram picos e quedas em suas cotações, as criptomoedas atraem defensores e detratores. E o coro dos descontentes com esses ativos ganhou o reforço de uma voz importante no último fim de semana.

Em entrevista concedida a estudantes holandeses, no programa “College Tour”, Christine Lagarde, ex-presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atual presidente do Banco Central Europeu, não poupou críticas às criptomoedas.

“Minha avaliação muito humilde é de que isso não valem nada”, afirmou Lagarde, em programa que foi ao ar no último sábado, 21 de maio. “É baseado em nada. Não há um ativo atrelado para atuar como uma âncora de segurança.”

Durante a conversa, Lagarde pediu aos reguladores globais que estabeleçam regras para proteger pessoas sem experiência que fazem grandes investimentos em criptoativos.

“O que realmente me preocupa quando se trata de criptoativos é que esses investimentos sejam feitos por pessoas que têm os olhos bem abertos sobre o fato de que podem perder tudo”, disse Lagarde. “E é por isso que acredito que isso deve ser regulamentado.”

As críticas de Lagarde chegam em um momento no qual as criptomoedas enfrentam forte desvalorização no mercado. Os dois principais ativos nesse espaço ilustram bem esse contexto. O Bitcoin acumula baixa próxima de 37% no ano, enquanto o Ethereu recuou mais de 45% no mesmo intervalo.

Lagarde já havia disparado sua “artilharia” contra as criptomoedas em outras oportunidades ao bater na tecla da regulamentação relacionada ao bitcoin, a moeda digital mais popular. Em 2021, ela afirmou que não considerava o ativo uma moeda real e disse que os bancos centrais não a manteriam em suas reservas tão cedo.

Ao mesmo tempo, ela também já manifestou, em outras oportunidades, sua preocupação em relação ao impacto ambiental das moedas digitais, assim como seu uso potencial em práticas como lavagem de dinheiro.

Isso não impede, no entanto, que o próprio Banco Central Europeu esteja trabalhando em uma alternativa digital. Lagarde ressaltou, porém, que um potencial “euro digital” seria muito diferente das criptomoedas disponíveis no mercado.

Outros nomes de peso no mercado financeiro global seguem a mesma linha crítica de Lagarde. Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan, é um dos que já deixaram claro em diversas oportunidades suas restrições e sua opinião sobre esses ativos.

No fim de 2021, por exemplo, o executivo afirmou em entrevista ao programa “Axios on HBO” que o Bitcoin era “um pouco de ouro de tolo” e precisava ser regulamentada pelos governos. Em maio do mesmo ano, ele já havia dito que não se importava e não tinha interesse na criptomoeda.

O megainvestidor Warren Buffett é mais um do grupo de não-simpatizantes desses ativos digitais. O “Oráculo de Omaha” já usou termos como “ilusão inútil” e “veneno de rato ao quadrado” para se referir ao Bitcoin.

Essas e outras afirmações provocaram uma reação recente de outro nome não menos importante do mercado: Peter Thiel, fundador do PayPal e da Palantir, e primeiro investidor do Facebook. Em abril de 2022, durante a conferência Bitcoin 2022, ele disparou contra Buffett, Dimon e outros gigantes do mercado financeiro, como Larry Fink, CEO da BlackRock.

Entre outros termos, Thiel disse que Buffett era o o “inimigo nº 1” do bitcoin e chamou o fundador da gestora Berkshire Hathaway de “vovô sociopata de Omaha”. Ele ainda colocou Dimon e Fink no mesmo barco, ao dizer que o trio integra uma “gerontocracia financeira”, que se opõe ao “movimento revolucionário da juventude”.

À parte dessas “trocas de gentilezas”, no Brasil, não são poucas as empresas relevantes que estão investindo nesse espaço. Há duas semanas, XP e Nubank, por exemplo, anunciaram suas estreias nesse mercado com plataformas de criptomoedas.

Antes da dupla, o segmento já havia atraído o interesse e os investimentos do BTG Pactual, que lançou a plataforma de negociação de criptoativos Mynt, e da Avenue, companhia americana criada pelo brasileiro Roberto Lee, que fundou a corretora Clear, comprada pela XP.