O ano de 2021 começou bem diferente do que esperava. Logo na primeira semana, peguei Covid, com direito ao pacote completo: febre, perda de olfato e de paladar e pneumonia viral.

Confesso que não esperava que fosse assim. Faço muito esporte, não abuso na comida e na bebida e tomei um zilhão de vitamina D, própolis, zinco e o que se dizia bom para imunidade.

Mas um efeito colateral positivo também apareceu. Em momentos como esse, você se torna mais introspectivo e busca entender o que realmente é essencial na sua vida.

Depois que o Covid passou, fiquei com esse mantra de buscar o essencial em tudo. E refletir sobre ele nas várias dimensões da vida.

Como executivo, membro de conselhos de administração, coach de CEOs, empreendedores, atletas e jovens de alto potencial, foi natural que o tema liderança entrasse nessa reflexão.

Cheguei em quatro grandes pilares que decidi compartilhar com você.

1) Autoconhecimento

Um amigo e famoso headhunter me relatou que a competência mais requerida pelos conselhos de administração na seleção de CEOs é o autoconhecimento, superando conhecimento do mercado e track record de resultados.

Pode parecer estranho, mas nunca se deu tanto valor à capacidade de a pessoa se conhecer. Exemplos práticos dessa competência estão no conceito de potencializar as fortalezas e, principalmente, terceirizar as fraquezas. A fase do CEO super-homem entronizada em Jack Welch, da GE, não existe mais.

Ter a consciência daquilo que você não é bom e terceirizar no seu time ou buscar ajuda externa é fundamental para competir na melhor forma. Assim como entender como elevar as suas fortalezas para o potencial máximo, com cursos, treinamentos e mentorias. Você sempre pode ser melhor mesmo naquilo que já faz muito bem.

2) Capacidade de atrair e tirar o melhor dos melhores

Um CEO com quem trabalho estava resmungando sobre seu novo vice-presidente de marketing, que foi recém-contratado a peso de ouro e com um currículo estelar. “Não entrega, é inseguro e parece bem devagar. Esperava muito mais dele”, afirmou esse executivo.

Analisando a dinâmica da relação entre os dois, percebi que aquele CEO controlava cada movimento do seu novo contratado. E cada vez que ele propunha algo, fazia questão de “enriquecer” a ação com as suas ordens disfarçadas de sugestões.

Agregar valor demasiado, termo cunhado por Marshall Goldsmith, um dos coaches executivos mais respeitados no mundo para descrever esse comportamento nocivo, traz insegurança e, lógico, não tira o melhor do que um talento tem a oferecer.

Outro comportamento muito comum nos CEOs é querer ganhar todas. Muitos esquecem que a competição é com os concorrentes e não com seu próprio time. Sempre falo que é muito importante deixar o time ganhar algumas vezes e ressaltar isso publicamente. Isso traz um boost no engajamento e motivação para quem ganhou.

Acredito que os melhores talentos, aquelas pessoas que são capazes de dar um salto no desempenho de uma empresa, são movidos por quatro temas: reconhecimento, desafios, capacidade de aprendizado e autonomia/ impacto.

Não adianta atrair grandes talentos com altíssimo potencial e, como líder, não propiciar o melhor campo para eles jogarem.

3) Visão transformadora

Dentre as milhares definições de liderança, uma que me marcou foi que um grande líder é aquele que leva as pessoas aonde elas não iriam sozinhas.

Ter uma visão clara que inspire seus colaboradores é fundamental. Construir e fazê-la virar realidade nos planos de ação é outra história, segundo Hermínia Ibarra, professora de lideranca do Insead e uma maiores especialistas em change management do mundo.

Segundo ela, são necessários pontos importantes para que, como líder, você crie e implemente uma visão transformadora. Construir uma ponte entre o mundo externo e sua empresa, bem como engajar os colaboradores no processo, comunicando incessantemente e sendo um exemplo da mudança que você quer provocar, são alguns deles.

4) Deep intent

Ouvi pela primeira esse termo em um curso para CEOs liderado por Didier Marlier, um suíço baiano que tem uma consultoria butique e atende grandes empresas no mundo todo.

Didier prega que sem essa automotivação profunda, o líder se perde, chora com as derrotas que vão acontecer e foge do seu objetivo principal.

Concordo que essa força motriz traz muita energia e resiliência. Ter a sua bem clara é fundamental. Um empreendedor cuja empresa já virou unicórnio me disse que seu deep intent é construir uma empresa brasileira que tenha um impacto no mundo tão relevante quanto o Google. Depois de dois rounds e uma série de planos, ele já deu os primeiros passos.

Uma quinta competência que permeia todos os quatro pilares acima é a capacidade de desidratação que um líder deve ter. Chamo assim pois você tem que garimpar o essencial e avaliar onde deve dedicar energia.

Verificar frequentemente se está se dedicando no que verdadeiramente importa é fundamental. E isso vale tanto no plano profissional quanto pessoal. Conduzir uma autorreflexão significa mais chances de performance e melhores resultados. Em todas as dimensões da vida.

*Sergio Chaia atua como coach de CEOs, empreendedores e atletas de alto rendimento. Foi chairman da Óticas Carol e CEO da Nextel. Atua como conselheiro da Daus e da Ri Happy. É também conselheiro e educador do Instituto Ser + , uma ONG voltada à recuperação de jovens em situação social de risco preparando sua inserção no mercado de trabalho. Autor do livro “Será que é possível?”