Em 2020, a Oyo, conhecida como o “unicórnio dos hotéis de baixo custo”, reduziu sua equipe no Brasil de 1,7 mil para 150 funcionários, especialmente por conta da pandemia. Agora, a startup, que já foi avaliada em US$ 10 bilhões, está enxugando ainda mais sua operação no País, citando, novamente, a extensão dos efeitos da Covid-19.

A Oyo não divulga o número exato dos cortes promovidos. Mas, conforme apurou o NeoFeed, a empresa está demitindo praticamente todo o seu quadro na América Latina - a startup opera também no México. No Brasil, a equipe contava atualmente com cerca de 100 pessoas. Todo o time local de operações já foi desligado nessa semana.

Henrique Weaver, que comandava a subsidiária brasileira, deixará o cargo no fim de fevereiro. Assim como as demais lideranças e gestores da companhia. As áreas jurídicas e de recursos humanos estão entre os departamentos que manterão uma estrutura mínima, com o objetivo de conduzir todos os trâmites para, até o fim do ano, encerrar a operação local.

Concentrada no Brasil e no México, países nos quais a Oyo desembarcou no primeiro semestre de 2019, a operação latino-americana ficará, a partir de agora, sob responsabilidade direta da matriz indiana.

No LinkedIn, há bancos de currículos sendo formados com profissionais que deixaram a operação. Entre aqueles que estão buscando recolocação, figuram funcionários de todas as áreas e níveis da companhia. O escopo passa, inclusive, por nomes que haviam retornado à empresa depois da primeira reestruturação realizada no ano passado.

“Eles voltaram a contratar e estavam com cerca de 100 vagas abertas até poucas semanas”, diz um ex-funcionário, que estava prestes a selar o seu retorno à companhia. “Mas, de uma hora para outra, bloquearam as contratações. No Brasil, não vai ficar ninguém.”

Em nota, a Oyo informou que a estrutura de atendimento a parceiros e hóspedes na região passará a ser feita a partir de um modelo de serviço exclusivamente digital. “Infelizmente, esta mudança no modelo de serviço significa que teremos que dizer adeus à maioria dos nossos companheiros de equipe que admiramos e valorizamos”, diz um trecho do comunicado que a startup divulgou ao mercado.

A Oyo acrescentou que, sob novo o formato, a joint venture formada com o Softbank, seu maior acionista, para a América Latina, deixará de ter efeito. A operação havia sido anunciada em setembro de 2020 e envolvia uma injeção de US$ 75 milhões para ajudar na retomada dos negócios na região.

“Não prevemos qualquer interrupção nas reservas já existentes durante esta transição e entraremos em contato com nossos hotéis parceiros, hóspedes e outras partes interessadas nos próximos dias com mais informações sobre a mudança”, acrescentou a empresa, na nota.

Banho de loja

Depois do Airbnb, a Oyo talvez seja o nome de maior destaque entre as startups que surgiram no espaço do turismo nos últimos anos. Fundada em 2013 por Ritesh Agarwal, a empresa indiana captou, desde então, US$ 3,2 bilhões. Além do Softbank, sua lista de investidores inclui fundos como o Sequoia Capital e o próprio Airbnb.

A companhia atraiu esses e outros nomes de peso com um modelo no qual faz acordos com hotéis independentes, que passam por um “banho de loja” e adotam sua bandeira. Ao mesmo tempo, esses parceiros têm acesso a ferramentas de gestão e captação de clientes. Nesse formato, a Oyo ganha uma comissão em cada reserva gerada.

Com essa proposta, a startup chegou a uma base global de 43 mil hotéis, em mais de 800 cidades, em 80 países. Na América Latina, os últimos dados divulgados apontam para uma operação com 24 mil quartos e mais de mil hotéis.

A ascensão meteórica se refletiu também no rápido crescimento no Brasil. De um time formado, em meados de 2019, quando a empresa dava seus primeiros passos no País, por cerca de 50 funcionários, o quadro deu um salto para 1,7 mil profissionais nos meses seguintes.

Segundo um executivo que trabalhava na empresa na época, apesar da aparente bonança, já havia problemas na forma como o negócio era conduzido, com uma interferência extrema da matriz indiana e pouca autonomia aos executivos brasileiros.

“Existia uma certa prepotência em mostrar para o mercado que a operação era parruda”, afirma a fonte. “E, a partir dessa postura, havia coisas fora da realidade, como contratar pessoas de empresas do setor, como Accor, ganhando três vezes mais.”

Essa fartura ganhou ainda mais fôlego quando, no mesmo período, o WeWork, na época a maior estrela do portfólio do Softbank, fracassou em sua tentativa de abertura de capital.

“Internamente, o discurso que se vendia era de que, a partir daquele momento, a Oyo era a menina dos olhos do Softbank”, diz o executivo. Entretanto, essa fase durou pouco.

O IPO do WeWork jogou luz, entre outras questões, sobre o fato de a operação da empresa de escritórios compartilhados acumular seguidos resultados deficitários. E isso fez com que o Softbank passasse a exigir que todas as companhias do seu portfólio priorizassem a última linha do balanço.

Entre elas, a Oyo. Assim como o WeWork, a empresa tem um histórico de resultados no vermelho. O último balanço divulgado, em março de 2020, referente aos 12 meses anteriores, mostrou que o prejuízo da startup havia crescido de US$ 52 milhões para US$ 335 milhões.

“A operação da Oyo no  Brasil começou a não entregar resultados e o Softbank passou a pressionar cada vez mais”, diz o ex-funcionário. Como reflexo de todo esse contexto, na época, a empresa iniciou sua reestruturação, que foi aprofundada com a Covid-19. E que agora mostra sua faceta mais dura no Brasil e na América Latina.