O crediário é um produto tão presente na vida dos brasileiros quanto pão de queijo e brigadeiro. Mesmo com o avanço das fintechs trazendo novas soluções financeiras, o “bom e velho” carnê segue como opção para quem quer adquirir produtos, mas não consegue pagar à vista. 

Que o diga a Via, empresa nascida a partir da união de duas grandes varejistas com expertise nesse tipo de produto, Casas Bahia e Ponto. 

Mesmo tendo desenvolvido um portfólio de soluções financeiras, o crediário é uma parte central de sua estratégia, que vê o produto ganhando tração em meio à escalada da inflação no Brasil. 

“A Via tem como grande vantagem a possibilidade de conceder crédito [via crediário], adequando os preços ao aumentar as parcelas do item, cabendo no bolso do consumidor”, disse o CEO da companhia, Roberto Fulcherberguer, em teleconferência com analistas e investidores para falar sobre os resultados no primeiro trimestre. 

Pelo sétimo trimestre consecutivo, a Via registrou expansão de sua carteira de crediário. Ela cresceu 12% em relação ao primeiro trimestre de 2021, para R$ 5,2 bilhões, enquanto a perda sobre carteira ficou em 3,6%. 

No período, o crediário ficou disponível aos clientes de forma omnicanal - nas lojas, nos sites, no app e com vendedor online -, seja para compras feitas diretamente pela Via em sua plataforma digital ou através de vendedores terceirizados. Olhando para o crediário digital, a taxa de penetração passou de 4,1% para 6,3% das vendas online em 12 meses. 

“Vemos a penetração do crediário no 3P [vendedores terceirizados da plataforma] ganhando força, sendo que ele começou a ser disponibilizado no quarto trimestre”, afirmou Fulcherberguer. 

O segmento financeiro é uma das apostas da Via para fidelizar e captar novos clientes e também mitigar os efeitos da inflação sobre o poder de compra dos consumidores. 

No começo do ano, a Via registrou um crescimento de 33% na quantidade total de clientes de suas ofertas financeiras, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, para 11,5 mil, com avanço de 14% no número de clientes ativos, a 8,5 mil. 

Olhando para o lado operacional, Fulcherberguer viu melhoras significativas das vendas da Via desde o começo do ano, quando o fluxo de clientes às lojas foi prejudicado pela variante ômicron da Covid-19.  “Na segunda metade de fevereiro, o tráfego de clientes melhorou de forma relevante, com março e abril sendo ainda melhor”, afirmou. 

Ele destacou que o Dia das Mães foi o melhor dia de vendas registrado pela Via desde 2018, excluindo o Black Friday.  “O consumidor está voltando e estamos cada vez mais aproveitando as vantagens que a omnicanalidade nos traz”, disse. “A recuperação está se dando nacionalmente, não é puxado por alguma praça específica.”

Resultado 

A Via fechou o primeiro trimestre com um lucro líquido operacional de R$ 86 milhões, queda de 52% em relação aos mesmos três meses do ano anterior, quando registrou um ganhos não recorrentes. Em termos comparáveis, o lucro operacional cresceu 36,5%. 

Já o resultado contábil, que inclui contingências trabalhistas, mostrou uma queda de 90%, para R$ 18 milhões. A receita líquida recuou 2%, para R$ 7,4 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado aumentou quase 30%, para R$ 758 milhões, com a margem indo de 7,7% para 10,2%.

O ganho de margem foi considerado pelos analistas do Itaú BBA como o ponto alto de um resultado ligeiramente positivo. Eles destacaram a redução de 13% das despesas gerais e administrativas no período e ganhos obtidos com produtividade nas lojas. 

O BB Investimentos também citou o ganho de margem operacional como ponto positivo no trimestre, ajudando a compensar em parte o aumento de mais de 50% das despesas financeiras líquidas. 

Por volta das 13h26, as ações da Via recuavam 3,34%, a R$ 2,60. No ano, as ações da companhia acumulam queda de 48%, fazendo com que o valor de mercado atinja R$ 4,1 bilhões.