Las Vegas - Dois coelhos numa cajadada só – e sem sacrificar sequer um único animal: a Impossible Foods lançou na CES 2020 sua carne de porco e salsicha a base de plantas. 

Esses são os primeiros produtos apresentados pela companhia desde 2016, quando revelou o famoso hambúrguer vegano, que já está disponível em mais de 17 mil restaurantes e algumas redes de supermercado nos Estados Unidos.

Aliás, desde que chegou ao varejo, em setembro do ano passado, o Impossible Burger se tornou o item embalado mais vendido da cadeia de supermercados Gelson's, popular no sul da Califórnia. 

O apetite pelas novidades da Impossible Foods explicam as doses generosas de investimentos. Desde sua fundação, em 2011, a empresa já levantou US$ 687,5 milhões, de acordo com dados do Crunchbase. A última rodada de investimento, série E, liderada pela Horizons Ventures e Temasek Holding, arrecadou US$ 300 milhões, em maio do ano passado.

De certa maneira, a Impossible Foods parece seguir a mesma receita de sua concorrente, a Beyond Meat, que levantou US$ 800 milhões em investimentos antes de abrir seu capital. A estreia da "rival" na Nasdaq aconteceu em maio, e seu desempenho na bolsa não é exatamente exemplar.

Os papéis da Beyond Meat debutaram valendo US$ 65,75 e saltaram para US$ 234,90 cerca de três meses depois. A partir da máxima histórica, a queda foi vertiginosa até encontrar sua estabilidade em novembro, oscilando entre US$ 73 e US$ 81. Hoje, as ações são vendidas por US$ 74,59.

A Impossible Burger pode até estar no ponto certo para também abrir seu capital e aumentar o menu de Wall Street, mas essa carne vegana tem um osso duro de roer: o CFO da empresa, David Lee.

"Nosso trabalho de levantar investimento tem sido tão fácil com a demanda global que, às vezes, acho que sempre iremos por esse caminho", declarou Lee, no palco da CES, mostrando que a pressa, até a de abrir capital, pode ser um prato que se come cru.

"Nosso trabalho de levantar investimento tem sido tão fácil com a demanda global que, às vezes, acho que sempre iremos por esse caminho", diz David Lee, o CFO da Impossible Foods

Ao seu lado, Pat Brown, um ex-professor de Stanford que largou a carreira acadêmica na universidade para fundar a Impossible Foods, em 2011, validava as falas do colega com um discreto aceno com a cabeça.

Brown, que é o CEO da companhia e vegetariano desde a década de 1970, é "esfomeado" pelo assunto e compartilhou sua visão - quase utópica - para a indústria. "Em 2035, carnes de animais serão algo completamente do passado".

Parte de sua previsão tem a ver com o presente, já que a carne de porco é a mais consumida no mundo. "E seria ainda maior se um terço da população não tivesse que excluir esse item do cardápio por questões religiosas ou culturais", lembra. 

Com essa opção vegana de "carne" de porco e salsicha, a Impossible Foods abocanha ainda o riquíssimo mercado de produtos halal, que movimenta US$ 2,5 trilhões no mundo, e de comida kosher, que movimenta mais de US$ 150 bilhões apenas nos Estados Unidos. 

Apesar das possibilidades quase infinitas para seus novos produtos, Brown diz que a estratégia da empresa não deve mudar.  "Nossas vendas só valem se elas significarem que um animal foi poupado. Claro que outros mercados e consumidores são bem-vindos, mas nosso foco; nossa missão é acabar com o consumo de carnes de animais no mundo", diz ele. Haja carne vegana para substituir as 300 milhões de toneladas de proteína animal consumidas anualmente no globo.

Para além de questões éticas, Brown sustenta sua "luta" com base em dados ecológicos, relembrando que a produção Natural de produtos desta natureza são insustentáveis. "Os maiores desafios modernos são o aquecimento global e o declínio da biodiversidade", aponta o executivo, lembrando que o cultivo de animais está diretamente ligado a isso. 

Pouco adianta, porém, salvar o mundo uma mordida por vez se o valor nutricional dos produtos não condizem com as necessidades humanas. Neste aspecto, a Impossible Foods diz se garantir. A empresa atesta que seu Impossible Pork não contém glúten nem nenhum tipo de hormônio, e que ainda assim oferece 16g de proteína, 3mg de ferro, 13g de gordura, 220 calorias e 7g de gordura saturada  – e zero colesterol. 

Sem detalhar planos de expansão, a Impossible Foods apenas confirmou mais um passo em sua parceria já vigente com o Burger King. A rede americana de fast food selecionou algumas de suas unidades para servir, a partir da semana que vem, o Croissan'wich, feito com a Impossible Sausage – a salsicha vegana. O item faz parte do cardápio de café-da-manhã da gigante, apenas nos Estados Unidos.

"A Impossible Burger ainda não tem as devidas autorizações para operar no Brasil", explica ao NeoFeed o CMO do Burger King, Fernando Machado. No País, a companhia trabalha com o hambúrguer vegano da Marfrig – mas e se a Impossible Foods entrar no Brasil? "Aí temos que conversar", diz Machado. 

Ao que tudo indica, porém, esse bate-papo não deve acontecer tão cedo, já que a empresa de carnes veganas parece estar mais dedicada agora a conseguir as devidas licenças para atuar na Europa. 

Enquanto parte de sua equipe se dedica às burocracias, Brown parece mais empenhado em expandir as linhas de produtos – e os peixes e frutos do mar podem ser sua próxima jornada. 

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