Faz pouco mais de um mês desde que os Estados Unidos anunciaram aumentos expressivos sobre bens importados. Mas o plano, que repercutiu negativamente entre empresários americanos e provocou uma fuga de capital do país, ainda levanta uma série de dúvidas.

Um estudo recente do Instituto de Pesquisa da BlackRock aponta um nível de incerteza sem precedentes quanto à política comercial dos EUA, enquanto a insegurança sobre o rumo da economia só encontra paralelo nos tempos da pandemia.

“Desde o fim de 2024, observamos que a política macroeconômica se tornou uma fonte potencial de disrupção – e acreditamos que isso se concretizou”, afirma a BlackRock, gestora americana com US$ 11,6 trilhões sob gestão.

Com as tarifas pausadas por 90 dias (exceto no caso da China), o mundo aguarda que negociações bilaterais arrefeçam a guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump. Caso contrário, alerta a gestora, os choques nas cadeias de suprimentos podem ser “altamente disruptivos”, como ocorreu durante a covid-19.

“O prolongamento das incertezas pode causar danos permanentes”, diz a BlackRock, que compara o momento ao do Brexit – quando o Reino Unido passou a atrair menos investimentos que outras regiões, como os próprios EUA e a Zona do Euro.

A incerteza em torno dos Estados Unidos levou investidores a questionarem até ativos historicamente considerados inquestionáveis. O maior exemplo é o dólar, que perdeu valor frente a moedas globais durante o movimento de aversão ao risco em abril. No mês, o DXY – índice que mede a variação do dólar contra moedas fortes – recuou 4,55%, a maior queda mensal em 30 meses.

“Isso é incomum em comparação com outros sell-offs. Os investidores podem repensar sua exposição ao dólar, já que seu status de refúgio está sendo colocado em xeque”, diz a gestora.

Riscos e oportunidades

A BlackRock também demonstra cautela com os títulos de dívida americana de longo prazo, para os quais mantém posição “underweight”. Segundo a gestora, inflação e juros mais altos, combinados a um nível já elevado de endividamento, fizeram o mercado perder confiança e criaram um “equilíbrio frágil” para as Treasuries. “Déficits orçamentários persistentes e fragmentação geopolítica podem elevar os prêmios.”

Na bolsa, o tom é um pouco diferente. Após a forte reação negativa às tarifas no início de abril, os principais índices de Nova York conseguiram se recuperar e encerraram o mês próximos do zero a zero. Para a BlackRock, há espaço para novas altas.

Embora reconheça que a incerteza política possa pesar sobre o crescimento e sobre os preços das ações no curto prazo, a gestora segue otimista com o desempenho da bolsa americana nos próximos 12 meses. “Ainda acreditamos que a economia e os lucros corporativos serão sólidos, sustentados por grandes tendências, como a inteligência artificial.”

No mercado de renda fixa, a avaliação é de que o crédito privado de curto prazo oferece uma melhor relação risco-retorno, graças aos spreads e aos menores níveis de alavancagem. Nesse segmento, a BlackRock prefere os títulos europeus aos americanos, por enxergar prêmios mais atrativos tanto no high grade quanto no high yield.