2024 tem o gosto de nozes, levemente terroso e adocicado. A textura é aveludada e a cor, de um roxo tão vibrante que até parece artificial. 2024 é o ano do ube –ou inhame roxo; Dioscorea alata, seu nome científico.
O tubérculo foi eleito o ingrediente do ano pela já tradicional pesquisa sobre tendências de sabores da gigante japonesa T. Hasegawa, uma das líderes globais de aromatizantes alimentares.
A escolha do ube se deve à sua versatilidade, como aponta o relatório Savoring the Future –Top Flavor Trends 2024. A raiz é considerada um alimento funcional, com alguns dos nutrientes essenciais ao bom funcionamento do organismo, ao mesmo tempo, em que oferece a indulgência, típica das comfort foods.
Rico em carboidratos complexos, minerais e vitaminas, com uma pegada exótica, o ube é a combinação perfeita para satisfazer as novas preferências dos consumidores e pautar os negócios da indústria alimentícia ao longo do ano, atestam os analistas da companhia fundada em Tóquio, em 1903.
Saudabilidade e prazer, aliás, são dois conceitos indissociáveis em 2024. A tendência, inclusive, já foi apontada em outros dois levantamentos, um da Mintel, agência global de inteligência de mercado, e o outro da Archer Daniel Midland (ADM), uma das maiores tradings agrícolas do mundo.
Tem mais. O tubérculo pode ser usado tanto no preparo de pratos salgados quanto no de sobremesas e bebidas. Sua tonalidade e doçura o transformam em aromatizante natural dos mais polivalentes, um coringa para os fabricantes de alimentos.
Nativo do sudeste asiático, especificamente das Filipinas, o ube é usado na alimentação humana há pelos menos 12 mil anos. Vestígios dos alimento foram encontrados, no fim dos anos 1990, no sítio arqueológico de Ille Cave, no norte de Palawan, uma das 7.641 ilhas do arquipélago filipino.
Digno das redes sociais
Não à toa, a raiz está na base da cultura alimentar do país. Cozido, ralado e misturado com leite de coco e açúcar, o ube halaya é a sobremesa típica filipina, entrando na composição de pudins, bolos e sorvetes. Na versão salgada, pode ser servido como purês, nhoques, sopas e até molhos.
Já como bebida, o tubérculo é ingerido sob a forma de lattes, milk-shakes e chás. Com um pouco de leite e bolinhas de tapioca que explodem na boca, o ube bubble tea é sucesso entre os jovens.
Doce, salgado ou sob a forma de beberes, nos últimos anos, o ube vem conquistando o Ocidente. Agora, eleito o ingrediente de 2024, chegou ao ápice desse movimento.
O sucesso do alimento não foi construído apenas sobre seu sabor, versatilidade e valor nutricional. “A tonalidade roxa vibrante é ideal para a criação de pratos e bebidas dignos do Instagram”, lê-se em Savoring the Future –Top Flavor Trends 2024. Pois é, o alimento ideal do futuro deve também se prestar a fotos, vídeos e dancinhas nas redes sociais.
Sabores que ficam
Pesquisas como a da Hasegawa servem para atualizar e orientar a indústria alimentícia em relação às preferências dos consumidores. Dessa forma, o levantamento da companhia japonesa vai além da simples eleição do ingrediente do ano.
Os especialistas da Hasegawa apontam também para tendências do passado que devem ainda se manter no futuro.
No capítulo “paladar”, permanecem em alta a pimenta cereja, o xarope de bordo e o caramelo salgado, nas primeiras três posições dos sabores mais populares.
Mas a pimenta poblano, o furikake e a lavanda continuam com espaço garantido em 2024. Bem como as frutas cítricas asiáticas laranja-de-sangue e yuzu.
Os mais-mais da saúde
Entre os ingredientes com foco na saúde, o levantamento destaca nove alimentos e nutrientes. No primeiro grupo estão alguns velhos conhecidos como as algas marinhas, o grão de bico, o amendoim bambara e as favas. Ricos em proteínas e fibras, podem tanto ser consumidos diretamente, das mais diversas formas, quanto servem de base para a indústria plant-based, na formulação de produtos vegetais semelhantes aos de origem animal.
Ainda pouco difundidos são a planta astrágalo, com impacto no sistema imunológico, e a okara, subproduto da soja, associada ao controle do colesterol e da glicose. Há também o koji, fungo usado originalmente nas culinárias chinesa e japonesa para a fermentação de diversos alimentos e bebidas, com benefícios para a saúde da pele e dos cabelos.
Na categoria dos nutrientes, entram a colina, encontrada sobretudo na gema do ovo; a micoproteina, obtida também de fungos, e a vitamina D, proveniente dos laticínios e peixes, como o salmão e o atum.
Reflexo da condenação do aspartame como substância potencialmente cancerígena, em julho do ano passado, os adoçantes naturais começaram a ganhar espaço na indústria alimentícia. Deles, o Savoring the Future –Top Flavor Trends 2024 cita a alulose.
Um dos chamados açúcares raros, é encontrado em quantidades reduzidíssimas em determinados alimentos, como figo, trigo e passas. Edulcorante de baixa caloria, tem 70% da doçura do açúcar. Várias empresas do ecossistema de inovação foodtech vêm estudando uma forma de escalar a produção da alulose –e, assim, reduzir seus custos.