Em 2018, o empresário Jorge Paulo Lemann disse em um evento nos Estados Unidos que era um dinossauro apavorado. Em julho deste ano, ele reconheceu, durante uma apresentação no Experts, evento da XP Investimentos, que havia evoluído e podia ser classificado como “um dinossauro se mexendo”.
Na ocasião, ele revelou que investia na Brex, startup que desenvolve um cartão de crédito para startups nos Estados Unidos, fundada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi. Ele confirmou também seus investimentos na Stone, empresa de meios de pagamento que abriu o capital na Nasdaq, e na Movile, dona do iFood.
Lemann, que tem participação indireta na B2W, dona das marcas Submarino e Americanas.com, por meio da Lojas Americanas, está prestes a ser sócio de um novo negócio digital na área financeira.
Trata-se da Ame Digital, um aplicativo que surgiu como uma plataforma de cashback desenvolvida pela B2W, dona das marcas Submarino e Americanas.com, mas que evoluiu rapidamente para se transformar em um ecossistema de pagamento completo.
O aplicativo Ame Digital será uma empresa independente até o fim de agosto, informou Fábio Abrate, diretor financeiro e de relações com investidores, durante teleconferência de apresentação dos resultados, nesta sexta-feira, 9 de agosto.
“Com a abertura da empresa, esperamos acelerar o business plan da Ame”, disse Abrate, durante a teleconferência. “É um marco que vai permitir a entrada em diversas outras áreas.”
No fim de julho, a B2W e a Lojas Americanas confirmaram, em um comunicado ao mercado, que haviam chegado a um acordo sobre a estrutura societária das duas empresas na Ame Digital.
Segundo o comunicado, a Lojas Americanas ficará com 56,92% e a B2W, com 43,08% da nova empresa. “As companhias entendem que esta estrutura societária possibilitará a aceleração do desenvolvimento da Ame, maximizando suas frentes de negócios”, informava a nota, enviada ao mercado.
Durante a apresentação aos investidores, Abrate disse que assim que tiver o seu CNPJ, a Ame dará entrada no Banco Central para obtenção de uma série de licenças – o executivo não especificou quais.
Sobre os recursos financeiros para a nova empresa, ele foi claro. “Todas as necessidades de funding serão suportadas pelas duas companhias, segundo suas respectivas proporções na empresa.”
Abrate não descartou ainda um sócio à operação. “Se entendermos que em algum momento faz sentido trazer e acomodar algum outro investidor, vamos analisar”, afirmou o executivo. “Trazer um parceiro estratégico pode ser importante para a aceleração da Ame.”
Crescimento acelerado
A Ame Digital surgiu como uma iniciativa da IF – Inovação e Futuro, braço de inovação da B2W. Com pouco mais de um ano de vida, o aplicativo já atingiu a marca de 3,2 milhões de downloads no segundo trimestre deste ano – há três meses, eram 1,2 milhão.
No início, ele foi usado como uma estratégia de desconto para atrair clientes aos sites da B2W, como o Submarino e a Americanas.com. Quem comprava usando o aplicativo, conseguia uma parte do dinheiro de volta, no que é conhecido como cashback.
A Ame Digital permite pagar contas, boletos, fazer a recarga de celular, fazer empréstimos pessoais e até realizar depósitos nas lojas físicas
Mas, de forma rápida, a Ame Digital foi acrescentando uma série de recursos e migrando para o mundo físico. A conta digital do aplicativo permite pagar contas, boletos, fazer a recarga de celular, empréstimos pessoais e até realizar depósitos nas lojas físicas.
Hoje, a Ame Digital pode ser usada em 774 lojas físicas da Lojas Americana. Até o fim do ano, será aceita em todas as mais de 1.500 lojas da rede varejista.
Os recursos também avançaram de forma acelerada. Os usuários do aplicativo podem agora pagar corridas do Cabify, rival da Uber e da 99, ou o Bilhete Único no transporte coletivo de São Paulo. Os vendedores do marketplace da B2W também podem aceitar receber pelo aplicativo.
“Estamos uma fase avançada de negociações e implementações com outros parceiros”, disse Abrate, sem revelar detalhes sobre esses novos acordos.
Competição
A fintech de Lojas Americanas e B2W se torna independente em um momento de grande concorrência e de diversas iniciativas na área financeira.
Uma das mais avançadas é o Mercado Pago, do Mercado Livre, que teve, pela primeira vez na história, mais transações do que o marketplace em julho deste ano.
Em entrevista exclusiva ao NeoFeed, o COO do Mercado Livre, Stello Tolda, revelou os planos do Mercado Pago para oferecer seguros, investimentos sofisticados e até competir com plataformas como a XP Investimentos.
Mercado Pago e PayPal serão concorrentes da Ame Digital
O PayPal, que conta com uma carteira digital aceita por muitos varejistas, tem também planos de acelerar sua operação no mercado brasileiro.
Neste mês, o NeoFeed revelou com exclusividade os planos da companhia para entrar no ramo de empréstimos no mercado brasileiro e até mesmo na guerra das maquininhas.
Ações sobem
Com os resultados do segundo trimestre de 2019, as ações da B2W subiam mais de 15% na B3, por volta das 16 horas, apesar de um prejuízo de R$ 127,6 milhões, 15,1% a mais do que o mesmo período de 2018.
O mercado gostou mais de outro dado: a companhia teve uma geração de caixa positiva de R$ 6 milhões. Parece pouco, mas é o melhor resultado em nove anos para o segundo trimestre.
Além disso, em relatório do BTG Pactual, o analista Luiz Guanais ressaltou o crescimento do volume transacionado pelo próprio site e pelo marketplace da companhia, que saltou 22%, atingindo R$ 3,9 bilhões.
“A B2W é uma das nossas escolhas preferidas para a recuperação econômica no segundo semestre”, escreveu Guanais. “Continuamos positivos na B2W no longo prazo.”
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