Acostumado a estar sob os holofotes de Wall Street, Bill Ackman voltou a chamar a atenção dos investidores quando, em maio deste ano, veio à tona o plano de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de um fundo fechado da Pershing Square Management, gestora fundada e comandada por ele, na Bolsa de Nova York (NYSE).
A oferta nasceu acompanhada da expectativa de se converter em um dos maiores IPOs de todos os tempos. Mas, dois meses depois, esse caminho da gestora, que tem cerca de US$ 18 bilhões sob gestão, segue um trajeto tortuoso. E, entre idas e vindas, aponta agora para um patamar bem mais modesto.
Em um documento protocolado na Securities and Exchange Commission (SEC) na terça-feira, 30 de julho, a Pershing Square informou que planeja levantar US$ 2 bilhões no IPO e que vai seguir adiante, “o mais rápido possível”, com os planos da oferta.
O valor significa uma expressiva redução na ambição de Ackman e de seus pares, que, inicialmente, planejavam captar US$ 25 bilhões na empreitada. A cifra em questão rivalizaria com o recorde da Saudi Aramco, cujo IPO, em janeiro de 2020, captou US$ 24,9 bilhões.
Essa não é a primeira vez que a gestora recalcula esse roteiro. Há quatro dias, em mais um capítulo de um processo que já ganha contornos de saga, a empresa adiou a oferta, prevista para acontecer nesta semana. E mais. Reduziu suas expectativas de captação para a faixa de US$ 2,5 bilhões a US$ 4 bilhões.
Um outro componente torna essa equação ainda mais complicada quando comparada às metas iniciais da Pershing Square. A gestora vai contribuir com US$ 500 milhões na oferta, o que significa que sua expectativa agora é atrair “apenas” US$ 1,5 bilhão de investidores externos.
Nesse pacote, a empresa pretende vender 40 milhões de ações, com o preço fixado em US$ 50 por papel. Segundo fontes próximas à gestora ouvidas pelo The Wall Street Journal, a previsão agora é de que as ações comecem a ser negociadas na próxima terça-feira, dia 6 de agosto.
O vaivém nesses planos mostra um teto bem menos ambicioso para a estratégia construída por Ackman para atrair os investidores. Figurinha carimbada no X, o antigo Twitter, ele tinha a rede social como uma das suas grandes apostas no percurso para tocar a campainha na NYSE.
A ideia de capitalizar sua fama no X foi expressa em encontros durante o roadshow da oferta. Nessas ocasiões, Ackman disse a potenciais investidores que seu alcance nessa mídia ajudaria a turbinar a oferta.
Ackman viu o número de seguidores crescer substancialmente e superar a marca de 1,3 milhão no X quando subiu o tom nas críticas ao presidente americano Joe Biden. E, mais recentemente, ao declarar seu apoio à candidatura de Donald Trump no pleito deste ano.
“Formei uma ampla base de seguidores institucionais e pequenos investidores que acompanham todos os nossos movimentos. O interesse da mídia é valioso para atrair o interesse do investidor e também criar liquidez para os nossos acionistas”, afirmou ele, em uma dessas ocasiões, segundo o Financial Times.
Além dessa notoriedade na rede social, outro expediente lançado por Ackman a investidores foi a promessa de realizar uma assembleia anual e presencial de acionistas com os investidores, nos mesmos moldes do encontro promovido todos os anos pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffet.
Ao mesmo tempo, seus discursos no roadshow foram marcados pela comparação do fundo com empresas que são negociadas a pelo menos duas vezes os valores contábeis de seus ativos. E pelos planos eventuais de comprar participações em companhias em seus IPOs.
Como parte dessa última estratégia, Ackman citou empresas como Starlink, X e SpaceX, todas elas comandadas por Elon Musk, e a Stripe, de pagamentos, como possíveis nomes que poderiam ter o fundo da Pershing Square como acionista âncora em suas ofertas públicas iniciais de ações.
Esses e outros artifícios não foram suficientes, porém, para que a gestora se aproximasse da sua projeção inicial na oferta, que conta com a assessoria de 30 bancos. Entre eles, os coordenadores Citigroup, UBS, Bank of America e Jefferies, além de nomes como o brasileiro BTG Pactual, conforme apurou o NeoFeed.
A redução das expectativas contou, inclusive, com um apelo feito por Ackman em carta enviada a investidores da gestora na semana passada, quando a Pershing Square anunciou a primeira redução na previsão de captação e na realização da oferta.
Ackman escreveu que “quanto mais cedo (participassem) melhor”, para fortalecer a operação. E afirmou que era muito importante que os bancos tivessem a percepção de que a demanda estava aumentando, para que pudessem repassar isso “às mesas de mercado de capitais de cada investidor institucional”.
Seus planos sofreram mais um revés, porém, no início desta semana. Segundo a agência Bloomberg, na segunda-feira, 29 de julho, o Grupo Baupost, de Seth Klarman, informou que decidiu não investir no fundo. A empresa foi justamente um dos nomes citados por Ackman na carta a investidores como um dos potenciais financiadores da oferta.